Quando faltam-lhe palavras, Murilo sente a estranheza de não conseguir indagar-se enquanto pessoa.
Por muito tempo acreditou que escrevia para encontrar respostas, até que observou que eram as dúvidas que lhe movimentavam.
Nas questões, residiam as razões de continuar senão a escrever, buscar vãs tentativas de compreender a sua própria existência.
Nas perguntas que formulava, argumentava com a vida sobre cada ponto que não compreendia.
Na falta de palavras, Murilo, vazio, teve dificuldade de concluir até esse texto.
Faltavam-lhe dúvidas, fartava-lhe a vida, as vivências, os acontecimentos consumiam-no por inteiro, não havia o que objetar.
O debate interno, tão natural, tão intrinsecamente conectado à própria natureza de Murilo, resignara-se ao silêncio.
Emudecido por dentro, parou de escrever.
Embevecido por fora, parou de questionar.
Me deixou uma mensagem antes de sumir completamente.
Um copo cheio, transbordando em minha mesa e um copo vazio, sem nenhuma gota, pairando como uma resposta sem resposta plenamente satisfatória.
"Eu não procuro saber as respostas, procuro compreender as perguntas". (Confúncio).