segunda-feira, 31 de março de 2008

Um brejeiro

Mone tinha o costume de acordar-se lá pelas 12 da madrugada e ir, direto, encontrar-se com o céu.
Era um tal de se levantar da cama e dar três passos até colar o corpo na janela e se debruçar procurando a lua.
A janela era pequena e era como se, aqui debaixo, brechasse todo aquele brincar de brilhar das estrelas e toda aquela movimentação que só quem nota é quem muito para pra observar.
Deixava os olhos viajar pelo espaço e largava a imaginação até o infinito. Era estrela, era lua, era cometa, era planeta, era dragao de São Jorge, era a fada da estrela cadente ou qualquer coisa que significasse Mone voando no céu e largando o sorriso pelo espaço.

E, assim ela ia, entrando pela noite e pela madrugada, até q o dia pintasse de branco o escuro da noite, apagando estrela, lua, planeta, sonho, dragão, fada e toda a brincadeira da noite, toda a diversão de Mone.

Vinha o céu do dia e durante o dia mal tinha tempo de olhar pro céu.
Mas cada dia traz uma noite ou cada noite traz um dia. E assim Mone ia: esperando a noite e vivendo o dia.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Ensaio sobre um tipo raro

No mais, era um canto de encanto e uma prosa quase eloquente. Gesticulava com efeito, soltava palavras com suavidade. Nao deixava que o admirassem e que olhos admirados lhe cobrissem de paixao ou qualquer coisa quente. Timidez de ser visto mais que os outros. Vontade de ser apenas ele.
Tinha um rubor de leve que ia do rosto pro corpo, do corpo pro rosto e ia e vinha, colorindo e descolorindo toda a sua cena.
Não era príncipe, nao era rei, nem capitão. Jamais fora delegado ou advogado, juiz ou ladrão. Nem homem, nem menino. Nem bicho do mato ou descolado. Tinha apenas aquele ar, que carregava, de quem encanta sem querer. Um sorriso tímido, dentes alinhados, jeito de quem nao quer mandar no mundo, nem quer o mundo, nem deseja muito mais do que já tem. Jeito de quem tem medo do que vem pela frente, mas que nao titubeia em ir adiante e enfrentar o que quer que venha. Sem pretensão de vencer ou medo de chorar. Apenas querendo ser útil e se encontrar dentro de algo que seja bom pra ele e pros outros. É do tipo que quer oferecer o que tem de melhor pro mundo. Tipo pouco, tipo raro. Muito raro, nesses dias.

Nao sei se ele sabia ou se já observara, que nao tinha como nao prestar atenção quando falava. Aquele jeito simples de quem se afirmava de leve e dizia o que queria, achava certo ou gostava, abrindo a mente e o coração pra tudo e todos, nao escondendo, jamais, o que conhecia de melhor. Oferecendo, sempre oferecendo. Doando e rindo. Fazendo música forte e alta pra todo mundo ouvir. É do tipo que divide as moedas do almoço com qualquer um que precise. Gente muito difícil de encontrar, esse quase menino, quase homem, quase rapaz, músico brilhante, pessoa linda.

Não duvido nada que enquanto ele crescia, crescia também o mundo. E enquanto ele aprendia, muitos outros conquistavam a sorte de ter quem, com alegria, os ensinasse. Ele nao nega uma música boa ou o melhor filme, pra ninguém. Ele diz e doa. Aprende e ensina. Enxerga e aponta. Nao nega um abraço, um conforto ou carinho. Acolhe e cuida.

E ele tem tantas faces boas que eu nem sei mais qual admirar. Já vi tantas e enxerguei tantas que fico perdida, me achando menos, me achando pequena, diante dele. Mas é bem assim: com ele eu fico melhor, com ele tudo fica bem, com ele eu construo e escrevo contos de fadas piegas e mil e um textos sobre amor. Com ele, eu sou mais completa.

É que ele traz pro mundo esse algo que falta.
Pra tudo melhorar.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Texto pra mulher, moça e menina

Existe uma certa fragilidade nas mulheres, que poucas pessoas entendem. Falam alguns de estranheza e sim, os que mais estranham são os que estão próximos o suficiente pra notar que de um dia pro outro, tudo vira e revira de cabeça pra baixo. De repente. Sem mais, nem menos.

Aí começa: vontade de mudar de cabelo, mudar os móveis da casa, arrumar o guarda roupa, fazer faxina, cozinhar, mergulhar no trabalho, prometer que vai mudar de vida, viajar, fugir... fugir e fugir de qualquer coisa que a lembre q ela, sabe-se lá pq, nao está tao bem assim.

