sábado, 25 de dezembro de 2021

Natal II

Abri o caderno e parei.
Pela primeira vez me faltaram palavras.
Ah, sentimentos não, os sentimentos estavam ali.
Na verdade, estavam até em profusão, em demasia, explodindo e engasgando e eu querendo que eles saíssem na ponta do lápis pra dizer…
o que quero dizer?

Me confundo, há vontade, há desejos, há votos e o que mais? 
Estou tentando, estou buscando, estou rememorando mil coisas,estou fantasiando outras mil,estou me esforçando pra escrever cada uma dessas palavras, tentando acompanhar os batimentos cardíacos acelerados, paro, me perco, tento voltar, remendo, respiro, me esforço o tempo todo e…o que quero dizer? Não consigo…

Eu acho que já falei demais pra quem não dorme bem há dias e acho que estou bem demais pra quem na verdade não está bem, mas sei que queria muito que um gole de cerveja acalmasse minha mente como acalma o meu corpo, queria muito que as risadas do dia de hoje fossem mais que um alívio e que quero, de verdade, celebrar a reunião desse dia não como um ato solene, não como uma data comemorativa, não como uma ocasião. Quero celebrá-la como o sopro de vida que sustenta tudo. 

Reli um texto em que mergulho no natal como uma época mágica. Revi nas memórias que guardo na cabeça alguém que se vestiu de papai noel apenas pra me animar e terminou animando toda uma festa.Senti nos intervalos da respiração do meu pai doente (outrora, o Noel), no momento que não me permiti pensar em alegria,um golpe no peito de espiritualidade pra continuar. Rezei ali,de olhos fechados,sem saber mais nenhuma oração,desejando da minha forma um feliz natal.

Estou engasgada, é uma mistura, mil coisas, da recepção de uma criança tocando corneta e acordando toda vizinhança, o que me faz sorrir, ao momento em que não consigo entender o que o dia de hoje significa exatamente pra mim e choro um pouquinho aqui e ali, embora esteja bem calma escrevendo esse texto.
Mas vou terminar, porque eu já sei, não é muito, é bem pouco, apenas o que posso retirar de mim hoje, bem singelo, mas sincero, com vontade e de verdade, recebe aí, como um abraço, que seja feliz. Feliz natal. 

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

E agora?

Você enrolava meus cabelos com os dedos e me olhava como se visse algo a mais em mim.

No meu corpo ainda quente e marcado pelo que vivemos ainda agora, surgem novos arrepios e vontade de te ter mais perto outra vez.


Involuntariamente, dirigi minha mão pro teu rosto, delineando a surpresa e confusao que te enxerguei sentindo, antes de fechar os olhos e se deixar ficar… completamente relaxado.


Ali, nao sei se queria continuar te olhando ou se te queria colado em mim, mas torcia decidida pra que os minutos durassem pra sempre e que neles se perdessem todas as nossas vontades….


Entregue e também confusa, sentia meu corpo ir sozinho em tua direçao e o teu, sem comando, se voltar completamente pra minha.


Nossas pernas se perdiam e meus cabelos, antes enrolados nos teus dedos, agora estavam apertados e presos em uma de tuas mãos. Quentes.


À deriva, soltamos um sorriso sem graça, espantados com o golpe magnetizante que sem volta nos unia, extremamente suspresos que daquele nosso antes e durante, surgisse, inesperada e urgente, a vontade de depois. 


E agora… 



segunda-feira, 1 de novembro de 2021

(Dobrou as pernas e, com o notebook no colo, encostada na cabeceira da cama, em um feriado sem cara nenhuma de feriado, escreveu:

Por que toda vez que falo sobre desejo, sinto a necessidade, logo depois, de falar sobre amor?

Trocas intelectuais, olhares, afinidades, livros, filmes e música, o que me desperta um, desperta o outro.

Claro, existe a diferença, a doce diferença que os anos denunciam: está no meio, no momento, no exato momento em que você não quer saber de nada, quando o mundo inteiro desaba e quando você se torna desinteressante e mais triste do que gostaria. É quando o amor fica ali ou grita. E na sua companhia ou resposta desesperada está tudo o que me faz continuar escrevendo, depois do desejo, sobre o amor.)

domingo, 31 de outubro de 2021

Shot

O dia começou frio, mas nele morava a promessa de ser o mais quente.

