A senhora Lenore abriu apenas uma fresta da cortina da janela porque era feriado.
A casa estava vazia, dispensara todos os funcionários e, obviamente, não recebia visitas desde... bem, melhor pular essa parte.
O luz do sol entrou discretamente pela ampla sala de piso de madeira e até fez surgirem uns estalidos pela casa. Soava quase como um "viva", engasgado e ansiado pelo espaço.
A senhora Lenore sorriu do rumo dos próprios pensamentos e começou a pensar se com 49 anos já surgiriam os primeiros sinais de senilidade. Quase olhou pro lado e falou alto a piada, mas percebeu que... bem, não ouviria sua risada.
A senhora Lenore sentiu uma dor profunda, do tipo indescritível e inexplicável. Tremeu sem frio; não chorou. Fechou, com dignidade, o xale fino e roxo, estrategicamente depositado no ombro diante dos constantes calafrios que continuamente dominavam-lhe o corpo e dirigiu-se até a janela.
E o sol brilhava em quase tudo, mas nem ousava aproximar-se dela.
No campo verde, nas flores do jardim, nas colinas mais adiante, em cada canto e espaço habilmente espalhados naquele lugar.
Se sentisse beleza, poderia achar lindo.
Se sentisse.
-Lenore?
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