segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

hum...

Para mim, Paula, pseudo-contadora de histórias, pretensa autora de textos desse humilde, porém distinto, blog, nao existe outra verdade que nao seja a que sinto. Lógico, existe a teoria da relatividade e milhoes de coisas afins que me provarão, milhoes de vezes, por a+c, que nao vou estar sempre certa. Mas faço pouco da racionalidade, nasci assim.
Dispensadas as apresentações e formalidades, termino de dizer o que comecei falando: para mim, mesmo sabendo dos erros e tropeços e das milhoes de pedras no caminho, das noites mal dormidas e das lágrimas que, fatalmente, cairão, prefiro assim: o sentir. E ainda afirmo, com as letras de quem tem certeza apenas do que se passa consigo e, egoisticamente, ignora o que se passa com qualquer outro alguém, que sentir é ter, em si, amor. E amar é fácil, se deixarmos que assim o seja. Ou é sofrer. Depende de nós.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Tudo em dobro

Adoro Natal. Pra mim, sempre significou o que tem de melhor: estar perto de quem vc ama, presente de papai noel, música qualquer tocando na sala, família cantando, a muvuca da reunião, um céu diferente, estrelas diferentes, mágica.
O engraçado é que é aquela época do ano em que todos se mostram "bons" ou "melhores" ou dispostos a melhorar. É a época do perdao e do arrependimento. De pedir desculpas, de fazer planos, de reorganizar o que nao for certo, pq o final do ano vem por aí e queremos que o que for de ruim passe e o que for de bom, venha.
Aproveitando a deixa, como eu nao sou boa de desejar votos natalinos, repito essa minha última frase, reforçando a idéia que nao serve só pra hoje, mas para todos os dias: que o que for de ruim passe e o que for de bom venha. Para todos vcs.
E que a esperança, aquela que sempre é mais forte nessa época do que em todas as outras, reine. Pq há de se esperar coisas boas do tempo que vai chegar. Não importa quais sejam.
Aproveite, aproveite pra acreditar em presente de natal, em pedido pra estrela cadente, em desejos que se realizarão. Aproveite pra colocar a maior força e a maior energia no pensamento de que tudo vai dar certo e vai ficar bem. Chore seus perrengues, ria das suas alegrias, trabalhe pra construir que o que vc deseja lá no fundo aconteça.
A noite é mágica, aponte a varinha que acontece. Esse post tá piegas, como qualquer post estaria, falando dessa época do ano. Mas vale a intençao, nao vale? Recebam meu desejo de que venha o melhor. Sempre. Há de se esperar o melhor do tempo que vai chegar.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Dezembro

Porventura percebes que meu coração de papel rasgado, insiste em querer juntar seus pedaços e fazer-se de novo pulsante, bater, talvez, por bater?
Há de se jogar a sorte pra saber se ainda voltará a ser o que foi ou maior do que é, do que se espera ser, de ser.
Não há afago que preencha os queixumes, essas lamúrias de quem quer apenas ter o que faz pulsar.
Não há prazer que eu vislumbre sem que faça-se, de novo, coração; por mais que tente. Não há.
Sonho que se faz deslumbre, vontade errante, desejo e nó.
Nó que se desfaz as poucos, estando ao seu gosto, vendem esperança em pó.
Compre passagem pro meu lar ou fique onde estar, nao há segurança em mim.
Nao te prometo a minha paz, mas quero demais, voltar a sorrir.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

baila.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Ele arriscou perguntar, mesmo sabendo que o sorriso que ela, relutante, deixava existir no rosto, morreria com aquelas palavras.

domingo, 6 de dezembro de 2009

"um dia frio, um bom lugar pra ler um livro"

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Clarice inspirou:

Dilacera em pedaço minha vontade. É o meu viver que vem vindo forte. Deixo espaços pro que nao for bom, afinal, pede minha alma, ora lobo, que devore ou que me deixe ser devorada. Sim, deixo o que for entrar e nao fecho a porta. Há poesia querendo chegar e uma voz que começou a cantar e me dizer coisas que, hoje, quero ouvir. Ao amanha, nao reservo qualquer esperança que seja de qualquer coisa que for.Por hoje, registro alegria. De sentir.
Viver é uma arte inexata. É o passo que se dá que faz invadir. Desejos. "O que desejo ainda nao tem nome", dizia Clarice. O que desejo vem com meus passos, digo eu. Em cada vírgula, cada palavra, cada canto, cada deixar...de novo. Existem esses sorrisos que vc se encanta. E esse sorrir de ser encantado por eles.

