quinta-feira, 7 de setembro de 2017

É.

A noite era fria mas a companhia a esquentava.
Mais um momento em que, desde o primeiro momento, as cores pareciam mais fortes.
A mão dele descansava na sua, com a certeza de ser o lugar.
A cabeça dela descia até o seu ombro e, encostada nele, ouvia o jazz aquecedor que circulava.

Naquelas notas, sem letras e sem música, ouvia tudo sobre o seu amor.
O amor que identificava nas pequenas coisas, nas vírgulas do dia e nos quilômetros da estrada.
O amor que é amor. 

Amanhecer

Alice usou óculos escuros porque não queria levar pro trabalho as marcas de mais uma noite mal dormida.
Entrou no carro e viajou por um ou outro som quando decidiu que o silêncio seria a melhor música para aquela manhã.
Não pensou no trânsito, nao pensou no atraso, não pensou na hora.
Seus pensamentos traziam lembranças de um momento que tinha parecido ser diferente.

Alice apertou os olhos por trás do escuro dos óculos.
Lembrou do vinho português, do calor do quarto e de ter esquecido de pedir para apagar a luz.
De ter acordado em um momento entre a noite e o dia e de ter achado estranho sentir conforto.
Lembrou da esquiva, da rapidez com que saíra dali.
Do pânico em querer ficar.

Ainda agora...

Alice ajustou os óculos logo depois que estacionara.
Ainda intrigada, desceu do carro.
Balançando os cabelos, afastou os sonhos. 
E fugiu pro seu dia.

Pausa pro café

Fechou mais um livro e esperou que o tempo passasse.
Era um feriado preguiçoso e frio.
No ar e no silêncio ouvia o som do futuro, burburinhos do passado e toda a paz do agora.
A melancolia de um dia inteiro reservado para sonhos.

O que fazer com eles?


Torcida

Querido pequeno,
Nao interessam minhas palavras, eu sei.
A vida - que vida! - depositou em pequenos potes todos os sonhos.
E os escondeu bem.

Mesmo assim, sem ouvir ou ver, tento te dizer que continuo querendo afastar as sombras.

Qualquer sombra que esconda parte do teu rosto, aquela parte em que eu lembro bem como um sorriso.

Aguenta, corre, te socorre.

Não posso, não vou,
eu torço.

Continuamente e de qualquer forma desde que essa forma seja pra sempre.

Há uma corrente, sabemos, e ela chega aí como chega aqui.

Querido,

acabaram-se as vírgulas mas nao se acabaram os encantos.
Te esforça, te nota, sobrevive, vive.

Fica bem.




Furtos e surtos

Afanava alguns desejos de qualquer um que estivesse perto.
Desejos a movem, a mordem, a deitam em uma rede de tranqulidade onde, em fogo, dorme aquecida.
Pequenos objetos, pensamentos, páginas.
Milhões de personagens de quem continuamente rouba desejos.

Haveria de se pensar que, desejosa assim, gostava bastante da conquista.
Mas é a busca que lhe move.