Nao quero falar de tpm, deixo isso pra outra seara. Nao é coincidencia que grandes "surtos de estranheza" surgem em períodos que os hormonios borbulham e explodem dentro do fragil corpo da mulher (alguns nem tao frágeis assim). Mas nao vamos convocar a medicina. Deixemos que esse texto caminhe, lado a lado, com o dia a dia. Com o hoje, por exemplo.

Se vc mulher, quiser entender e buscar motivos pra aquele negocio que aperta o peito que sente, digo logo que vai enveredar por vários caminhos e, encontrar vários motivos pra estar triste. Motivos que, outros dias, até passariam despercebidos, de tao pequenos, mínimos, que são. Motivos que você vai encontrar apenas pq parou pra procurar. Motivos que você vai precisar ter por perto, pra se explicar ou pra explicar os outros o porquê de todo aquele dramalhao. Ou você vai chorar, sofrer, se descabelar e se acabar, por nada?
(É pra responder essa frase que você procura os motivos.)

O que posso dizer? Tudo poderia ser tao simples. Você nao carregaria por dentro essa insatisfaçao com tudo e com todos. E nem uma linha diferente na camisa de alguém, causaria estranheza. Você nao iria pensar em matar alguém ou quebrar alguma coisa. E continuaria sorrindo das mesmas piadas de antes, em vez de achá-las ultrapassadas.

Mas aí vem: aquela sensaçao de desconforto, de sentir-se a pior pessoa do mundo, de achar que tudo que você fala é besteira e de pensar, de repente, que nao é suficiente pras pessoas que você ama. De sentir-se pequenininha e cada vez menor. De imaginar que o mundo todo seria mais feliz se você, apenas sumisse. Ou ter ciúme da sombra da mulher que nem ao menos existe.

Caso nunca tenha sentido nada disso, parabéns. Poucas mulheres têm essa facilidade de viver a vida, sem esse peso, que hormonios bagunceiros, terminam fazendo-a carregar por todo o corpo.
Nunca vão saber o que é se sentir infeliz, quando, na verdade, nao poderia está mais feliz na vida. Nao terao que dá muitas explicações pra mãe, pai e namorado. Viverao comuns e em harmonia com tudo e todos, sem o desafio de tentar viver comum e em harmonia com tudo e todos, mesmo quando seu organismo pede que você se atire da ponte mais próxima.

Mas, caso nao... um conselho que dou, é o que eu aprendi, quando, de repente me peguei por aí, nesses surtos de mulher: é apenas uma batalhinha que surge de vez em quando. Parar e lembrar que o inimigo são apenas três: tu, tua cabeça e teus hormonios. Teus pais, amigos e namorado te amam e estão por perto porque querem estar ali. Você nao é um monstro, seus dentes nao sao tronchos e tua opiniao importa sim. E para de procurar infelicidade. Por mais que pareça óbvio e claro que você é infeliz (pq chora e chora e chora e sofre), lembre-se que nada disso é real e tua infelicidade vive num mundo fantasioso que você convoca algumas vezes, sem querer. É descer da nuvem de infelicidade e entrar no mundo do sorriso. O de sempre, o comum, o real.
Vem funcionando comigo. Boa sorte a todas. Até um proximo texto.

(em homenagem a minha amiga Vans)

Obs: nem de longe esse blog vai exibir, novamente, textos de auto-ajuda. Venham procurando contos. É o que minha mão gosta de escrever.

sábado, 8 de março de 2008

Sem surpresas

Ela escreveu:

Moço, eu nao guardo no bolso mais nenhuma surpresa pra te trazer.
Nada novo sobre mim, nada antigo que deixei de te contar, nenhum pontinho escondido sobre o que desejo, o que penso e o que sinto.

Fui me sentado no sofá e te contando mil e uma coisas sobre mim. Transpareci, mesmo sem fala, o quanto já sorri, o quanto já chorei e alguns poucos caminhos que percorri, pois a pouca idade que tenho nao me permitiu ainda trilhar muitos caminhos na vida.

Tenho certeza que te falei o quanto sou feliz hoje em dia e o quanto um sorriso teu é especial pra mim. Isso é o que mais guardo no coração, atualmente. Meu coração que tu conhece, como quem conhece o próprio coração. Minha vida que tu participa, como se me desse a mão a cada instante e ainda um abraço no instante seguinte. Meus dias mais felizes.

Nao guardo supresa, nao tenho supresa, nem sou mais surpresa. Me transformei, nesse tempo, além de todas as coisas que eu já sou, em uma pessoa que ama e isso é, atualmente e sempre, a maior novidade sobre mim. E isso tu já sabe e todo" o meu prédio já sabe" e todo mundo que me conhece ou vê. Também nao é mais surpresa.

