quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Três tempos

Liga o som, Patrícia.
Faz tempo que nao toca nada nele.

Exitiu um tempo, eu lembro, as melhores músicas e mais felizes.
Algumas, poucas, com seu charme down. Penso até que as melhores.

Acontece que ele nao tem tocado nada.
Tanto som ansiando por se propagar no espaço.
E nada.

Silêncio.

....

Mexeu no celular.
Já sabia o caminho: configurações -> mensagens -> mensagens gravadas.
Releu as mensagens dele.
Houve um tempo, pensou...
Se perguntou como poderia ser diferente?
Existia alguma maneira certa de respondê-las para que nada desse errado?
Existia um jeito, definido, correto, de corresponder-se?
Nao. Jamais responderia de uma maneira adequada.
Sempre deslocaria uma vírgula e estragaria tudo.
Melhor aproveitar aquilo que nao tem problema nenhum se for ao lixo.
....


O motel era aquele.
Gostava daquele porque já conhecia.
Confortável... nao parecia motel.
Pensou o quanto seria legal ir por ali, sozinha.
Fechar a garagem, entrar no quarto, deixar meia luz, colocar uns cds que levaria, no som, tirar algo da geladeira, deitar-se na cama e olhar-se.
Pensar sobre si, encarando-se no espelho oval do motel.
Já fizera isso, algumas vezes, ali mesmo.
Por uns minutos, sozinha.
Enquanto ele tomava banho e ela se negava a acompanhar, pedindo um tempo, passava a melhor parte da noite, contemplando-se no espelho.
Roupa nenhuma, alguns lençois sobre o corpo. Cabelo espalhado, algumas marcas no corpo que sairia em uns dez minutos, nenhum pensamento invasivo... Nada sobre mensagens mal respondidas ou sobre o lixo que poderia ser estragado a qualquer tempo, sem jamais deixar de ser lixo. Era o que via no espelho do teto.

Cinco minutos de paz fazia todo aquele sexo médio valer a pena.

E, quando ele saísse do banheiro e ela sorrise, espreguiçando-se, ele sorriria de volta e pensaria que era o responsável por tudo aquilo.
E ela apenas ia enfeitar e deixar subentendido o lance do lixo, depois.
Mas decidiu que nunca ia falar que não gravava suas mensagens.

Sabia o quanto era importante correr atrás do sonho, carregando um saco de ilusão nas costas.

domingo, 26 de agosto de 2007

Começa vidro, termina ácido.

O sorriso dele era do tipo que não se sorri mais. Saiu de moda, ficou em tempos em que os melhores atores faziam papéis de gângsters durões e italianados, nos filmes premiados com Oscar.
Um sorriso torto, boca curva, dentes meio a mostra. Um aperto nos olhos, um aproximar das têmporas, um levantar do lábio pro lado direito e aquela sobrancelha, levemente inclinada como arco.
Era um sorriso de roubar os fôlegos e fazer engolir as palavras que precisavam ser ditas. Sorriso que cala. Que dá por terminada a conversa. Que encerra a seriedade do assunto. E convida pro prazer.
Sorriso que engana.

Depois do sorriso, você repara na cicatriz da sobrancelha. Localizada de um modo extremamente atraente. Talvez uma estratégia: os olhos são cansados se você bem reparar. E nota-se um quê de tristeza quando se mergulha neles. A cicatriz é um detalhe que faz desviar a atenção dos olhos. Se isso pode ser classificado como algo bom ou ruim, ainda não sei. Legende como "perigoso". Melhor não olhá-los por muito tempo.

E, sim! Também não se iluda com o cabelo, aparentemente, assanhado pelo vento. Alguma espécie de pacto foi feito para que cada mecha caísse em uma desarmonia que culminasse em algo belo. O belo harmonioso tendeu a perder a graça, com o tempo. Hoje, qualquer rebelia com a harmonia sem destruir a beleza, é melhor valorizada.
É, ele foi perfeitamente moldado pra ser desses tipos que não demonstram preocupação com aquilo que o outro enxerga nele.
Talvez, esse seja seu melhor truque.
Truque, nunca esqueça.

