quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Uma das mil e uma maneiras como te vejo.

Meu menino é assim: andando descalço na praia, correndo até o ponto do mar onde se consegue agarrar peixes com as mãos.

E ele pesca durante todo o dia e totalmente entretido, nem se dá conta da coleção de peixe que vai acumulando durante aquele tempo.

O engraçado é que o meu menino tem um dom, um dom que desconhece, de pescar o colorido. Parece uma aquarela deitada no chão da areia, todo aquele amontoado de peixes brilhosos e furta-cor, que ele vai desenhando aos pouquinhos.

Traz o vermelho, traz o azul, pega o cinza e o amarelo. Não pensa numa ordem exata de combinação de cores. Carrega do mar até à terra e magicamente deixa cair em um canto perfeito, onde a cor exata forma um arco-íris de peixes.

Meu menino é assim: meio mágico. Visualiza adiante o melhor caminho e na sua capacidade de sempre imaginar caminhos bons, mora a indecisão sobre qual deles deve pegar primeiro.

Disfarça com pessimismo toda a certeza de sorrisos. Prepara-se pro pior, fecha os olhos e pensa que o próximo peixe não terá brilho algum.

E, sabe-se lá como, se é a certeza que no fundo carrega de que vai conseguir trazer colorido até à areia, ou a vontade de todos os peixes brilhantes do oceano de nadarem até ele, termina ficando assim: uns passando admirados, outros achando apenas belo e toda a praia diferente com a passagem do menino.
Outro ar, outro mar. Mais cor, com certeza.

-Foi o menino que espalhou!

E ele, alheio, descobre que com a camisa pode fazer uma rede. Usa a rede que criou com a imaginação e continua fazendo arte na praia.
E os peixes continuam chegando, mais bonitos e maiores.

E ninguém nunca vai ter a certeza se é a mão ou rede do menino que agarra os peixes ou se são os próprios peixes que agarram a mão ou caem na rede do menino.

Por, talvez preferirem ser arte, em vez de peixe.

Por saberem que o meu menino faz assim:
Faz arte do simples e do nada.
Faz arte por ser arte.

Meu menino.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Sobre o amanhã de hoje.

É que tem um tanto imenso de alegria em cada rosa que colocava, adornando a fantasia, enfeitando-se de cor.
E tinha aquele vermelho vivo de quem veste vermelho quente, de quem vive o quente de um vermelho forte.

Tinha uma mística vontade de ler coisas boas, em mãos, em pés, em corpos, em olhos, de outros e todos.
Coisas boas pra eles.

De arrastar parte da saia por chãos que não conhecia e deixar qualquer rastro de si.

E uma comemoração desses olhos brilhantes que espelhavam o interior dela mesma: aquela vontade cantante de gritar alguma dança muda.

Alguém entende?

terça-feira, 9 de outubro de 2007

De branco

E esse aqui é só porque o moço quase caiu da janela e ela o segurou com mãos quentes, de quem mesmo depois de perder todo o licor que ele derrubou na calçada (e nela), conseguiu dançar ao som de música nenhuma.


(tenha medo não, moço.
ela segura.)

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Um fraco

Ela viveu aquela cena e nao conseguia enxergar a importância de outras que vieram e viriam.
Diminuiu todo o resto, desencantou-se com a alegria, brigou com a felicidade e pegou as maos do vazio.
Caminhava e nao sorria. Existia um certo tom de proibiçao em cada curvar de lábios e em cada momento bom que desfilava em seus dias.
Começou a discursar sobre o nada e atraiu até um certo público. Escureciam os cantos por onde passavam e largavam verbos soltos, desconexos, deixando que cada pessoa de cada canto formassem um pensamento inútil e se aliasse a tropa.

Ficou satisfeita pelo coro animado em suas vozes mais destrutivas de si.
Escreveu a música mais cantada dos tempos do fim do mundo.

...

Ela viveu aquela cena como se não fosse a última. Esperou a próxima e várias de dias que viriam e vieram.
Aumentou todas doses, alegrou-se com um samba antigo, dançou com os amigos e pegou na mão de quem amou.
Existia um certo tom de quem vivia, de quem carregava os dias de sorriso, de quem fazia desfilar o que quer que fosse bom.
Começou a deixar pensamentos soltos pelo ar, despreocupou-se, desocupou-se de ocupar-se de si. Atraiu um certo público suave, leve, cheio de saias soltas e pés descalços. E em cada canto que iam, cada lugar que passavam, alguém cantava algo que fazia dançar.

Ficou satisfeita pelas vozes que falavam que estava bem, fazendo coro do que sentia.
Viveu os melhores dias do tempo dela.
E foi.