segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Tiquinho de mim

Paula.
Podia ser apenas uma, mas carregou consigo uma outra, Joanna, que veio transformar em dois o que antes era um, trazendo toda a complexidade de viver uma vida dupla, sem deixar de ser menos uma que a outra, pra que nao perca nenhuma delas em si.
E aqui estou.

E ainda me chamam de Paulinha.
E eu me sinto todas elas.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Chefe

Cruzou as pernas.
As unhas bem pintadas apertavam o sofá onde se sentava, quase rasgando e fazendo algum estrago.
Ele continuava a falar e soltava milhoes de palavras que ganhavam formas e cores ao redor de si, deixando-a em completo torpor.
Atordoada, tentou pedir que parasse, mas as palavras - que sobravam pra ele - faltavam-lhe no momento. Engasgada, soltou quase um "ai", mas deixou-se ficar muda.
Quando ele terminou, levantou-se. Com um último olhar, deixou a sala em silêncio.
Quem nao observasse, de perto, todos aqueles rasgos no sofá, nem saberia que passou por ali.
bonito no coraçao.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Acordar, querer, ir.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Tão

Poeira indecisa que paira sobre os nossos brilhos, some com esses sorrisos que gritamos pra ti...

Os olhos que contam histórias e os momentos em que nao é preciso dizer mais qualquer palavra. O doce abraço, o estar ao lado, a alegria discreta que consome o momento, sem explosões, acalma.As maos que se encaixam com o jeito secreto que guardam apenas pra si. O apoio, o contar, o sossego...

Os olhos que se lançam com carinho, apertando todo o rosto, junto com o coração, fazendo a alma, tímida, sorrir... Nao sao mais estranhos e se conhecem de um jeito tao maior, que podia ate se esperar que nao estivessem ali. Já viveram a noite escura e saíram do baile de máscaras. Mostraram cada cicatrizes do rosto de suas emoçoes. E ainda desse jeito nao é que se acham belos?

E os olhos apenas olham e dizem tanto...Com um gesto, ela fala à ele, que a entende sem mais precisar. Ela, que se revela em cada segundo, em cada passo, em cada dizer qualquer ou em seu silêncio contido. Ela que o observa, com a mao apoiada no queixo, querendo apenas estar ali ou contar uma boa história pra se fazerem sorrir.
Nao existem certezas, mas afinidade maior, já viu?
E essa vontade de entender o outro, forte cada vez mais.
O jardim de flores pisadas voltando a florescer, a voz engasgada voltando a vazar.... e já é quase o tempo de subirem todos os balões coloridos que puderem existir pra enfeitar o dia.
Mas por enquanto, soltam-se essas palavras....
Não sao mais poesia, magia, encanto ou truque.
Contos e descontos de personagens irreais.
Sao mais.
Reais, com o espanto de ainda existirem, já que não sao mais conto de fadas.
Mesmo passados furacões, tempestadas, terremotos e avalanches,
São o retrato do hoje, desbravando as estradas do amanhã.
É amor que prospera, insiste e quer.
Que vive...

(Só sei que eu amo os olhos dele e tudo que falam sobre ele e sobre mim.E esses detalhes, pequeninos, que o tempo nao leva e que nenhum dissabor destrói, tao nossos, tao inho, tanto carinho, tao a gente).

domingo, 18 de julho de 2010

Baila

Por dois momentos ela esperou que todo o tempo do mundo parasse para que - assim - pudesse pensar no próximo passo correto, no acerto, naquele que caberia exatamente no que desenhou como futuro seu. Com as duas mãos apertou o peito, exatamente onde o coração batia quente e a expectativa o fazia saltar. Porque o tempo não para. Porque todo o adiante é incerto. Porque a dança misteriosa que começara - e que, curiosamente, ainda soava como se fosse nova - não seguia qualquer coreografia bem ensaiada. Porque tudo o mais é mistério. Porque nao sabia como executar os passos. Porque nao era bailarina, mas jamais deixaria de ser dançarina de sua vida e nao se importando com o que quer que acontecesse no palco, foi dançando, errante, seu próximo minuto e todos os momentos.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Acordar

