terça-feira, 25 de novembro de 2008

O sequestro

Com exceção de mim, muitos já sabiam que me caberia, terminantemente, o papel de atuar neste caso. Desde os primeiros passos, da porta ao gabinete, desde as primeiras conversas, de colegas de trabalhos à gerência, estava tudo determinado: um curto caminho. Iria percorrer até chegar ao dia de hoje. Até digitar essas confusas notas de quem começa o que já estava determinado a fazer. Pelos outros.
Aos amigos, perdoem a decepção. Os mais ativistas que dirão, sem dúvida: entregou-se; foi engolido pelo sistema; caiu nos braços do capitalismo; belo traidor! Perdoem, afinal: tantas e muitas conversas travamos a respeito de não nos jogarmos neste presente precipício. Aqui me tenho, com armas nas costas, facas, adagas, foices, enxadas, revólver, espingarda de sal, empurrão, bomba caseira. O medo do extermínio, do fim. Trágico. Eis o que me move. Vejam, afinal! Aqui estou: nada de revolucionário, muito de covarde. Eis o verdadeiro eu.
Explico assim:
Fui ameaçado ontem, em linguagens menos poética (porque descobri: nao há poesia com armas nas costas). Chegaram, por trás, encapuzaram-me, vi o escuro, nada vi. Convocaram-me com uma voz a escrever este texto: "Assim o fazes ou de outra forma morrerás". Dor na cabeça, acordo em meio a transeuntes, todos preocupados com meu "desmaio". Ninguem viu? Aqueles dois homens ou três? Pegaram-me por trás, encapuzaram-me! Calo-me, pra nao pensarem que estou a delirar. Deliro. Sou pego outra vez.
Penso, repenso. Na calada da noite, aqui escrevo. Linguagem, podes dizer: de outro século, XIX em específico. O proprio Machado foi mais moderno. Tento continuar entre ele mesmo e José de Alencar. Nem tanto, nem tão pouco. Aqui estou: 25 de novembro, meados de 26. Me disseram pra dizer: alguma coisa de séria irá explodir na cidade. Aplaudirão-me os ativistas (afinal), perderei o emprego (portanto) . Segurem seus filhos, nao soltem seus cachorros. Tentem nao sair de casa, se possível. É exatamente assim: Marginais decidem acabar com o imperio da fome. Robins Hoods verídicos. Novas eras virão. Mandaram-me escrever um texto com ares retrógados. Pra amanhã começar outro, novo. Sou o editor do jornal que vocês liam até o dia de ontem. Fui sequestrado pra mudar as notícias. Amanhã, é o chamado, manchete, podem aguardar: linhas diferentes.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Por enquanto, poesia.

Escrevi, desde ontem.
Poucas linhas, mal traçadas, aliás
Um tanto de texto mal escrito,
escondendo qualquer intençao que seja.

E se há modo certo de se declarar, nao amo
Pq nunca consegui transformar tanto amor em letra.
Meu verso e prosa estão mortos.
ou vivem escondidos em mim.

Mandei salvarem minha poesia,
mas qualquer coisa levou-a embora
Nao há volta pra quem vai assim, livre.

Choro pelas minhas letras, antigas.
Pelas metáforas que saíam de mim, maquiando emoções.
tanto mar que era lágrima
tanto sorriso que é ser feliz
tanto desenlace que é tristeza
tanto escrito, deixado.

As saudades que tenho é dos contos que nao fiz.
tanto mundo guardado aqui dentro, só em mim.
dos que nunca serão contados.
Deixo-me levar por esse texto, caem lágrimas, me despeço.
queria contar coisas lindas, mas meu coração nao me traz mais historias.
Imagino algumas, escrevo poucas, admiro nenhuma.
um dia, volto a escrever aqui.