domingo, 29 de novembro de 2009

Essência

Pequenamente menina, encontrou-se mulher.
E há quem enxergue a fórmula que esconde.
Veneno e flor. Forte e suave. Vermelho e azul.
Inspira cuidado porém nao se engane. Há mais de apertos do que de abraços.
Foi feita assim, embora modifique-se por vezes querendo caber em idéias que nao dao certo pq anulam o que é.
Solta, porém, voltou a si.
E há quem enxergue a fórmula que esconde.

sábado, 28 de novembro de 2009

O que faz sentido:

Amizade é uma coisa que te segura firme na hora em que o furacão vem passando. E quando ele passa, com aquela vontade vulgar de te derrubar, é uma delícia saber que nao é só vc que está lutando pra se manter firme. A todas as mãos que lhe empurram pra frente e lhe ajudam a construir o seu castelo ou sua casinha de taipa ou ainda qualquer morada que vc escolher, agradeça fortemente. Nada é mais forte que um coração amigo, nada é mais bonito do que essa torcida desinteressada de que tudo dê certo. Aos meus amores.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Pelas noites...

Doce ironia - pensou. Olha a chuva!
E logo ali naquela noite especial! Vestido especial, unha pintada, cabelo brilhando. Havia perdido aqueles exatos 2kgs que toda mulher sonha. Confiança de que tudo seria mágico a começar pela lua que brilhou pra ela logo quando saiu de casa e....chuva! Forte....
Se encostou no aperto de umas 30 pessoas, embaixo de uma marquise de 2 metros. "OK, vai passar..." Foi só acabar de pensar positivo quando se deu conta que estava no escuro. Sim, havia faltado luz. Sexta feira treze, acreditem: não é superstiçao. Bem, vamos pra casa entao e fim de noite... "Mas logo ali tem um barzinho iluminado, ta vendo?"- disse alguem.
Era verdade, a luz era fraca mas havia luz afinal!! Mesmo nas piores sextas-feiras.
"Quer que eu te leve lá? Nao tenho sombrinha, mas corro ctg na chuva" - falou a mesma voz.
E assim nasceu o primeiro sorriso da noite. Esperando ansioso pelos outros que viriam. E vieram.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Acredito em amor mais do que nunca - pensou. Mesmo que a vida se encarregue de me fazer acreditar o contrário. Deitou de lado e foi dormir.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

MG

Bem, é certo que atraía novidades e tipos interestaduais. Tinha um encanto brejeiro, que atraía, por assim dizer, por espanto - qta inocência nesses dias!! Sua amiga pegava o canudo e fazia um olhar sedutor, enquanto ela apenas sorria e dizia: cmg nunca vai dar certo!
Minas Gerais esconde pessoas assim: olhos pequenos admirados. O nome é de sertanejo, falta a dupla, eita apareceu, nada falta mais!! "Preferimos Brahma a Skol! Eita, ó lá, o cara se equilibrando na corda! Tem sempre disso aqui? Vai cair!Noossa! Vcs colocam coentro em tudo aqui. Sabe um lugar bom pra almoçar, sem coentro?!". A noite passava e caía na risada: sim, era possível sorrir. Pessoas despertam isso, são o tempero disso, origem, meio e fim. Subiu pro banheiro com a amiga sedutora - a que ficou perguntou: é aquela? E ele disse nao. É a outra e ele apenas sorriu. Ao voltar, sabia-se a escolhida. E já sabia disso bem antes de precisarem de palavras. Olhares e sorrisos nao mentem. A noite era um encanto e deixava cair magia. Ela abria os braços em pensamentos. Em ação, encostou-se na parede. Do lado, um novo alguém. Ainda desconhecido, revelando encantos. Transparecia em pequenos detalhes. Nas coisas simples. Pessoas se revelam em gestos pequenos. Era observadora, notou. "Cuidado com a rua!" Puxava ela pra mais perto, enquanto os carros, tantos, passavam, bem proximos. E ela distraída. "Cuidado com a rua", olhando pro galego que já postava-se do seu lado, cheio de olhares. E ela distraída. E riam daquele pequeno segredo novo. Ao desperdir-se um até logo. Ao ir embora, a ligação. Ao deitar-se a mensagem. "Saudades". Sim.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Sobre bonecos e ruas