Sentiu que deveria fazer planos, parecia tão propício, tão natural. 

Consumiu, ávida e desejosa o café da manhã, impaciente com as vontades latentes.

A intenção era que fosse tão bom, tão bom, que acordaria ainda sorrindo amanhã. 

sábado, 30 de outubro de 2021

13 filhos

(Inspirada - infelizmente - em fatos reais)


A mãe arrastava a roupa preta pela casa. Era 1958.

Seus doze filhos não conseguiam dormir. Espantados, colavam ouvidos na porta dos quartos coletivos que dormiam, conspirando, com troca de olhares, as possibilidades pra um dia melhor amanhã. 


No fundo, quase colado à garagem, um jovem alto e esguio, tentava, ocultamente, sintonizar seu rádio. Em todo o país, gritos de comemoração pela seleção que ganhara a primeira copa. Menos ali. Todo e qualquer grito e suspiro e vontade de felicidade estavam calados ali. Velados. Proibidos. 


O jovem, inteligente e astuto, tentava burlar de alguma forma a nova lei que se instalara, buscando, insistente, alegria nas ondas de rádio. Ou menos tristeza. Não sei por quanto tempo insistiu e nem se conseguiu, porque em um quarto menor, duas crianças bem pequenas quase choravam. O menor, um menino, havia desaprendido a expressar suas emoções com palavras. Calara-se e na sua mudez existia o protesto de quem jamais entenderia. Do seu lado, de mãos dadas e apenas um pouquinho maior, a outra criança, loirinha, trajava uma roupa de dormir que quase lhe cobria os pés. Diziam que passava o dia desfilando pela casa, andando pelos corredores à noite, conversando entre sussurros com a mãe através do véu e do seu manto grosso de tristeza, mas não. Não era ela. 


A mais corajosa das irmãs era a que entrevia através do buraco da fechadura a hora em que a mãe se ajoelhava com uma vela. Seu nível de coragem ia descendendo à medida que, em meio aos prantos, a mãe conversava com alguém que ninguém mais via. Pra completar o terror, algo ou alguém passara, repentinamente, a chave no quarto pelo lado de fora. Sem conseguir ver nada mais o que acontecia por trás da porta, brigava com a mente para não imaginar as cenas de horror por trás dos gritos de dor que ecoavam pela casa…


A pior historia de terror não é sobre fantasmas. É sobre as despedidas que jamais entenderemos. Jamais.

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

O jardim

Encostei no vidro emperrado da janela. Na verdade, acho que encostei, mas acredito bem mais que fui levada por uma força invisível que quase me apertou naquele vidro e me fez ficar ali por horas (ou dias). Do lado de fora, à vista, o jardim parecia ainda mais abandonado. Olhando de primeira, enganava os olhos porque tudo era verde e quase brotava, mas as muitas semanas que passava ali, revelavam que jamais brotaria nada o que dele faria de fato um jardim. Os projetos, as intenções, as flores que imaginei assistir nascendo, estavam estáticos. O tempo, as pessoas, a história, nada mudava o dia em que a natureza abandonou aquele espaço da casa à sorte e ao cuidado de sabe-se-lá-o-quê. Minhas costas doíam muito e todos os ossos do meu corpo reclamavam quando, em vão, tentava me movimentar. Parecia um indício de que o quer que tivesse feito com que o tempo girasse (ou parasse) de forma diferente naquela casa, terminara me atingindo. A pressão do corpo quase inteiro colado no vidro que no próximo minuto poderia se espatifar, só me deixava espaço pra um pensamento: 


O jardim me olhava ou era eu que olhava o jardim?


Por um momento, um clarão de lucidez me mostrou flores podres e um espaço escuro e vazio. Em um misto de pânico, incerteza, medo e dor, comecei a chorar e esperei que caíssem lágrimas. Sem saber exatamente em que momento sairiam do corpo e bateriam no chão. Ou se.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Batimentos

Poucas coisas me interessam além da respiração e, das coisas físicas, tenho aprendido a valorizar mais o batimento tranquilo do coração, o correr do sangue nas veias, a lucidez de um cérebro inatingido, o perfeito funcionamento do corpo que vive ou que teima em viver.


Hoje, só quero que as veias continuem sendo estradas para oxigênio, nutrientes e tudo o mais que faz o pulso continuar quente, o coração bater cadenciado e os olhos, abertos, me olharem do jeito que eu já conheço e que não quero me despedir.


