segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Nesta data querida

Vou te dá um presente, um bolo saboroso, um abraço apertado e uma cartinha de amor. Talvez um pacote de bombons recheados, uma pizza no sabor que tu gosta, uma receita boa feita por mim e um brinde, acompanhando bebidas que deveriam estar estupidamente geladas ou saborosamente quentes, como devem ser; um brinde (!) , um sorriso que transmite tudo e mais um pouco; um brinde(!), meu amor e todos os sentimentos; um brinde(!) no meio da chuva ou do sol com trovão; um brinde(!), pra te saudar e adorar, amor. Surpresa?

Acho que não. 


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Sobremesa

Um doce, um doce aroma pra sustentar as questões que parecem vim do corpo, mas são da alma. Um doce.

Um pequeno, mas dos que derretem e preenchem de formas tão pecaminosas que deveriam ser proibidas. Um doce.

Um que escondi, mas não deixei se perder pra sempre, que leva-se à boca com um estalo e acaba cedo demais, antes demais. Um doce.

Um que mordi um pouquinho aqui e ali, quase com pena, já com saudade do gosto, me despedindo de cada um dos pedaços. Um doce.

Um que saboreei de olhos fechados, sentindo todos os detalhes que prometia e todas as surpresa que escondia. Um doce.

Um que permiti lentamente despertar com ousadia apetites, sensaçōes, gostos, maravilhando, açucarando, deixando, consentindo, invadindo, tomando, deliciando. 

Um doce. 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Pessoas por quem ela poderia ter se apaixonado I

Natália conheceu Henrique durante um hiato. Sim, um hiato. Um tempo em que ela não queria e nem se permitia querer nada com ninguém porque o relacionamento de sua vida, que estava sofrendo temporariamente por motivos que não tinham relação com falta de amor, espreitava quaisquer intenções de seguir adiante. Foi nesse tempo que Henrique apareceu.

Henrique era um pouco mais novo, mas carregava uma doçura e uma inocência de quem tinha bem menos idade do que ela. Sabe aquela pessoa que parece ter lido todos os manuais de decência? Que realmente para pra escutar quando você só precisa falar e tem poucas, pouquíssimas, mas as mais certas palavras? Pra quem se desnudar fica fácil porque você sabe que não vai prestar atenção nos defeitos, mas supervalorizar as qualidades de uma forma que vai te deixar tão a vontade que você fica tímida? Que vai te oferecer na bandeja os seus mais profundos segredos e sentimentos e apresentar a própria alma de uma forma que fica praticamente impossível escapar de apresentar a sua de volta? Um pescador inocente (?) que joga distraidamente a isca, enquanto observa o céu com um sorriso e como quem não quer nada, de repente, pesca o seu coração? Esse é Henrique. 

Henrique sempre foi atraente. Ela já o conhecia de tempos atrás, mas nada mais que um "oi" e um "tchau", já que ambos namoravam. Houve um tempo, esse hiato, em que ficaram os dois solteiros e terminaram, dessa vez, passando do cumprimento. Dali a falar de sentimentos e ter encontrado um no outro o amigo que precisavam, foi muito rápido. Ele compreendia e acompanhava e atentamente se envolvia nas questões dela, enquanto apresentava com entrega as suas. Não esperavam que um mostrasse solução ao outro. Nunca foi essa a ideia do relacionamento deles. Sabiam que o que precisavam e o que estava servindo como bálsamo entre os dois era a companhia. Só.

Henrique não era o tipo de cara por quem Natália geralmente se apaixonava. O que as conversas dele tinham de agradáveis, tinham de simples. Ele não frequentava o mesmo círculo cultural que ela e havia, certamente, lido muito menos do que estava acostumada e as referências quase sempre se perdiam numa conversa que ele logo adoçava com um sincero "não conheço, não sei, mas fala mais", o que ela fazia e ele escutava atentamente. E Henrique enviava direto algumas músicas de artistas da nova MPB. Um universo que ela nao conhecia bem e, na verdade, nao se interessava muito, mas qualquer relacionamento bom envolve troca de músicas. E o deles era definitivamente bom. Ótimas trocas. 

Um dia, Natália começou a ficar confusa com as intenções de Henrique. Começou sutilmente com uma saída em que o endereço dela era o último da lista de amigos e ele foi pegá-la primeiro, tendo que fazer um retorno muito grande pra pegar os outros que moravam bem antes dela depois. Tudo bem, normal, mas na volta ele fez o oposto e deixou todos os amigos antes dela (o que Natália concluiu com um rápido pulo do carro assim que ele parou). Depois, foi pegá-la pra um churrasco da "turma", que Natália descobriu se tratar de uns três amigos e todos os familiares de Henrique. Maravilhosos, por sinal. Daí, Henrique parou de falar dos problemas afetivos dele e começou a instiga-la a também esquecer os seus. "Virar a página, vai ter meu aniversário, onde tu sugere que eu faça? Ah, ótimo! É perto de você, o que vai quase te obrigar a ir".

Natália não queria saber de festas, mas não deixaria de ir ao aniversário de Henriqe. E começava a se questionar sobre ele. Estava envolvida. Tinha sido tão natural que parecia certo. Numa prévia de carnaval, em que saíram em grupo, sua amiga notou que ele havia passado a noite inteira olhando pra Natália e ela, de sua parte, dispensou toda e qualquer aproximação interessada de outros porque além da fase que estava vivendo, não se sentiria a vontade em ficar com pessoa alguma na frente dele. Talvez isso tudo fosse um indicativo de que tinham ultrapassado a barreira da amizade e o convite de aniversário parecia um passo importante pra definir aquela relação. Quem sabe?