Lembro o que senti, e já te disse, quando com uma frase começamos a conversar e deixar de nos sentir sozinhos. Compartilhei, desde aí, o que eu conhecia de bom, te oferecendo uns (dos poucos) detalhes pequenos que tu ainda nao conhecia. E comecei a aprender daí. Aprendi muito, aprendi bastante. Aprendi sobre música, cinema e o mundo. Aprendi sobre amar. Também aprendi sobre erros que apenas quem se permite viver e amar muito, terminam aprendendo. Enfrentei o desconhecido e caí em erros que nao sabia que cairia e tu me deu a mão e confiou que eu acertaria, um dia. E eu fui tentando acertar e continuo tentando, pq tu acredita em mim e pq, a cada instante, eu quero ser uma pessoa melhor pra mim, pra tu e pros outros.

Te fiz um conto, como te vi, lembra? De todas e tantas coisas que te disse, acho que nunca mais conseguirei falar mais bonito e mais especial que aquele dia. Mas eu escrevi o que nao vivia, nem conhecia. Hoje, acho que escrevo de maneira diferente pra tu. Te escrevo comprando jujubas e gibis, assistindo filmes que tu me indica, te dizendo "meu amoooor" todo dia, brincando ctg como menina, te amando como mulher, trazendo coroas do burger king, lembrando de tu a cada instante, sendo feliz e querendo te fazer feliz o tempo todo. Sendo teu apoio do baque e apoio de qualquer tempo e qualquer hora. Te escrevo, hoje, dizendo que eu to aqui, o tempo todo e tu esta cmg, o tempo todo. Talvez até consiga, escrever outro pseudo-conto bonito, pra tu, um dia. Mas, perdi um pouco do jeito de escrever, pq comecei a aprender melhor o jeito de viver tudo isso. Tu também escreve o tempo todo pra mim, amor. Desde o primeiro sorriso, até todo o boa noite, quando tu chega em casa e aí eu consigo dormir, sabendo que tas bem e que mais ninguem e nada no mundo pode te oferecer perigo. Tu me escreve, dizendo que "conciliar é legal" e isso me dá mais forças de ir em frente. Antes, eu tinha a inocência de quem ainda nao conhecia e apenas suponha estar diante de alguém que sabe viver e compartilhar a vida, como ninguém. Hoje eu sei. É mesmo o menino que nao se importa de subir morros e explodir em som e se jogar do topo do canto mais alto da cidade. E voar. Alguém que, com um sorriso, faz o mundo todo se derreter e tudo de tudo no mundo, ficar mais bonito e melhor. Alguém que nao tem medo do novo e que, com uma parede e raquete, constrói um melhor jogador. Alguém que hoje eu conheço melhor e admiro como nunca. Um menino que cresceu pra se transformar num homem completo, que todos os pais do mundo, família, amigos e namorada tem orgulho e felicidade em ter por perto. Meu menino ruivo-galeguinho e com mil e uma mechinhas loira, na barba charmosa. O meu amor que nunca deixou de me dá bom dia. E todo o dia, desde aí, mesmo os mais difíceis, passaram a ser os melhores da minha vida.

Tive vontade de enfrentar tudo, ctg. Meus medos, meus anseios, meu defeitos pequenos e erros graves. Todo o mundo que vem pela frente, seja o mundo mais difícil que for. Moço, contigo eu acredito que até posso fazer milagres. Acredito em mágica, fada e duende. Fauno, labirinto, criança que vira princesa em um outro mundo melhor. Uma Paulinha que vira uma menina melhor e se transforma em uma mulher melhor, ctg do lado. Que trilhou coisas difíceis na vida e hoje entende que tudo que viveu foi pra chegar aqui e te dizer essas coisas e construir mil coisas ainda, ctg.

Pra chegar aqui e te dizer que hoje, de alguns dias que parecem muito e algumas noites que parecem mais, eu sou feliz. Muito feliz mesmo. Chorona, sim. Bastante. Sensível, mas nunca fraca. Sou forte, amor, forte pra continuar vivendo tudo que mundo quiser reservar pra gente. Todos os poucos dias difíceis que teremos e toda a cicatriz que a vida quiser deixar. Isso nao muda nada, nao altera nada do que a gente tem aqui dentro. Nao muda, nem de longe, o fato de duas pessoas que tinham uma casinha, onde, lá de longe, podia se enxergar o mar. E esperavam, cada um, o amor chegar e ele veio pra que eles vivessem mil coisas especiais. Nada muda isso, amor.

Nao tenho mais surpresa no bolso, amor. Nao escondo meu sorriso mais troncho, minha careta mais feia e nem a maior cicatriz que tenho na alma. Tu conhece quem sou, quem fui e quem eu sonho em ser ou serei um dia. Espero conseguir ser uma pessoa melhor, o tempo todo. E nunca te magoar, nem precisar te pedir muitas desculpas. Prefiro é te dizer obrigado, todo dia, por me fazer feliz e ser feliz comigo. Ou dizer que te amo o tempo todo e, quando nao disser, deixar subentendido em cada sorriso de alegria e em cada abraço que te dá.