Sim, existe o colorido momentâneo e tudo aquilo que se vive - pensou. Apontou pro boneco de Olinda que aparecia pela janela de uma das tantas casas daquela rua em que caminhava a dois. "Olha, já viu?". Mostrava aquilo como se dissesse: "Isso sou eu, gostas?" E ao mesmo tempo em que queria que ele nao gostasse, permitiu-se deixar ser gostada por ele. Sim, as ruas de Olinda tem uma cor sem igual, ele dizia. "Nao saio mais daqui". E ela se calou pq nao sabia se queria que ele ficasse. Sim, existe o colorido momentâneo e tudo aquilo que se vive. Frases a invadiam e diziam: é hoje e somente hoje é o que é, vá. E ela decidiu ir e colorir-se mais uma vez. Pq vale a pena andar de mão dadas em ruas como essas e sorrir com as besteiras que se descobre a dois. E apesar das mãos estarem sendo tomadas e sua vida, mais uma vez, invadida: nao se sentia mais a vontade pra andar assim, junto. Queria sorrir, é fato. Queria abrir a janela e deixar o sol entrar, queria dividir a beleza que sentia em coisas simples. Queria admirar e respeitar o ato do outro, que dividia a água com a velhinha dançarina daquela rua. Gostou do sorriso, sorriu de volta. "A velhinha sempre estará ali, dançando e declarando amor apaixonado ao violeiro que canta na varanda daquela bodega!", ele dizia. "Mesmo que tudo mude ao seu redor", ela pensava. Mesmo que coloridos venham e vão, em novas cores. Mesmo que as cores antigas nao mais importem ou que seja melhor pensar assim. A velhinha continua dançando e as janelas estao abertas pra que vc mostre a alguém a beleza de um boneco, o encanto de um momento e viva a noite com alegria. E amanhã, um novo dia.

domingo, 25 de outubro de 2009

Silêncio.

Nada mais falou, resolveu calar pq qualquer palavra dita poderia estragar o momento. Ouviu o último suspiro, sorriu em favor e pensou naquele instante que nenhum dos dois precisariam de palavras. Isso seria amor. A compreensao do calar, o viver do momento em que se está apenas junto. E nada mais. Pq o nada, por vezes, é tudo. E aquele momento, como tantos outros que já viveram, apesar de aparentemente ausente de emoções, trazia em si tanta importancia quanto todos os outros. O que importa nao é a aparencia, mas o que se sente. Ninguém pode esconder de si o que se passa por dentro. Adia-se, esconde-se. Mas nunca por muito tempo. Quem somos é sempre reflexo do que vivemos. Como a teoria da tábula rasa, sabe? De que somos vazios ate o viver. Entao cuide bem de seus proximos passos. A todo tempo nos é oferecido caminhos para mudar o que incomoda, consertar o que nao é certo, buscar o que se sonha, realizar o que se busca. É dificil, por vezes, olhar pra si e reconhecer que, na verdade, nao somos tao bonitos e perfeitos e passíveis de desacertos. Não. A verdade sobre o que não queremos ver em nós, pode doer sem duvida. Nada tem a ver com o que esperam e com o que esperamos de nós mesmos. E naquele momento, calavam, pq estavam voltados pra si mesmos. Conhecendo os monstros que os habitavam e que podiam, há qualquer tempo, emergir e estragar aquele momento. Sabiam que nao se julgavam e que aceitariam as vírgulas que tbm o faziam ser o que eram. Qe discutiriam e se resolveriam pq se respeitavam e se amavam, a despeito de tudo. Mas calaram. E calaram pq escolheram o sorrir. Calaram pra tbm calarem os monstros.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Amor e liberdade