No dia do aniversário, pela manhã, Natália foi à praia. O objetivo era ficar sozinha e passar aquela manhã inteira lendo, bebendo água e caipirinha. Fazia parte do seu processo curativo e ela estava bem, leve, quando recebeu o telefonema de Henrique perguntando se estava tudo certo e se ela tinha como ir à festa. Ela disse que sim e que não iria parabenizá-lo ali, o faria pessoalmente. Mal desligou o celular, quando um número antigo ligou. Seu coração disparou ao atender o ex namorado que precisava muito encontrá-la naquele dia.

(...)

Henrique ficou triste quando Natália não apareceu no aniversário e deixou isso muito claro pra ela. Mandou umas cinco mensagens durante a noite e a madrugada, todas insistindo e lamentando. 

Da conversa com o ex, o hiato dissipou-se e o amor voltou a caminhar de novo nos trilhos de sua vida. Como antes. 

Na festa, um encontro de Henrique com uma garota que parecia fantástica. Dois meses depois, Henrique ligou pra Natália dizendo que a garota estava grávida e que ele seria pai. 

Hoje, Natália viu na internet uma foto linda de um casal com dois filhos que apagavam a vela de um bolo de 11 anos. Juntos.

"Que família linda”.

Era Henrique. Cabelo e barba grisalhos, maturando o sorriso ainda infantil que o tempo e a vida havia deixado ainda mais bonito. Enorme, como ela sempre achou que combinava com ele. 

Natália sorriu. 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Calçando sapatos perfeitamente imperfeitos


Ela.
O barulho de seu salto ecoava estranhamento pelo corredor. Não havia notado enquanto atravessava a rua e dava bom dia aos vizinhos da gráfica. Corria tudo tranquilamente, até diferente da normalidade, já que teve tempo de vestir-se com calma, escolher uma saia amarela e ainda combiná-la com blusa e sapatos de salto. Aqui, cabe dizer que esse tipo de coisa, de detalhe, de ter tempo pra si e olhar duas vezes no espelho era algo que lhe fazia excepcionalmente bem, então ainda carregava a sombra do sorriso de bom dia que havia lançado a quase todos por quem passara, quando notou o ruído. Errado? Não era um "toc, toc", era um "toc" seguido de um rasgão metálico que poderia passar despercebido para alguns mas, àquela hora, com o corredor vazio e invadindo um momento que parecia perfeito, quase incomodou. Quase. 
Ela. 
Ela era do tipo que não se incomodava com um "toc, tec", sabe? Não se angustiava quando porventura perdia a salteira de um sapato ou até de ambos e nem se inquietaria se tivesse que passar o dia inteiro usando sapatos imperfeitos. Até gostava. Sempre foi atraída pelas particularidades que deixam no ar uma diferença, um toque, uma marca, uma singularidade. Era mais natural do que achar que o dia começaria e terminaria perfeito. Combinava mais do que considerar que naquele pequeno pedaço de universo em que habitava no momento, todas as notas sairiam irretocáveis e a música que embalaria a trilha sonora seria mais sinfônica que punk rock
Ela.
Sempre teve uma queda por guitarras dissonantes e estridentes e por um solo que não leva a um só lugar, mas a vários ao mesmo tempo. Especialmente quando o dia estava assim e começava assim, perfeito para aceitar tudo. O tipo de dia quase raro naquele tempo de alma blue
O dia perfeito pra calçar sapatos imperfeitos.
O tipo de dia preferido dela.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Seis minutos pra dizer que hoje estacionei longe do trabalho, apenas pra receber o Sol enquanto caminhava, bem pouco incomodada com as pedras que estragavam o meu salto, cantarolando na mente algumas músicas que adoro cantar pra mim mesma e termino, inevitavelmente, dividindo com os outros porque, ao que parece, sou do tipo que não guarda as coisas boas só pra mim.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

“Stormy Weather” e “At last” ou Bem Emo

O álbum amarelo de Etta James. 

Fabiana sentia-se um pouco em todas as músicas. 

O álbum perfeito pra escutar mais sozinha do que acompanhada, mais em dias de chuva do que de Sol, mais atormentada do que sossegada, só que estranhamente de bem com as próprias aflições (?).

E foi por isso mesmo que, depois de um longo banho e sem paciência nenhuma pra coisas supérfluas, vestiu apenas o roupão cor de vinho e recusou toda as chamadas do celular. Apenas as batidas do álbum e a voz de Etta James conversando de alguma forma com ela, ecoando por completo em sua sala/alma importavam.

Deixou-se cair na poltrona depois de preparar cantarolando o jantar e ter bebido três taças de um Pinot Noir guardado. "At Last" já havia tocado e tinha abandonado no ambiente aquele efeito embaraçoso de quem parece triste apesar de ter encontrado tudo que havia sonhado. Quase como se não acreditasse na própria sorte. Uma canção de amor e felicidade cantada por alguém já tão acostumado com a tristeza que ainda processa o fato do céu estar azul. 

Pensou que o álbum poderia acabar ali. Com o sorriso encantado, o destino de perfeito, o sonho realizado. Mas ele continuava e as faixas seguintes... Fabiana enxugou as lágrimas depois de "All I Could Do Was Cry" e preparou-se pra receber "Stormy Weather". A chuva que não para de cair. O cansaço, a intensidade, o desassossego, a ausência de Sol no céu. A chuva que não para de cair.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

 Há quem sofra por poder não ser perfeito.