Talvez não funcione nessas páginas.
Talvez eu não consiga dimensionar a agonia da semana que passou.
Do trabalho suado, corrido, apressado, preso nas entraves do judiciário.
Talvez eu não consiga exprimir em letrinhas a angústia. O caminho beirando a inutilidade do objeto que protelo, protelo e protelo, mas bate e volta numa parede impenetrável.
Na robotização de servidores, na lista infindável de coisas a serem atendidas e resolvidas antes que uma decisão envolvendo vida e morte seja tomada.
Antes que o suspiro final de quem espera por ela diga que a luta foi em vão.
Era só uma curatela provisória, um respiro para pagar as contas de quem encontra-se inutilizado para fazê-lo. Um alento para que, em paz, os filhos da doente terminal pudessem chorar as lágrimas sem outras preocupações. Eu não recebi nada por isso, o meu pagamento seria dizer que estava tudo certo, ajudar de alguma forma num dor já tão latente, tão pungente.
Como, justiça, não tratar como urgente o que é urgente?
Uma movimento aqui, um movimento ali, horários, exigências, custas, comprovantes de pobreza, IR de três anos seguidos, consultas, consultas, consultas, pilhas intermináveis que crescem e adiam e alimentam a sensação de injustiça.
Como advogada eu choro. Como amiga também. Como quem teve tantas vezes dizer que ainda não conseguiu.
É difícil aposentar uma cliente e vê-la partir sem sossego. É difícil demais a sensação de algumas vezes não conseguir atingir.
Expectativas, sentenças favoráveis, decisões urgentes. O tipo de "não" sempre difícil compartilhar.
Nunca me acostumo.