Eu tenho pensado bastante a respeito de liberdade e relacionamento. Acho que uma coisa nao anula a outra e vice-versa. Nunca fui a favor de pessoas que se anulam pelo outro. Tenho uma personalidade forte o bastante para jamais querer destruir em mim coisas que eu sempre amei só pq nao sao aceitas por qualquer pessoa, mesmo que eu a ame. Entretanto, me pego pensando qual a diferença, afinal, de relacionar-se com o outro, se nada muda, se tudo é igual, se nao nos transformamos com essa uniao, se continuamos tao só o que somos e jamais nos permitimos ser um, porém dois e dividir? Se eu me proponho a andar de maos dadas pela vida, existem esquinas em que vou olhar pro lado e pedir a licença do outro para entrar. E convidar, afinal, estamos ou nao estamos caminhando de maos dadas? Amar é tanta coisa a se definir que eu nao sei precisar. Eu vejo no amor o ato de dividir, de acompanhar e, sem isso, estamos sós, mesmo se estivermos acompanhados. Não é querer podar liberdade de alguem, nao é exigir que o outro lhe peça permissao e nem deixar que o outro comande o que vc vive. Acho que jah ouvi varias vezes e concordei em todas as vezes que ouvi, que amar é ceder. Nao o que somos, nao o que desejamos e o que sonhamos. É ceder aquele espaço que antes era vazio ou ocupado com milhoes de coisas sem sentido para um outro disposto a ali sentar, participar e dar sentido a tudo aquilo que antes nao tinha. Se algo quebrar em tua vida, eu ajudo a consertar. Se a melhor musica toca na minha estrada, eu te convido pra ouvir. Pra mim, amar eh isso. Participação sem arestas, sem vírgulas, sem impedimentos, sem segredos. Pq os segredos acabam com o amor.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Há de se esperar alguma especie de boa vontade, senao de compreensao da borboleta para com o elefante. Sim, porque a nao ser a diferença gritante de tamanho e cores, por um ser menor e o outro ser grande, por um ser cinza e o outro ter cores, nada mais são do que semelhantes.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Primeiro dia

Terminada as estafantes instruções da secretária que a atendeu sobre o que deveria fazer dali por diante naquele novo trabalho, resolveu dar uma passada no banheiro e conferir o visual. Acontece que eram 8hs da manhã e aquele horário nao era seu, de hábito. Por andar de ônibus acordara umas 3hs antes apenas pra chegar na hora certa e, pelo menos, parcialmente apresentável. A maquiagem simples, leve : pó, lápis e brilho labial. Não havia como encobrir as olheiras que herdara daquela noite mal dormida. Disfarçara apenas. Saiu procurando o banheiro...

-Olá.
- O-oi, respondeu surpresa.
-Vc é nova aqui?
-Deu pra notar?
-Vc não tá fazendo esforço pra disfarçar.
-Nao? Droga, pensei que estava.
-Má atriz.
-Ok, fazer o que...e vc? trabalha aqui faz tempo?
-Nada, novo tbm. Primeiro dia.
- Tbm? Pelo menos vc disfarça melhor do que eu.
-Bem melhor. Qualquer pessoa faria isso.
-Tão ruim assim?
-Como atriz sim.
-Mônica.
-Eduardo.
-Prazer - os dois juntos.
-Bem, secretária da área de finanças.
-Vai receber mta ordens...
-Como vc sabe?
-Bem, vou ser seu chefe. Diretor do financeiro.
-Uau.
-É....
-Pega leve no primeiro dia, pelo menos?
-Claro, reparei nas suas olheiras.
-Er...
-Mas nao se preocupe. E durma melhor hoje. Quero vc sem olheiras amanha.
-Primeira ordem?
-Sim. Incontestável.
- Ok, chefe.
- Eduardo.
- De que?
-Eduardo apenas.
-Começo por onde, Eduardo?
-Vá pra casa hoje. Volte bem descansada amanha.
- Só?
-Por ora.
-Mas...
-Vá. Tenho mta coisa pra fazer hoje. Pessoas pra conhecer e me apresentar. Nao vou ter tempo pra vc. Nao chore.
-Ahahahaha. Bom humor.
-De 8hs da manhã? Impossível.
-Ironia.
-Isso.
-Entao... foi um prazer, Eduardo. Até amanha....
- Até, Mônica. Não esqueça de dormir bem. Amanhã temos um mundo de coisas pra realizar.
- Virei descansada.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Menino e Menina