E, prepare-se.
Agora ele vai falar.
E não, a aparência calma e benigna na voz dele é uma farsa das boas. Não se deixe enganar, menina: não permita que ele te faça pensar em campos verdes e mãos dadas, com essa voz. E nem em meia luz, num lugar meio mágico, onde toca a sua música favorita. Uvas, bebidas e sexo, você vai pensar. Mas não pense em sexo! Nem por um minuto. Não imagine a voz dele, sussurando coisas que você gostaria de ouvir, enquanto dançam-aquela-dança com urgência.
Se deixar o pensamento voar por esses campos, a conta será pedida e o primeiro quarto do motel mais próximo, ocupado.
E aí começa o pesadelo, não se engane. É pesadelo disfarçado de sonho.
Nessa hora, caso o descontrole queime muito, evite a todo custo olhar pra sua boca.
Conselho de mestre, eu diria.

Peça um copo d'água agora.
Tente se concentrar no que ele fala e não em sua voz. Homens tendem a dizer coisas desinteressantes quando tudo o que vale é a conquista.
Você é só mais uma, garota.
Escute como ele diz que você é bonita e atraente. Ouviu, agora? Previsível, não?
Sim, mais um cara previsível, disfarçado de homem da sua vida. Só mais um.
Beba todo o copo d'água, chame o garçom e peça uma vodka. Agora, pode pedir. Sem medo. Os controles estão na medida certa, não estão? O vestido aperta menos?
Certo, agora peça licença pra passar batom no banheiro.

"Nao demora", ele te diz.

Feche a porta, logo. Pare de suspirar e olhe pra mim. Aqui, no espelho mais próximo ou mais distante, tanto faz. Pode ver?
Não se apaixone por esse cara. Não vale a pena.
Ele não é nenhum pirata destemido, acho até que aquela maldita cicatriz na sobrancelha foi moldada com gilete. Tudo isso é um jogo que ele já cansou de jogar, por aí. Ele te diz pra não demorar porque sabe que é exatamente o que você quer ouvir. E ainda vai dizer muitas coisas que te deixará encantada e perdida por ele. Ele presume o que você precisa e se intitula conhecedor do jogo. E ele até já sabe... a parte dele.
Conhece o que falar,como curvar os labios e inclinar a sobracelha. Mas você é a peça que pode transformar tudo. Imprevisível, misteriosa.
Ainda.
Pode até destruí-lo em seu próprio jogo! Desde que não comece a fazer os movimentos que ele sabe como rebater!
Esse jogo é duro, garota!
E não se trata apenas de sexo. Hoje em dia, precisar seduzir pra ter sexo, é tão fora de moda quando o sorriso brega dele.

Trata-se de conquistar, sabe? Ele inventou isso pra dar mais emoção à vida vazia que ele tem.
Já reparou nas rugas ao redor dos olhos? Urgências de um tempo mal vivido, creio... Chega um momento, em que um surto de vaidade, te faz pensar que você pode conseguir tudo que quiser.
E adeus adrenalina esquentando o teu corpo. Adeus dores de estômagos de nervosismo. Adeus ansiedade e emoção.
Tudo que ele precida é de um "não", garota.
Mas não se iluda pensando que isso vai fazê-lo te valorizar mais. Porque isso não te diz respeito. Tem a ver com o valor que ele vai dá ao momento que 'tá vivendo. O momento dele. E nunca vai te dizer respeito, mesmo quando você provocar o maior sorriso da vida dele. E nem quando satisfazê-lo na cama, como nunca aconteceu antes. Ele vai sorrir e gozar e ficar feliz. Por ele.

Entende o quanto é desnecessário você participar do jogo?
"your pain is my gain", no fundo, é a frase que predomina e não te favorece.
O final é sempre mais ácido, mesmo que queiram disfarçar com um vago "felizes para sempre".
Começa vidro, termina ácido.
E não me odeie porque meu papel é te dar a chance de resolver tudo isso de maneira muito mais simples:
Passa o batom e volta lá. Seja uma menina esperta e diga que já conhece no mercado o que ele precisa em potes de drogas.
Sóluveis e até baratas.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Fim

- Você tem certeza disso?
- Tenho...pra nao desgastar a amizade, ou acabar com o sentimento bom que a gente tem um pelo outro...
- Sei, sei.. já levei foras antes.
-An?
-Nao precisa discursar. Acabou, nao é? No fundo nao é isso?
- É, mas nao significa que eu nao goste de vc, nem nada...
- Clara.
- Sim.
- Não precisa disso. Eu já entendi.


Foi embora. Odiava aquela espécie de discussão. Resolveu ir sem olhar pra trás. Que fosse o que tivesse que ser, a partir de agora. Nao ia negar o sentimento. E nem ocultar a mágoa. Simplemente iria em frente, a despeito de tudo. E a dor... a dor serviria pra lembrá-lo que estava vivo.