Nao peço pelos dias antigos, nao quero os dias que foram. Nao a parte de mim sem tu. Nao quero os dias em que nao fazia uma lista infinita e nao conversava 32932983232329 caracteres e palavras, todo dia. Nao os que me sentia só e vivia, preenchendo de qualquer coisa a falta de amor e amar. Quero mais é continuar essa história de ser par. Nem me lembro dos dias de antes, em que eu nao tomei vodka com laranja na Sé, com um moço lindo e que dancei com ele, ali mesmo, sem qualquer noçao de lugar e mundo, a primeira dança que valeu a pena na minha vida.
Sorriso no rosto, pq guardo dentro de mim, toda a alegria desses dias, em que vivi e compartilhei tanta coisa ctg. E, sorriso no rosto por saber que tem hoje e ainda tem amanha.


Nao trago mesmo surpresas no bolso, moço que amo. Tu sabe de mim como ninguém e já imagina qual vai ser meu próximo passo e é sempre o responsável pelo meu maior sorriso do dia. O que trago cmg, hoje, é a vontade de que o mundo nao acabe pra poder viver mais e mais e muita coisa feliz ctg, moço. E conversar, amar, sentir, brincar, sorrir e viver, como nunca fiz antes de ser teu par.
E continuar me conhecendo mais, através de tu. Pq, com teus olhos, eu me vejo mais bonita e mais importante do que penso que sou. Aprendo mais sobre a melhor parte que tenho. Viro, eu mesma, uma surpresa, até pra mim.

Te amo.

Desculpa o mau jeito desse texto. Perdi a mão de escrever. Deixei apenas, tudo sair e construir algo que te desejasse feliz todo dia, amor.

=***************8

sexta-feira, 7 de março de 2008

(...)

Aquele jeito de quem a olha como se fosse ela a pessoa mais importante do mundo.

(...)





obs: e poucas visitas nessa página, deixando mais essa frase solitária.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Um banal

Deveria sim, assim que cada porta se fechasse, vislumbrar qualquer luz que fosse dentro da sala escura.
Deveria tatear o negro em busca de móveis conhecidos e formas conhecidas e deixar-se ir, tocando sem medo o vazio. E assim, indo, descobriria mais e mais...

---

Nao posso dizer que ela sabia exatamente o que estava fazendo. Nem que sempre desejou construir ou fazer parte daquela situação. Nunca nem imaginou que poderia se envolver em algo daquele jeito e, de repente, falar em vez de ouvir.

O discurso que preparara era extremamente pobre. Tivera apenas uma noite, aliás, uma péssima madrugada em que, tentou fazer mais do que poucas linhas (em vao).
Era apenas um dizer de três parágrafos. Cada parágrafo menor que o outro, cada palavra simples jogadas em desespero no vazio de um papel que precisava ser cheio.
Uma idéia que nao revolucionaria, nem empolgaria, nem mudaria nada na mente de quem quer q fosse. Nada que fizesse qualquer platéia do mundo aplaudir de pé ou comentar que havia sido um belo discurso. Talvez nao fosse ruim, mas sabia que era banal. Disso tinha certeza.

Esperou que poucas pessoas estivessem esperando pelo que ela falaria. Pensou em seus pais, algumas pessoas de sua família, uns bons amigos, os conhecidos e os estranhos que a ouviriam. Que pensariam eles, o que gostariam de ouvir?
Qual seria a melhor forma, o melhor texto pra se dizer pra todos? Que palavras poderiam ser tao boas que fizesse uma platéia inteira aplaudir e levar consigo, no final do discurso?
Que idéia poderia trazer que acalentasse cada coração dali?

Talvez jamais conseguisse encontrar respostas pra todas as perguntas que formulou, enquanto nao entrava no palco.
Talvez seu pequeno dizer de três parágrafos sairia menos banal do que imaginava e alguns, levariam consigo, enquanto outros nem ao menos prestariam atenção.

Observaria que alguns conversariam e outro deixariam bocejos soltos pela platéia e possivelmente, alguém até desejaria que se retirasse logo.

Mas ela falou. Disse o que disse e foi embora. Saiu do palco e nem ao menos notou se havia sido aplaudida ou nao. Havia mais o que pensar, outros desafios pra enfrentar e mil e uma perguntas que ainda surgiriam.


"Sem medo do que vem pela frente
pretendo continuar a seguir meu caminho
E terei cuidado em observar os detalhes de cada pedra e cada árvore que passar por mim."

Assim começava o que disse, naquele dia.
Sabia hoje que nunca se preocupou com a platéia.
Escrevera para si.