sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Novo

meus, teus, nossos
planos de malandro
feitos ao acaso
num compasso, descompasso
dessa nova dança.

teu, somente, jeito
me deleito
"sorriso de criança"
esperança, peixes,
paz
lindo, repito, te digo
oceano de amor,
desejo feito,
tanto tempo te conheço
só agora te mereço

sábado, 16 de janeiro de 2010

Sentido

Como entender, como entender?
Avalanches, terremotos, furacões. Vidas que vão em segundos, famílias que se decopõem embaixo de destroços, sorrisos que se paralisam no tempo, destruição...como entender?
Como nao questionar o que nao está ao alcance de nossos olhos, como compreender os desígnios, COMO se quando o sentimento e o sofrimento são mais latentes do que qualquer razão?
Difícil é enxergar o bem quando ele nao se mostra...
(O grito fica preso na garganta dela e a revolta explode por dentro. Falta pouco, muito pouco, pra nao perder a fé. O filho foi encontrado morto, o marido desaparecido. E ela ali. Viva. Como entender o porquê de lhe ser concedida tal "maldição"? Perder o amor, perder os seus e ficar ali, impotente. Saiu andando sem destino, correu de quem disse que teria que limpar alguns ferimentos, fugiu daquela cena em que tantos ficavam feliz por ter sido encontrada com vida. Por estar viva. E ela morria a cada passo, as lágrimas deixando rastros que se apagavam rápido. Parou quando sentiu as forças irem embora. Parou quando as forças foram embora. Deitou sua cabeça no chao, esperando outro terremoto que a levasse dali, que a cobrisse com sua impiedosa vontade de destruir...
Nao houve terremoto, nada veio acalmar a dor. Nada surgiu pra apaziguar o sentimento. Nada.
Até que escutou.
Fraco, longe, dolorido, frágil. A tirou de seu transe e alertou-a para vida. Foi em busca, sem pensar. Retirou do lado, pedras que apenas 2 homens levantariam, sem sentir dor. Tinha vontade, tinha urgencia, conseguiu remover todo o jazigo de pedra que se encontrava sobre aquela criança. Sedimentando a morte que chegaria se ela nao estivesse ali.
Foi quando entendeu.
O seu sofrimento fora a salvação daquele ser. Foi por ele que ainda estava ali. E por si. Para que entendesse exatamente aquilo que entendeu quando apertou a criança em seus braços. Para nao duvidar.
A morte chegara para os seus para que, em desespero, acalentasse aquele choro e tocasse aquelas mãos.
Abraçou-se com a vida e aceitou o seu destino.
É difícil compreender quando dói, quando é ferro em brasa.
Mas um dia tudo faz sentido).

Terremotos, furacoes, avalanches. Nao sei o quanto uma alma aguenta. Nao sei o quando o mundo ainda pode aguentar. Nao sei o que se espera que compreendamos disso tudo, quando o sentimento primeiro é o choro, a pena, a perda, a dor. Está distante de nossa razao limitada, está adiante, muito adiante, da nossa fraca compreensão.
Mas um dia tudo faz sentido.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Doce

Nao exigia, nao queria, nao pedia, nao mostrava-se a sua disposição, nao era de desfilar carencias e fazer exigencias. Também nunca saía dali. Tinha as exatas palavras que calavam suas angusturas e o doce carinho de quem nao consegue ser nada menos do que doce. Perdeu-se por horas. Entre suas palavras e o seu silencio, achara seu alento. O afeto que faltava. Nao é de se confundir amores com outros sentimentos. Mas acontece que hoje, especialmente hoje, é de se confundir outros sentimentos com amores. Assim pensou.
Doce.

sábado, 9 de janeiro de 2010

A noite

Ele a chamara com aquele gesto vago de quem sabia que ela iria, desde o início.
Embora seu coração acelerasse com a direção que seguia, manteve o impossível controle e aquele jeito de quem simplesmente chega para dizer oi.
Havia, por tanto tempo, esperado aquele dia, tanto ansiara que temia. E tudo começaria a partir dali.
Foi apresentada ao amigo da mesa e convidada para sentar-se. Disse que encontraria uma amiga e voltaria em seguida. Pernas bambas, desejo de ficar, mas conseguiu ir embora com naturalidade. Deixou no olhar que jogou pra ele, antes de ir, o que ele, certamente, já sabia: estava feliz de encontra-lo ali.
Quando viu a amiga, sorriu com a armadilha. Ela a colocara naquele caminho, apenas porque sabia do fim. Xingou com sorrisos, disse que a odiava com carinho e dirigiram-se até aquele lugar em que, se conseguisse respirar naturalmente, sobreviveria. Sentou-se ao lado dele.
Oferecida a bebida, mal teve tempo de registrar o que ele colocava em seu copo. Os gestos saíam no automatico e seus olhos nao desgrudavam mais. Ele se aproximava e a tocava como se aquele toque fosse conhecido pros dois. E cada encostar, uma faísca. A tocava como se fosse dono dela. Não se importou. Disseram tanta coisa que jamais lembraria, tantos convites sedutores à sedução, a seduzir-se, ao amor, à paixao, à febre que sentiam, àquele momento que, finalmente, viviam, à tudo aquilo...ao tudo. Outras pessoas invadiram a mesa que foi ficando maior e, de repente, estavam do outro lado, juntos, rostos colados, conversando qualquer coisa que fizesse ou nao fizesse sentido. Bocas se tocando de leve, enquanto pemaneciam ali. Palavras iam e voavam pra qualquer canto, existiam respostas mal ouvidas e perguntas mal feitas, nada registravam. Estavam ali. Simplesmente. Ele falou alguma coisa sobre o seu cheiro que exalava algo que só ele sentia. "Cada um sente de um jeito". Sim, ela sabia. Sentia por ele de uma forma diferente. "Tem a ver com instinto, é animal". Claro que seria, era mais que comum, sem dúvida...
Nao soube quem a despertou e comentou que tinha que sair dali e voltar pra casa. Nao sabe até hoje porque resistiu ao convite dele de leva-la de volta. "Fica mais, eu te levo. Eu to bebendo, mas meu amigo vai dirigindo". Nada sabia...
Existe apenas, em sua vida, o registro de que nao ficou... E até hoje nao sabe precisar o porquê...
Talvez por fugir de um local que nao fosse seguro, talvez por temer a ele, talvez por temer a si. Nao existem certezas que falem daquela noite, sobre o que sentiu, sobre o que sente.
A única coisa certa é que sabe o caminho exato que deve seguir quando quiser viver algo que tire seus pés do chao. O mais perigoso. O dele.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

arrumou a mesa, varreu os cantos da casa e olhou aquele ambiente novo.