Na primeira semana, resolveu ficar em casa. Tinha que vivenciar aquilo.
Só.
Trancou-se no quarto, estudou um pouco, leu alguns jornais atrasados e releu suas hq's favoritas.
Edições de colecionadores funcionavam como bálsamo na fossa.
Alugou alguns dvds, evitou os romances. Nem toda a aventura na tv conseguira despertar sua atençao. E o pensamento viajava pra momentos felizes, em que sorriram juntos.. Eles. Eles que agora seriam ele e ela. Separados assim.
Procurou a edição especial de Fantasma.

Na primeira semana, foi pro shopping com as amigas. Nao podia viver aquilo sozinha. O modo como ele saíra de sua casa a angustiava. Será que ele tava bem? A vontade de ligar era grande e o coração dava pulos quando algum homem parecido passava por perto. A melhor amiga nao ajudava. Ficava falando o quanto eles eram um casal perfeito e que nao entendia sua decisão...

- Mas eu te apoio! Nao entendo, mas apoio. Agora, entao, é bola pra frente. Reintegrar a comunidade solteira, nao é?
- Ai, Amanda. To desacostumada... Cinco anos... acho estranho andar livre. Sem alguem do lado, pra dar a mão, sabe?
-A h! Mas essa decisão foi sua, né? Entao, bola pra frente! Compras?
- 'Tô lisa, Amanda.
- Cartão de crédito, amor! Bora! Compras!
- Tá...mas só um pouquinho...

Na segunda semana voltou a rotina: faculdade, estágio e casa. O que mais incomodou foram os amigos que não estavam sabendo de nada. Durante toda a semana perguntaram-no sobre ela.
Dizer que tinha acabado ainda incomodava. Alguns o tratavam com pena, o que era pior. Mas aos poucos ficou assim: as amigas davam tapinha nas costas, os amigos chamavam pra beber, as colegas ofereciam companhia "desinteressada", os colegas falavam da boate do momento...

- Agora é farra, Lu! Quero ver, viu? Sexta!
- Vou ver, Fabão... Nao curto muito boates...
- Nao curtia! Agora que tá solteiro 'cê vai curtir!
- Ahaha... pensando assim...
- Sexta, viu? Quero desculpas nao! Já te dei meu celular?
- Já sim...
- Pronto! A gente combina! Vai ser legal sair com o mais novo sr. solteiro. Tenho umas amigas, cara...
- Ahahaha! Vai lá, Fabão.

Na segunda semana, chorou bastante. Ia pra faculdade e as tardes livres, em casa, eram sufocantes. Ligou bastante pra Amanda. Pensou bastante em ligar pra Lucas.
Nao ligou.
Se dedicou a monografia, leu alguns atores que falavam sobre o tema e outros que a vontade pedia.
Na sexta, Amanda chegara de 15h. Animada, com uma mochila cheia de roupas pra escolher a que usaria, pela noite. Iam sair.

- Você acha que eu engordei tanto assim?
- Clara, nao vou mentir. Você não 'tá gorda. Mas nao 'tá com o corpo de antes. Namorar engorda.
- Nao, o que engorda é anticoncepcional e domingos de pizza e vídeo em casa...
- É, domingos, no começo. Quando o relacionamento tá morrendo passam a ser domingos e sábados e sextas de pizza também...
- Tem razão...O meu tava assim...
- Eu sei! Vcs nem saíam de casa! Sabe há quanto tempo a gente nao se via? Uns 5 meses, por aí! Desde o meu aniversário que você só foi, porque eu te obriguei a ir e ainda assim saiu mais cedo poque Lucas tava de saco cheio...
- Ah, Amanda. Nao fala dele...
- Ô, amiga. Desculpa. Vamos ver qual é a roupa de hoje à noite? Tem que 'tá "arrasante"!
- Ahahaha! Vai lá, Amanda.

Sexta feira, noite:

Os dois colocaram sua melhor roupa, olharam-se no espelho gostando do que viam e disseram a si mesmo pra ir em frente. Um momento, porém ele se perguntou porque aquilo tudo estava acontecendo e ela se perguntou porque fizera aquilo tudo acontecer. Ele pegou o celular pra ligar pra ela e ela mais uma vez ignorou a vontade de falar com ele. Ninguem ligou.
Ambos saíram com os amigos solteiros pra boate da moda, sabendo que aquilo nao os animaria e nao preencheria o vazio que estavam sentindo.
Ela escutava a música e pedia um martini. Ele conhecia as muitas amigas de Fabão, "simpáticas e atraentes".
Ela ficara irritada com a insistência de um desconhecido em agarrá-la.
Ele ficara entediado com a futilidade da conversa das amigas de Fabão e pediu licença.