Eh como se houvesse uma pausa no mundo em que nao se tocasse qualquer nota de música.
Um pausa onde todos os sorrisos fossem maquiados e que pessoas apenas caminhassem munidas de remédios pra dor.
Órfãs de sentimento, se abraçariam em silêncio, embora nao conseguissem no abraço sentir conforto, querer apego.
Um dia em que os palhaços deixassem de carregar sua graça ou mágicos nao escondessem em cartas, encantos pra qualquer momento.
Como se nao se sorrisse mais com as pequenas coisas e reservassem às que nao existem a grande responsabilidade de trazer pra perto o que nos faz feliz.
Como se proibissem à beleza enfeitar as ruas, à pureza enganchar na lua, à vontade acender o sol, à delicadeza aparecer em palavras que acalentam a alma, que suaviza momentos...
Eh como se virasse pelo avesso tudo que conheço, tudo que já chamei de mundo. O pouco que os olhos registram e a mente liquidifica, fazendo cair pro coração e pulsar em sangue.
Era como se meu próprio sangue fosse, de repente, de qualquer cor que nao fosse quente...
E diante de tudo, caísse meu corpo em sono profundo, de pesar por tudo que via e vivia, sem acordar, sem vontade de acordar...
Mas enxerguei dois arco-íris e depositei fina esperança.
E apesar do medo forte de que pelos ventos incontroláveis, fosse a linha fina partida em pedaços que nao mais se atessem, acreditei, com o mais forte que possuía, que ali permaneceria.
E assim acordei de pesadelos, fortes, loucos, destruidores do melhor de mim, do colorido com que enxergo os dias, das riquezas que sempre acreditei existirem em pedaços de nada que tanto podem ser tudo.
E tanto são.

quarta-feira, 24 de março de 2010

versinho

Nao é que meu amor tem um cheiro que ninguém tem?
E é cheirando assim, cheiroso, que quando vai embora deixa um pouquinho dele também.

aula de dança

Seu Antonio me falou que decidiu fazer dança, aos 83, apesar da inibição e da mulher nao poder acompanha-lo por possuir problema sério no joelho.
Por coincidência da vida, moramos no mesmo prédio há 6 anos e nunca havíamos nos visto até que um dia, por razoes e motivos diferentes, terminamos nos encontrando na dança de salão.
Jamais dancei com Seu Antonio, já que, como iniciantes, ficamos, cada um, com pares mais experientes.
No entanto, viemos, hoje, caminhando juntos até chegar no prédio e conversando sobre coisas amenas. E nao é que seu antonio foi motociclista? Fui falar mal das motos e ele rebateu com ênfase, afirmando que é tudo uma questao de respeito e que varia de cada um. Concordo, Seu Antônio. Afinal, nao só com essas coisas do trânsito. Também com as coisas da vida é perigoso generalizar. É tudo uma questão de respeito e cada um é cada um.
E vamos dormir e esperar a próxima aula.
E que nossos passos, ainda atrapalhados, consigam achar o ritmo certo pra caminhar pela vida. Dançando.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Escuta

Queria que guardasse ctg o lenço que me enxugou as lágrimas...
No entanto, queria jamais ter precisado do lenço e te ter recebido com um sorriso de quem nao teve na vida motivo algum pra chorar...
Mas sem ter percorrido tantos caminhos, como chegaria aqui, hoje?
E quanto faltaria pra chegar?
...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Deixo o espaço pra o que quero contar amanhã.
Que venha.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Tempero

Pessoas são o tempero do sorriso - pensou. E sorrisos são o tempero das pessoas.
E era bom descobrir naquele braço, o quente do abraço e deixar-se ser carregada, abrasada, aturdida.
Foi afastada pra aquele lugar, onde o céu tinha a cor que imaginava e a lua era o sol. E tudo ao contrário, serviu por acaso, já que de fanto era e sempre seria daquelas que fazem pouco da razão e preferem a fantasia.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Novo

meus, teus, nossos
planos de malandro
feitos ao acaso
num compasso, descompasso
dessa nova dança.

teu, somente, jeito
me deleito
"sorriso de criança"
esperança, peixes,
paz
lindo, repito, te digo
oceano de amor,
desejo feito,
tanto tempo te conheço
só agora te mereço

sábado, 16 de janeiro de 2010

Sentido

Como entender, como entender?
Avalanches, terremotos, furacões. Vidas que vão em segundos, famílias que se decopõem embaixo de destroços, sorrisos que se paralisam no tempo, destruição...como entender?
Como nao questionar o que nao está ao alcance de nossos olhos, como compreender os desígnios, COMO se quando o sentimento e o sofrimento são mais latentes do que qualquer razão?
Difícil é enxergar o bem quando ele nao se mostra...
(O grito fica preso na garganta dela e a revolta explode por dentro. Falta pouco, muito pouco, pra nao perder a fé. O filho foi encontrado morto, o marido desaparecido. E ela ali. Viva. Como entender o porquê de lhe ser concedida tal "maldição"? Perder o amor, perder os seus e ficar ali, impotente. Saiu andando sem destino, correu de quem disse que teria que limpar alguns ferimentos, fugiu daquela cena em que tantos ficavam feliz por ter sido encontrada com vida. Por estar viva. E ela morria a cada passo, as lágrimas deixando rastros que se apagavam rápido. Parou quando sentiu as forças irem embora. Parou quando as forças foram embora. Deitou sua cabeça no chao, esperando outro terremoto que a levasse dali, que a cobrisse com sua impiedosa vontade de destruir...
Nao houve terremoto, nada veio acalmar a dor. Nada surgiu pra apaziguar o sentimento. Nada.
Até que escutou.
Fraco, longe, dolorido, frágil. A tirou de seu transe e alertou-a para vida. Foi em busca, sem pensar. Retirou do lado, pedras que apenas 2 homens levantariam, sem sentir dor. Tinha vontade, tinha urgencia, conseguiu remover todo o jazigo de pedra que se encontrava sobre aquela criança. Sedimentando a morte que chegaria se ela nao estivesse ali.
Foi quando entendeu.
O seu sofrimento fora a salvação daquele ser. Foi por ele que ainda estava ali. E por si. Para que entendesse exatamente aquilo que entendeu quando apertou a criança em seus braços. Para nao duvidar.
A morte chegara para os seus para que, em desespero, acalentasse aquele choro e tocasse aquelas mãos.
Abraçou-se com a vida e aceitou o seu destino.
É difícil compreender quando dói, quando é ferro em brasa.
Mas um dia tudo faz sentido).