Vou repetir a fala sobre o coração, porque hoje nada é mais importante do que ele ser um combatente furioso, teimoso, insistente. O último a ficar em pé na batalha, o que na glória magica do momento, mesmo cansado de tudo que passou, se mantén firme em meio a todo o caos do próprio corpo, erguendo uma bandeira verde e fazendo, finalmente a paz com tudo o que permite que continuemos nossas conversas e que tenhamos bons longos anos pela frente pra eternizar os momentos, aqueles que fazem os encontros desse mundo valerem a pena.


E, realmente, poucas coisas me interessam além da respiração, mas, das coisas físicas, certamente, teu coração (sadio, vigoroso, resiliente, recuperado, forte, quente).

Resistente.

sábado, 9 de outubro de 2021

Estrela sem luz

Aqui e ali, o tempo me mostra que meu colorido é mais “chiaroscuro” do que preferiria. 

Semore gostei do jogo das sombras, brinco, medito, me faz pensar e encontrar semelhança com  meus dias, da busca constante, do constraste, da vida inteira e de agora, em que nesse momento, claro, me deito e tento dormir, ignorando as trevas, sempre à espreita, sempre sombreando os momentos que poderiam ser de pura luz, pq eu insisto na luz, vivo buscando, querendo, ansiando, tentando e tentando até o limite. Até meu limite. Sem querer que um dia, talvez, eu desista, e aceite, a preta estrela, mais parecida comigo hoje, muito mais parecida do que gostaria.

(mas as más notícias nao param de chegar) 

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

O barato do vinho com Blue Monday

Estou dançando, é quarta-feira e nem esperava sair de casa, mas estou dançando e a música daqui é ótima. Tive a impressão que repetiram “Blue Monday” umas quatro vezes, mas acredito que muito álcool ou muito tempo de música foi o que passou essa impressão.

Minha amiga se prepara pra pedir mais uma cerveja e eu digo que não quero, tentando preservar a pouca lucidez que ainda me mantém acordada.

Queria que essa ou outra banda “new wave”  continuasse tocando a noite inteira, mas resolveram trocar pra algo novo e esse outro som não me agrada em nada. Absolutamente nada.

Estou bem cansada já e termino ficando impaciente com o barulho, com as pessoas e com o ambiente. E eu sei bem, vivo esse filme, quando é a hora: recolho bolsa, corpo, calço os sapatos de novo e sem conseguir ficar, vou embora. 

De novo.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Já me sinto melhor

Eu estou gastando meu tempo de intervalo do trabalho com minha terapia. Com ela, o gosto na boca é esse que sinto com a antecipação de um novo texto e não o de lágrimas.

Fico receosa de escrever aqui algumas verdades ou boas mentiras, mas embora saiba que um dia poderei ser lida (o que duvido, ninguem se ocupa mais com blogs, muito menos comigo ou com o meu), nao consigo abandonar esse espaço em que me visito. É um bom amigo das madrugadas, aquelas em que eu nao quero estar sozinha com meus atuais pensamentos e visitar os antigos, me ajuda um pouco a encontrar algumas partes de mim totalmente esquecidas. A verdade é que eu gosto de me visitar. Gasto boa parte do meu dia sendo bombardeada com sensações boas, transmitida pelos personagens que estao ao meu redor, mas as madrugadas...

Nas madrugadas, quando eu abro os olhos, não consigo evitar: vejo um destino cruel pra grande parte das pessoas que amo cada vez mais próximo. E não estou com elas nesse momento, a distancia, a pandemia, me impede de compartilhar suas dores e isso maltrata. A impotencia maltrata. Entao, minhas madrugadas de insonia sao como obstaculos que preciso vencer de alguma forma pra acalmar meus sentimentos. Minha ansiedade. Escrever tem sido isso pra mim. Fluoxetina.

Faltam dois minutos pro intervalo acabar e eu cair no mundo do problema dos outros. E eu gosto, gosto muito de "salvar" pessoas. Sempre consigo achar soluções pra elas, sempre dou um jeitinho e se nao consigo, ah, eu tento. Tento muito. Mesmo não conseguindo ter essa disposição pra mim. 

Entendes agora pq sempre volto aqui? 



sábado, 18 de setembro de 2021

Nunca quis que parecesse propaganda de filtro solar

De onde vem a inspiração? 

