Adormecida de sono sem fins, tentou evitar o sol que entrava pela janela.
Em seu pequeno quarto não haviam mais cortinas.
Foram rasgadas pela última noite em que ele existira em sua vida.
Mal podia lembrar de seus olhos - que olhos!- lhe dando a certeza de que era amada, que era viva, que estava ali.
Doía.
Doeu bastante quando ele foi.
Com um chamado, apenas, saiu de sua porta e a trancou por dentro.
-Não saia! É tarde. Eu vou.
Ela quis sair, quis ir com ele, quis salvar sua vida, salvar-se do medo que seria quando ele não mais voltasse.
E hoje, acordando e indo olhar seu triste rosto no espelho, via, bem claramente: era ela sem ele, sua imagem gritava. As marcas de lágrima em seu rosto, os olhos que mal abriam, incomodados com a luz do dia, com o amanhecer, com qualquer sol em sua vida: ansiosos pela noite sem fim, pela escuridão...
Ela que antes, tão forte, carregava em suas costas todo o peso do mundo. E chorava por tantos e chorava por outros. Hoje, fechada em si, não havia espaço pra ninguém. E nem pra amar qualquer pessoa que fosse. Lágrimas dedicadas a si mesmo. Cantando sua música triste...
... O sol a acordava todo dia e gritava com ela. E suas cortinas continuavam rasgadas como se, no fundo, ela ainda quisesse ser iluminada.
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