quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Ir

Havia uma doce intriga, um perfume de pecado, um não encostar de mãos que queriam estar juntas, uma timidez em entregar-se, afinal...

Os olhares não se encontravam e nunca sorriam ao mesmo tempo. Fingiam que não se viam e deixavam pra procurar um ao outro, quando ninguem tivesse notando.

Tem uma certa cortina que separa. Talvez medo, uma angústia de viver aquilo, uma insegurança em se soltar e cair em vez de voar...

Acho que antes de tudo, o certo é não pensar em cair. É deixar solto, é abrir asas, é olhar pro horizonte e ir além, até lugares que não se sonhava atingir, lugares que ninguém consegue ver, que poucos visitam, poucos chegam.

É amar sem medo de dar as mãos e não odiar sentir forte, sentir muito. É por aí: amar amando. E só.

A peça só começa, quando o palco deixa de ser apenas cortina vermelha. E entram os atores, entram as emoções, falas e atos que se preparam pra viver e vivem.

A peça só começa quando o palco vazio se enche de vida, sorrisos ou dramas, abraços, danças e o que quer que for.

E a peça nunca acaba, porque mesmo que termine, o único fim verdadeiro que posso vim a ter é quando se esquecem dela.

E penso que é assim, simples: lembrar, voar, brincar e viver.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Explodir

Havia algo de fogo, algo de dança, qualquer encanto que nao se traduzia, nao se fazia ou criava. Havia algo de mágica, de alegria, de encanto. De boca que devorava, corpo que tremia, sol que brilhava.

Tinha um toque certo, temperado, quente. Agradando, querendo, amando, sentindo cada parte do todo.
Se é que se pode abraçar o universo, assim era feito: forte, tranquilo, tocante, amante, em paz.

Braços dados, mãos apertadas, corpos unidos, um em dois, em mil, um só.
Agarrando o mundo, chamando, pedindo, chegando mais perto dele, puxando o universo, o infinito.
Se deixando levar, ir, puxar pra perto, colar o corpo no céu, explodir, se deitar em nuvens e despencar lentamente, em solo macio, terreno, quente.

Deitar a cabeça, abraçar, sentir-se aquecida.
Jogar um beijo, fechar os olhos, respirar fundo e enfim, deixar-se ficar, depois de ir.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Quando o silêncio falou

Queria querer o mundo.
Mas havia aquela quietude, uma leve acomodação, um deitar-se em beiras de lagos e em redes de varandas e deixar-se ficar, em vez de ir...

Era manhã, o sol brilhava. Cada parte do corpo deitada na sombra, o cabelo espalhado pra trás, a roupa leve, a respiração lenta...deixava-se ficar em cima da maior pedra, no meio do nada, do mato, perto do açude, pegando a terceira árvore pela direita, ficando lá.
Desejosa de nada, receosa de nada, nao havia ambição qualquer de está em canto nenhum, senao aquele. Um vento leve, um barulho fino de canto de vento, olhos fechados, mao caída de lado, mao jogada pra cima, braços soltos, pose displicente, quase um sono, um dormir....

Sentiu quando chegava: vinha quebrando sua paz, invadindo, rasgando. O corpo se ergueu, as maos apertaram o peito, os olhos atentos pra aquilo que chegava, que vinha...

O que seria, o que era, saberia a seguir...mas vinha correndo, vinha com pressa de chegar, se aproximava mais e mais, a cada pedaço do tempo, mais e mais...

Fechou as maos no decote do vestido, pensou em esconder-se atras da árvore, observou que nada a camuflaria e que o que quer que vinha, o que quer q fosse, colocaria os olhos sobre ela, a conheceria.
A respiração funda, os lábios sendo mordidos por dentes aflitos, um palpitar de coraçao, a coisa se aproximando, o que ou quem...

E a cena foi assim: ela já tinha se erguido, de pé, fitava aflita sua chegada. Ele que nao esperou encontrar ninguem e terminou por encontra-la. Em cima da pedra, vestido leve, cabelos ao vento, olhos escuros e enormes, apreensivos, curiosos. Ele que chegou e foi até ela.