Sabe-se, que de alguma forma, lá no final daquela cidade, entre cochichos e "ouvichos", diz e me disse, havia aquela história de arrepiar os cabelos até do coração: Magno Cordeiro, rapaz quase homem, era, por si só, o personagem principal. Desde criança andava com Luísa e beijava seus cachos e brincava de par. E até que ganhassem corpo e pensamento de quem já cresceu: andavam de mãos dados por lá e por cá, pra qualquer um ver, qualquer um olhar.
Eis que vem o primeiro amor de Magno e - que surpresa- não era Luísa. A moça, ou melhor: mulher, tinha mais de 12 anos a sua frente e sabia fazer jeitos e trejeitos que nem imaginava Luísa. O pegou com um olhar, mão na boca, batom vermelho. E depois de o pegar, lhe caçou com um beijo. E aí o menino, mal crescido, franzino, achou decerto que cresceu e ficou com ares de homem. Luísa não o reconheceu: andando espigado, nariz empinado, braço dado com aquela... bem, essa estória foi assim que começou.
Luísa chorou, derramou bastante lágrimas, mas mal teve tempo de pensar demais: seu corpo aflorava, seus cachos abriam e seus pés a guiavam pras danças e festas que começava a descobrir que existia. E seu corpo moldava mto bem no corpo dos muitos rapazes que a chamavam pra dançar e ensinar seus passos tímidos de moço. Muitos apaixonados, encantadas, querendo beija-la, ama-la, casar com ela. E ela sorrindo a uns e outros, descobrindo todo o efeito do balançar de seus cachos e do som do seu sorriso.
Magno bebia, bebia mto. Aquela mulher o deixou, o trocou por outro: mais moço. Virara o bêbado da cidade, sujo, dormira em praça, dormira em ruas e brigava em festas daquele tipo, em que Luísa dançava.
Depois da última virada, daquela cachaça, resolveu fazer o que devia
Pegou, pelo braço, adivinha: Luísa.
Ela se virou e fechou os olhos, incomodada com o cheiro de cachaça. Magno, inebriado, vendo torto, vendo nublado,tascou um beijo bêbado, urgente, qualquer. O primeiro dela. O último dele. Suado, molhado, violento. Insano.
Mal acabou e Luísa fez o que era certo: sua mãos, certas do que queriam, seguiram pra um estalo, bem em meio ao rosto do bêbado. Olhou pra saber onde bateria e viu: entre trapos e farapos, era o seu Magno. A mão parou, a tapa nunca existiu. Virou-se correndo, as lágrimas escorrendo, cegando, fazendo-a tropeçar uma, duas, outra vez.
E o bêbado não desmaiara com a primeira pancada na cabeça, demorava bastante, sentindo cada pé e mão que se fechavam contra ele, o cobriam, causando-lhe dor.

Noite na cidade:
Ele, desmaiado e apanhado em meio da praça, não sonhava mais com nada. Ela, acordada, deixando cair as lágrimas, pensando em como seria, em como eram, sonhando que nada fosse assim. Que fosse amor...

Parece que ele, Magno, acordou e, por um instante, afastando a embriaguez, soube que beijara Luísa. E soube, com toda a certeza de sua vida, que não havia outra, nunca houvera nada: existira foi o medo do estremecer do seu corpo ao beijar seus cachos, do pular em seu coração qdo apertava a mão dela, das pernas bambas quando ela se aproximava, do jeito que a olhava quando nadavam sem roupa, da pancada no peito quando ouvia uns tantos falarem dela, do piscar dos seus olhos, do som do sorriso, da vontade de beijar....crianças, apenas, crianças.... tanto medo, fugira: encontrara aquela mulher, amara. Amara Luísa nos braços dela. Afugentara em seu corpo o seu desejo, queixava em seus ombros o seu ciúme, bebia em cachaças de festas as danças dela. Bateu e arrumou brigas com quem a tocou. Apanhava com um sorriso, batia com outro: vingava-se com todas as forças das danças que eram dele. Quase matara, quase morria.