Terremotos, furacoes, avalanches. Nao sei o quanto uma alma aguenta. Nao sei o quando o mundo ainda pode aguentar. Nao sei o que se espera que compreendamos disso tudo, quando o sentimento primeiro é o choro, a pena, a perda, a dor. Está distante de nossa razao limitada, está adiante, muito adiante, da nossa fraca compreensão.
Mas um dia tudo faz sentido.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Doce

Nao exigia, nao queria, nao pedia, nao mostrava-se a sua disposição, nao era de desfilar carencias e fazer exigencias. Também nunca saía dali. Tinha as exatas palavras que calavam suas angusturas e o doce carinho de quem nao consegue ser nada menos do que doce. Perdeu-se por horas. Entre suas palavras e o seu silencio, achara seu alento. O afeto que faltava. Nao é de se confundir amores com outros sentimentos. Mas acontece que hoje, especialmente hoje, é de se confundir outros sentimentos com amores. Assim pensou.
Doce.

sábado, 9 de janeiro de 2010

A noite

Ele a chamara com aquele gesto vago de quem sabia que ela iria, desde o início.
Embora seu coração acelerasse com a direção que seguia, manteve o impossível controle e aquele jeito de quem simplesmente chega para dizer oi.
Havia, por tanto tempo, esperado aquele dia, tanto ansiara que temia. E tudo começaria a partir dali.
Foi apresentada ao amigo da mesa e convidada para sentar-se. Disse que encontraria uma amiga e voltaria em seguida. Pernas bambas, desejo de ficar, mas conseguiu ir embora com naturalidade. Deixou no olhar que jogou pra ele, antes de ir, o que ele, certamente, já sabia: estava feliz de encontra-lo ali.
Quando viu a amiga, sorriu com a armadilha. Ela a colocara naquele caminho, apenas porque sabia do fim. Xingou com sorrisos, disse que a odiava com carinho e dirigiram-se até aquele lugar em que, se conseguisse respirar naturalmente, sobreviveria. Sentou-se ao lado dele.
Oferecida a bebida, mal teve tempo de registrar o que ele colocava em seu copo. Os gestos saíam no automatico e seus olhos nao desgrudavam mais. Ele se aproximava e a tocava como se aquele toque fosse conhecido pros dois. E cada encostar, uma faísca. A tocava como se fosse dono dela. Não se importou. Disseram tanta coisa que jamais lembraria, tantos convites sedutores à sedução, a seduzir-se, ao amor, à paixao, à febre que sentiam, àquele momento que, finalmente, viviam, à tudo aquilo...ao tudo. Outras pessoas invadiram a mesa que foi ficando maior e, de repente, estavam do outro lado, juntos, rostos colados, conversando qualquer coisa que fizesse ou nao fizesse sentido. Bocas se tocando de leve, enquanto pemaneciam ali. Palavras iam e voavam pra qualquer canto, existiam respostas mal ouvidas e perguntas mal feitas, nada registravam. Estavam ali. Simplesmente. Ele falou alguma coisa sobre o seu cheiro que exalava algo que só ele sentia. "Cada um sente de um jeito". Sim, ela sabia. Sentia por ele de uma forma diferente. "Tem a ver com instinto, é animal". Claro que seria, era mais que comum, sem dúvida...
Nao soube quem a despertou e comentou que tinha que sair dali e voltar pra casa. Nao sabe até hoje porque resistiu ao convite dele de leva-la de volta. "Fica mais, eu te levo. Eu to bebendo, mas meu amigo vai dirigindo". Nada sabia...
Existe apenas, em sua vida, o registro de que nao ficou... E até hoje nao sabe precisar o porquê...
Talvez por fugir de um local que nao fosse seguro, talvez por temer a ele, talvez por temer a si. Nao existem certezas que falem daquela noite, sobre o que sentiu, sobre o que sente.
A única coisa certa é que sabe o caminho exato que deve seguir quando quiser viver algo que tire seus pés do chao. O mais perigoso. O dele.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

arrumou a mesa, varreu os cantos da casa e olhou aquele ambiente novo.