Ela procurou Amanda, sem sucesso, e foi pro balcão da boate pedir outro martini, interiorizando inúmeros palavrões pra dizer à amiga, enquanto nao a achava.
Ele foi pegar outra cerveja e pensar numa desculpa pra ir pra casa.
Boate, som, luzes, pessoas, balcão...

Ele a viu.
Ela o viu.

Os corações bateram mais forte e eles gelaram.
Quer dizer, ele e ela.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Brasileiro

- Entao... posso te ver hoje?
- Não.
- Poxa, já 'to com saudade...deixa, vai?
- Não.
- Vou trocar de roupa e vou.
- Que saco!
- Chego de 22h?
- Nada que eu disser vai te fazer parar de insistir?
- Nao, já 'to até me aprotando.
- Tá, vem. E traz uma cerveja.

....

- Oi, chegasse rápido.
- Toma, eu trouxe.
- Ah! Trouxesse mesmo?
- Lógico, vc nao pediu?
- Valeu...
- Tá meio quente...
- Incompetente..
- Ahahaha! Gostei do vestido...
- Vamos sentar ali.
- Vamos.

....

- Me dá um gole.
- Isso é uma ordem ou um pedido?
- Chataaaa!
- Trouxesse a cerveja pra mim, nao foi?
- Foi, mas pode me dá um gole?
- Nao. Ei! Nao vale tirar da minha mão!
- Tem certas coisas que nao adianta pedir...
- Certo. Acaba minha cerveja.
- Chaaataaa.

....

- Vem mais pra cá.
- 'To bem aqui.
- Tá nao, tá com frio.
- Eita, agora tu sente por mim?
- Nao... mais eu to te vendo toda arrepiada...
- ....
- Teu corpo implora por um abraço meu.
- Tá doido?
- Vem...

....

- Melhor agora?
- Tá menos frio.
- Dá pra dizer, uma vez na vida, que tá legal?
- Quando tiver, eu digo...
- Certo, vou fazer ficar legal!
- Nao..eii...

.....

- Para!
- Porque? Tá tao gostoso...
- Nao! Para!
- Adorei esse vestido...
- André, o porteiro! Ele pode ver!
- Tá tudo escuro...
- Nao!
- Vem...

....

- Vc é maluco!
- É, realmente eu to...
- Se acalma!
- Certo, agora fica longe.
- An?
- Nao vou me acalmar com você por perto. Esse vestido...
- Nao! Ei! O porteiro!
- Vamos sair daqui?
- Certo. Vc vai pra sua casa e eu vou pra minha.
- Não....
- Ai, ai...
- Vc tá muito gostosa, com todo o respeito.
- Vc tá maluco, como sempre!
- Chata!
- Doido!
- Vem...
- Eu...certo.
....