Nessa vez, apenas nessa, a desraça veio com um beijo: sabia os pensamentos do desgraçado que dançava com ela, ouvira entre garrafas quando ele falou. Protegeu Luísa dos enganos daquele. E o beijo afastara ele, afastara tudo, o mundo, a morte, a vida. Valia cada dor em seu corpo, cada parte quebrada.
E, agora, nesse momento, podia, muito bem, fechar os olhos e morrer. Lutou com a escuridão do fechar das pálpebras. Viu o último sol brillhar em seu rosto. Imaginou, por um instante, que ela o chamava, que estava ali. Apertou as mãos de sua imaginação. E sorriu.

Sol

Adormecida de sono sem fins, tentou evitar o sol que entrava pela janela.
Em seu pequeno quarto não haviam mais cortinas.
Foram rasgadas pela última noite em que ele existira em sua vida.
Mal podia lembrar de seus olhos - que olhos!- lhe dando a certeza de que era amada, que era viva, que estava ali.
Doía.
Doeu bastante quando ele foi.
Com um chamado, apenas, saiu de sua porta e a trancou por dentro.
-Não saia! É tarde. Eu vou.
Ela quis sair, quis ir com ele, quis salvar sua vida, salvar-se do medo que seria quando ele não mais voltasse.
E hoje, acordando e indo olhar seu triste rosto no espelho, via, bem claramente: era ela sem ele, sua imagem gritava. As marcas de lágrima em seu rosto, os olhos que mal abriam, incomodados com a luz do dia, com o amanhecer, com qualquer sol em sua vida: ansiosos pela noite sem fim, pela escuridão...
Ela que antes, tão forte, carregava em suas costas todo o peso do mundo. E chorava por tantos e chorava por outros. Hoje, fechada em si, não havia espaço pra ninguém. E nem pra amar qualquer pessoa que fosse. Lágrimas dedicadas a si mesmo. Cantando sua música triste...

... O sol a acordava todo dia e gritava com ela. E suas cortinas continuavam rasgadas como se, no fundo, ela ainda quisesse ser iluminada.
Nada mais havia entre o sol e o por do sol.
Havia, quem sabe, a certeza de que tudo acabaria.
E uma leve esperança de que permanecesse.
Pra lá do que havia, nao sei.
Há incertezas e dúvidas sobre o que não existe.
Pra nós.

terça-feira, 28 de julho de 2009

TPM

Pensou Andréia que sua TPM estava no fim e que dali a alguns dias seu humor melhoraria como sempre. Seu namorado, por vezes, ficava perdido com tanta mudança, com essa bipolaridade que nao é transtorno, que nao é doença, que não é loucura e sim todos os três em conjunto - pensava ele - embora se justifique pela alteração hormonal - que andréia melhor dizia: ebulição hormonal - que atinge a grande maioria das mulheres. Mas pq - pensava Andréia - não entender que a famosa sigla não trata-se de desculpa pra justificar crises de insegurança, ciúmes e descontrole emocional? E pq não ser desculpável? Sim, pq só o fato de poder gerar em si outra vida já poderia servir de desculpa por todas as crises de relacionamento começada por ela e por todas as outras mulheres. Sem os hormonios, nao existiria tpm. Mas sem os hormonios a humanidade seria extinta, já pensou? E teríamos, talvez, barba! E os homens ainda - pensou numa visão mais feminista, deveriam nos ser gratos pelos nove meses que não carregam e pela ausência de menstruação mensal, já que fazemos esse favor pra eles. Entao, namorado, ela diria: respire fundo e se me ama, entenda. Eu, que sofro toda essa mudança e passo por todo esse processo, reclamo mto menos da mal afamada TPM, do que vc. E, sendo considerada por homens como o inferno mensal das relações, com propriedade, Andréia resolvera defender a TPM, achando que assim defenderia seu direito de ser mulher em plenitude. Não trata-se de um distúrbio, nao trata-se de doença, nem de frescurite qualquer. É apenas mais uma característica daquilo que nos individualiza enquanto mulheres e nos une em coletividade quando nem precisamos nos explicar o que é que acontece por dentro e pq tudo é assim. A gente entende.