sexta-feira, 29 de abril de 2022

Como desembalar o presente?

Animadamente, ajeitou o cabelo de lado e notou que eles caíam bem mais bonito naquele dia frio.

Havia planos, construções, projetos em andamentos - se permitia, enfim, enfim!

Havia delícias doces ainda oriundas da páscoa, presentes que não eram ou eram chocolates (não curte muito puro porém adora harmonizá-los), presentes carinhosos, ainda embalados (o melhor é a surpresa de nao saber o que sao, o ritual de desembalá-los ou  o ato de receber não importando o que sejam?). Havia um final de semana inteiro pela frente e a expectativa de preenchê-lo bem.

Sim, tinha esse dia frio e a ausência do sol da manhã, as nuvens - densas e escuras - escondendo os melhores raios e anunciando chuva. Talvez temporais, talvez pequenas gotículas pra aguar o jardim, talvez apenas o que precisava pra lavar um pouquinho a alma com o clima, barulho, quem sabe dança? Tudo em pausa, em suspensão, alimentando expectativas, particularmente boas nesse momento, promessas especiais.

Os cabelo lindos, a pele brilhante e o coração cheio no espelho. Na mente, o pensamento de que o presente é dos presentes que se deve desfrutar com carinho e energia. Desembalá-lo docemente, alimentado de expectativas. E que sejam surpresas de chuva. E que venham supresas de sol. Apenas venham. 


Obs: texto escrito por uma boa recebedora de presente, mas muito melhor presenteadora. 

domingo, 3 de abril de 2022

Gratidão à Lygia


“Me leia enquanto estou quente”.

Não deixe solitárias minhas linhas incendiárias.

Não abandone o meu texto nos momentos de combustão.

Por favor, permita-me as alterações de alguns sentidos enquanto escrevo.

Aceite o vulcão, aceite a explosão, aceite-me inflamada.

Abranda, afaga, com olhos afetuosos as frases incivilizadas.

Compreende, sim, entende-me insolente, impertinente, deselegante, pouco educada.

Mulher. 

Humana.

Ama também e benevolente cada palavra inconsequente, descontrolada. 

Permite licença ao meu ardor, à minha paixão, à vontade de existir associada à confusão da existência. 


(Ao escrever, sinto as emoções transformando-se em palavras, lanço perguntas, formulo respostas, novos questionamentos, toco minha alma em pontos delicados, me conheço, me desconheço, faço planos, desfaço, sem pretensões, mas esperançosamente, espero tocar sentimentos 

além dos meus, imagino leitores, espero que gostem, embora duvido que entendam). 


Me acompanha, me folheia, até o fim do texto, 

não precisa adorá-lo, nem compreende-lo, nem minimamente gostar do que escrevo,

mas, por favor, “me leia enquanto estou quente”.


(Humilde homenagem a Lygia Fagundes Telles)