Soltou um bom dia e esperou resposta que nao veio. Aproximou-se aos poucos e sorrindo, disse seu nome e de onde vinha. Perguntou sobre ela e nada ouviu. Observou que as maos ainda apertavam o vestido, segurando firme, no decote que leva ao peito, ao coração. O que ela fazia ali era a proxima pergunta, mas o silencio veio a seguir, como antes e sempre.

A moça nao piscava, nao tirava os olhos dele. Parecia temerosa, parecia que fugiria a qualquer instante, parecia que evaporaria no proximo minuto e nada que fizesse a partir daí, a traria de volta, a colocaria diante dele.

Sentou-se querendo a moça e resolvendo nao querer. Nada mais disse, nada mais falou. Deixou-se ficar ali, do lado dela. E a moça estatica, em pé, olhando-o, desejando, receiando...

Quando o barulho de saias mudou, quando ela sentou-se, olhando-o, resolveu encara-la, perder-se em seus olhos, ficar ali. E, pensando que ela fugiria, descobriu que ia ficar.

E assim começou a conversar com a moça, que nada falava, nem ouvia, mas lançava com o silencio mil perguntas que aprendeu a responder sem palavras.

E caíram noites e mudaram dias, a historia que continuou em tempos de sol, de sombras e que nunca terminou, nunca termina.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O último antigo


Um par que não bebe, nem beberica, nem se deixa levar pelo romantismo de vinhos e velas.
Uma mesa absurda, de uma situação diferente: onde já se viu prostituta reclamar de cliente?
....
O vestido é decotado e extravagante. Pintava o fundo do bar, de um vermelho fúnebro, visto que a pouca iluminação roubava o tom vivo da roupa.

A palidez dos corpos combinava com o verão que nunca chegava. E ainda tinha o tom de seus espíritos presos na voz que deveria sair a seguir: em tom lamentoso de quem se despede.

Casar-se-ia dali há dois meses. A noiva era ninfeta e rica. Mudar-se-ia pra um local tão distante, que falar de visitas era o mesmo que zombar do possível.

Guardaram as vozes, deixaram morar o silêncio. Tentaram ignorar as lágrimas que caíam em chuvarada. O soluço tímido foi o único som que se ouviu e dali em diante, seria apenas uma passagem para um mundo triste.

Tinham aquela platéia molhada de alcool, caída em torpor, debruçadas no abismo da embriaguez, caindo. E mesmo o mais bêbados dos mais bêbados botecos, chamou a consciencia, pra levantar o copo vazio e brindar à melancolia e beber ao reencontro.

Nada pronunciavam em vozes e os corpos meio afastados, tentavam se acostumar com a distância que vinha. Cabeças abaixadas, o último toque foi um ensaio de abraço. E ela segurou o queixo dele, com carinho de quem conhece o melhor toque. E ele abraçou o corpo dela, com o toque de quem conhece o melhor carinho.

Não se despediram, nada disseram. Não colocaram o amor em vozes e toques, deixaram ele solto, espalhado, pendente, voando até um dia que viria de novo. E chegaria.

E, daqui até lá, não existiria mais o carinho de quem conhece o melhor toque e nem o toque de quem conhece o melhor carinho. E os tons de roupa deixariam de parecer brilhosos e fortes porque, não há de se falar em cores vivas, daqui até lá.

Interlúdio.
Que seja breve.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Um pessoal

Longe de mim ser dessas escritoras que não fazem dos contos, um espelho do que carregam por dentro (aliás, longe de mim me dizer "escritora").

Já rasguei a alma e me despi pra vocês, mais de 50 vezes. Derramei uma sacola de personagens que carregava comigo em histórias interessantes, bizarras, cômicas, angustiantes, de despedida e de amor (entre esses, os outros que ainda não se apresentaram e que chegarão naturalmente, saírão do lugar onde estão escondidos e aparecerão para vocês, com sorriso tímido ou radiante. Com lágrimas ou malabarismos, ou qualquer outra espécie de característica que os colocarão o mais próximo possível de mim, do que vivo em dias, do que sinto em momentos, do que preciso contar pra alguém.)