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Medicina e silicone

Peitos. Precisava de peitos.
A natureza nao tinha ajudado, o uniforme nao favorecia, o dinheiro que ganhava nao lhe dava direito a ter peitos!
Inferno...
Ele sempre passava direto.
"Oi, Cássia", dizia.
Entrava no consultório e durante todo o dia só falavam-se por telefone:
"Pode mandar entrar, cássia", "Cássia, nao marque mais de duas consultas pro dia tal", "Por favor, Cássia, poderia acompanhar o sr. Maurício até a porta?"
Algumas, raras vezes, vislumbrava-o, ou parte dele, despedindo-se de um cliente antigo, a quem fazia questão de acompanhar até a porta do consultório. Ou ainda, tinha o final do mes, sua maior alegria. Separava as correspondências, caprichosamente, pegava a caderneta, penteava os cabelos, retocava o batom e, no final do expediente, estufava o pouco peito que tinha, pra levar a correspondência pra ele.
-Alô, dr. Vicente?
- Sim, Cássia?
- A correspondência do mês tá separada. Quer que eu a leve até o senhor?
- Ah...an? Ah! Sim! Pode vim!
- Um minuto, doutor.
O ritual: batom, cabelo, depressão por nao ter peito, batida na porta.
O homem era lindo. Alguns, poucos, cabelos brancos nascendo, deixavam-no mais sexy que qualquer garoto de sua idade, que conhecia. Óculos. Sim, óculos nao é um acessório inadequado, algumas vezes. Nao quando se tem olhos cinza, enfeitados com sobrancelhas grossas, um nariz reto e perfeito, uma boca carnuda e deliciosa, barba fechada e um corpo que nao-tem-branco-que-engorde.
- Doutor, posso entrar?
- Sim, Cássia. Acabaram todos os clientes do dia, nao é?
- Sim, dr. As correspondências....
- Ah! Pode botar aqui em cima da mesa - falou, enquanto tirava a bata, pra ir embora.
- É...an?
- Cássia?
- Ah, sim! Na mesa! Nao quer que eu anote algo?
- Nao, nao precisa. - disse sorrindo. Aquele sorriso que deixava seus olhos menores e faziam aparecer linhas de expressão em seu rosto. Estupidamente sexy. Como rugas podem ser sexy? A sala ficava quente e ela pedia licença pra sair.
- Cássia...
- Sim? - "Diga que me ama, diga que me ama", pensava.
- Vc se incomoda de arrumar essas coisas pra mim? Eu tenho um compromisso cedo e já to atrasado. Sei que nao é seu serviço, mas...
- Nao! Quer dizer! Tudo bem, eu arrumo. - "Quem será a mocréia que ele vai encontrar?"
- 'Brigada, querida. Até segunda!
Saía.
Sexta feira... depressão.
Odiava nao ter peitos, odiava mais ainda nao ter peitos num fim de semana longo, sem vê-lo.
Fazia as contas em pensamento. Se continuasse a trabalhar mais uns 2 anos e ainda economizasse 70% do seu salário do mês, poderia pensar em colocar silicone.
Mas...e se ele casasse daqui pra lá? Sim, pq ele tava saindo com alguma mulherzinha! "Sair mais cedo","compromisso", só podia ser!
Depressão tríplice esse final de semana: agora, também imaginava-o casando com uma peituda qualquer.
Bebeu e chorou.
....
Era uma piscina diferente. A água era meio sólida, escorregadia e confortável. E parecia que...
AHHHH!
.....
- Andréia, pelo amor de deus! Vc sabe o nome de algum psicólogo bom e barato?
- An? Cássia, que voz é essa?! O que foi, menina?! Ligando essa hora!
- Dé, nao to legal. Tive um pesadelo esquisito. Acho que to obcecada!
- Calma, doida! Me explica! O que tu sonhou?
- Nao, nao posso. Nao quero que isso se espalhe.
- Meu Deus, parece sério! Vou perguntar a minha mãe se ela conhece e te ligo, certo?
- Vc nem imagina o quanto é sério, Dé... Me liga mesmo!
Jamais contaria a ninguém, que nao fosse um psiquitra dos bons, que sonhara mergulhada em uma piscina de silicone.
....
Shopping:
- Vc me assustou...
- Desculpa, Dé...eu nao queria... fiquei espantada com aquele sonho ridículo. Ei! Que cara é essa? Se começar a rir de novo eu vou pra casa!
- Desculpa... mas nao deixa de ser cômico!
- Certo, tchau.
- Ei, sua boba! Fica! Eu acho q sei como ajudar!
- Sabe?
.....
Consultório, segunda-feira, 8h:
- Bom dia, Cáss... An?
- Bom dia, doutor! Algum problema?
- Cássia, o que? Nao! Problema nenhum...é que você tá...diferente!
- Mudei a cor do cabelo, doutor. Que bom que o senhor notou. - sorriu.
- Ah! Claro! Foi isso!
- Sim, foi. - aquilo tava ficando divertido.
- Bem, vou pra sala. Quando o primeiro cliente chegar, pode mandá-lo entrar.
- Certo, doutor.
Foi um dia diferente. Ele a mandou chamar em sua sala 5 vezes, sem motivos relevantes e, no final do expediente, ainda pediu que anotasse as correspondências da sexta, alegando que tinha sido muito desorganizado nas anotações que fizera.
Cássia nunca esteve tão feliz e saíram juntos do consultório.
Ele ofereceu carona.
Conversaram bastante e ele disse que gostava muito do seu trabalho e que...a cor do seu cabelo... tinha ficado ótima.
Nao demoraria muito pra convidá-la a sair, pensou.
É... peitos...que milagres que eles nao faziam? Mesmo quando nao passavam de sutiãs acolchoados...