quarta-feira, 5 de março de 2008

Um banal

Deveria sim, assim que cada porta se fechasse, vislumbrar qualquer luz que fosse dentro da sala escura.
Deveria tatear o negro em busca de móveis conhecidos e formas conhecidas e deixar-se ir, tocando sem medo o vazio. E assim, indo, descobriria mais e mais...

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Nao posso dizer que ela sabia exatamente o que estava fazendo. Nem que sempre desejou construir ou fazer parte daquela situação. Nunca nem imaginou que poderia se envolver em algo daquele jeito e, de repente, falar em vez de ouvir.

O discurso que preparara era extremamente pobre. Tivera apenas uma noite, aliás, uma péssima madrugada em que, tentou fazer mais do que poucas linhas (em vao).
Era apenas um dizer de três parágrafos. Cada parágrafo menor que o outro, cada palavra simples jogadas em desespero no vazio de um papel que precisava ser cheio.
Uma idéia que nao revolucionaria, nem empolgaria, nem mudaria nada na mente de quem quer q fosse. Nada que fizesse qualquer platéia do mundo aplaudir de pé ou comentar que havia sido um belo discurso. Talvez nao fosse ruim, mas sabia que era banal. Disso tinha certeza.

Esperou que poucas pessoas estivessem esperando pelo que ela falaria. Pensou em seus pais, algumas pessoas de sua família, uns bons amigos, os conhecidos e os estranhos que a ouviriam. Que pensariam eles, o que gostariam de ouvir?
Qual seria a melhor forma, o melhor texto pra se dizer pra todos? Que palavras poderiam ser tao boas que fizesse uma platéia inteira aplaudir e levar consigo, no final do discurso?
Que idéia poderia trazer que acalentasse cada coração dali?

Talvez jamais conseguisse encontrar respostas pra todas as perguntas que formulou, enquanto nao entrava no palco.
Talvez seu pequeno dizer de três parágrafos sairia menos banal do que imaginava e alguns, levariam consigo, enquanto outros nem ao menos prestariam atenção.

Observaria que alguns conversariam e outro deixariam bocejos soltos pela platéia e possivelmente, alguém até desejaria que se retirasse logo.

Mas ela falou. Disse o que disse e foi embora. Saiu do palco e nem ao menos notou se havia sido aplaudida ou nao. Havia mais o que pensar, outros desafios pra enfrentar e mil e uma perguntas que ainda surgiriam.


"Sem medo do que vem pela frente
pretendo continuar a seguir meu caminho
E terei cuidado em observar os detalhes de cada pedra e cada árvore que passar por mim."

Assim começava o que disse, naquele dia.
Sabia hoje que nunca se preocupou com a platéia.
Escrevera para si.

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