Esse blog começou assim: uma conversa mais feminina, mais intimista, com um perfil quase agressivo de quem precisa se auto-afirmar, como mulher.

Pois bem, amigos (se é que alguém ainda ler isso aqui), e principalmente, amigas que se identificam com as personagens do texto: talvez os decepcionem, mas resolvi mudar. Sem mudanças quanto a minha pessoa, ou em relação a maneira que escrevo: quero fazer rir e chorar, posso? consigo? Essa é a questão. Quero descobrir se consigo.

A estória é que não preciso, nao sinto mais necessidade de me auto-afirmar enquanto mulher. Minha vontade mudou e subiu. Enveredou por caminhos mais altos e já sentiu os primeiros espinhos das árvores em que se encostou, pra descansar.
Vou tentado, agora, me afirmar como ser humano. Deixou de ser pessoal e começou a ser mais amplo. Deixou de ser "auto", pelo menos. Mais do que nunca quero conversar com vocês. Preciso. E sobre muitos! Homem, mulher, menino, velha, sertanejo, empresário, lua, sol. Que sejam tristes, se quiserem se apresentar como triste, os deixarei a vontade, desfilando, fazendo desse blog, seu palco, onde caminharão com as próprias pernas. Que sejam alegres se assim determinarem! "O que não tem governo, nem nunca terá", já dizia uma música. Que desfilem desgovernados, que sejam naturais, que não escondam as caretas e nem as cicatrizes no corpo. Que sejam eles.

Que alguns gostem deles, enquanto uns outros torçam os narizes (Se é que vão ter platéia, embora não se importem muito com isso, a sede de viver de alguma maneira, faz a parte da platéia ser agradável se existir, mesmo que não deixe de ser, se não exista).

Garotas, vocês deixaram de ser o público alvo desse blog. E olha, observa se não é interessante, a diversidade da platéia agora. Observou aquele ali, nem alto, nem baixo? Penso que ele olhou pra você, joga um sorriso de volta. Analisa se vocês reagem ao que passa pelas "cenas", de maneira parecida ou não: se tremem diante de alguma parte mais claustrofobica (se sim, toma coragem e pede um abraço), ou se saltam a maior gargalhada do público presente (se não, toma coragem e diz que o sorriso dele é lindo. Ou espera que ele se aproxime e fale bem do seu sorriso mais tímido).

Não deixe de dividir, embora as idéias sejam diferentes. Daí é que nasce a compreensão e compartilhar coisas diferentes, além de ser um ensinamento, também é um aprendizado.
Se suas sombras já se conheciam de algum canto e se o frio na barriga 'tá mais forte que todos os outros, se permita ficar nervosa, é normal. Mas nao deixe que o nervosismo atrapalhe nada que pode ser especial. Aliás, até o que não vai ser tão especial assim: que não atrapalhe nada!

Vai lá, nao 'to traindo ninguém. To chamando heterogenia pra platéia. Te trouxe uns paqueras e uns amigos mais velhos. Trouxe algumas crianças tbm, mas as mães e pais, prometeram controlá-los. Alguns palhaços e adolescentes. Pode ser um pouco menos agradável, algumas vezes. Mas se permita observar o diferente, pelo menos. Tente viver a mistura, a parte que não é selecionada. Assim não se vive no mundo? Então! Sem platonismo de se apaixonar por um mundo que não é real, combinado?
Aqui, escreverei com batom, com lápis, caneta ou giz. Misturando as cores, formas e texturas. Desenhando um palco, que se aproxime o máximo possível do mundo real. Do que vivo e enxergo nele.
Espero não decepcioná-la, garota. Nem a ninguém.

Agradeço a paciência, não prezo por preferência. Sintam-se a vontade pra chegar e partir. E até pra nunca virem. E desculpa aí, qualquer coisa. Tem coisa que nasce pra ser "qualquer" mesmo. =D

=)

Bjão,
P.