Encostei no vidro emperrado da janela. Na verdade, acho que encostei, mas acredito bem mais que fui levada por uma força invisível que quase me apertou naquele vidro e me fez ficar ali por horas (ou dias). Do lado de fora, à vista, o jardim parecia ainda mais abandonado. Olhando de primeira, enganava os olhos porque tudo era verde e quase brotava, mas as muitas semanas que passava ali, revelavam que jamais brotaria nada o que dele faria de fato um jardim. Os projetos, as intenções, as flores que imaginei assistir nascendo, estavam estáticos. O tempo, as pessoas, a história, nada mudava o dia em que a natureza abandonou aquele espaço da casa à sorte e ao cuidado de sabe-se-lá-o-quê. Minhas costas doíam muito e todos os ossos do meu corpo reclamavam quando, em vão, tentava me movimentar. Parecia um indício de que o quer que tivesse feito com que o tempo girasse (ou parasse) de forma diferente naquela casa, terminara me atingindo. A pressão do corpo quase inteiro colado no vidro que no próximo minuto poderia se espatifar, só me deixava espaço pra um pensamento:
O jardim me olhava ou era eu que olhava o jardim?
Por um momento, um clarão de lucidez me mostrou flores podres e um espaço escuro e vazio. Em um misto de pânico, incerteza, medo e dor, comecei a chorar e esperei que caíssem lágrimas. Sem saber exatamente em que momento sairiam do corpo e bateriam no chão. Ou se.
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