Do copo fumegante de café que tomo agora?

Das manhãs de sábado em que eu consigo passar o dia inteiro com quem amo? 

Do início de um bom dia que minha filha de dois anos ainda nem sabe que mora no sorriso dela? 

Da renovação diária do amor escondida nas pequenas coisas e no primeiro beijo da manhã? 

Do silencio confortável no meio da melhor conversa? Da conversa?


De onde vem a inspiração?


De textos piegas, tranquilos, apaixonados? 

De momentos de pura tristeza, da depressao?

Dos dias totalmente cinzas em que a cor - teimosa! - nao aparece?

Das frases inocentes, das pouco prudentes, do girassol no jardim, do livro que li, do sonho, do silêncio da madrugada, do burburinho do dia, do eco dos sorrisos que acalmam minha alma, da minha alma, de mim? 

Dos momentos em que calo, querendo me fazer entender no silêncio?

Das plavras que derramo, sem lógica, na lógica, no sentido?

No teu abraço? Nos não-abraços?

De onde vem e por quê? 


(Tenho deixado pequenos pedaços de mim em cada linha que escrevo. Recebo de volta, transformação. No abstrato que mora na necessidade de começar e terminar um novo texto, nem sempre consigo enxergar todas as coisas ao meu redor que o tornariam belo. Nem quero. Que me perdoem, mas nunca foi pros outros, sempre foi pra mim.)


Às vezes, vem da troca constante das lentes que me permitem enxergar as mesmas coisas com novos olhos; outras, nos dias em que enxergo embaçado tudo o que está ao meu redor. 

Agora, bem agora, está na ponta dos meus sapatos.

No claro, no escuro, no contraste que tenho aprendido a amar em mim. 


Nos melhores dias. 

E nos piores também.


terça-feira, 14 de setembro de 2021

Clavícula

Estou encostada na parede e essa é a posição em que eu mais gosto de ser beijada, no entanto, estou sozinha e não te vejo em lugar algum…
Faz tempo, muito tempo que te procuro, me encostando assim em lugares que talvez receba, de surpresa, não o teu gosto, mas tua presença, esperando e esperando, ignorando tudo o mais e o resto, dormindo as mesmas noites desejosas e solitárias, não do teu gosto, mas do resto, do silêncio confortável depois de tudo, da forma que meu rosto encaixa perfeitamente perto do teu pescoço, como se chama? Clavícula. De todas as formas que adormeci e sonhei encostada na tua clavícula e acordei de alguns sonhos bons… e de outros, sem importar(!) porque o cheiro, o teu cheiro e o resto, me dá nova vontade de morrer e de viver de novo, mas fazer amor outra vez parece sempre ser a melhor ideia (pro momento) e tanto ali quanto aqui, eu não te digo, mas você sabe e você sente. Você sempre sabe e sente. E é por isso, mais por isso, que estou encostada na parede agora. 


(Tenta ler em um gole só, como quem vira cachaça, parece funcionar melhor assim). 

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Estou acordada, amor

Vim de sonhos tranquilos dessa vez,

especiais


Ainda é bem cedo, mas queria compartilhar algum contigo… 

E te escutar falando de volta até sobre os sonhos que já esqueceu.

sábado, 11 de setembro de 2021

Laguna

Seu cheiro era cítrico e refrescante, perfeito pra dias de primavera. 

Estava consciente de todo o resto, dos gestos, do timbre da voz, de cada assunto que iniciava. Achava tudo interessante, queria estar ali, queria estar mais um pouco ali. 

Quem dera conseguisse continuar querendo. 

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

2000 e (muito) poucos ou Crepúsculo

 (…)

Não sou feia, nem bonita, mas tenho 20 anos e vivo em uma época em que os padrões de beleza ainda estão nas revistas e não em explosões de câmeras digitais, por isso me preocupo pouco  com meus quilinhos a mais/a menos sem intenção de me matar por isso. Ainda não. 

Me penso perdidamenre apaixonada por um “punk” paulista de cabelo moicano com quem converso pela internet e que me apresentou Will Eisner. Se eu o amar durante a vida inteira vai ser por isso. Exclusivamente por isso.

Estou fazendo amizades pela faculdade e ja me sento em um banco que logo mais estará cheio de pessoas que sigo adorando conhecer. Tinha acabado de abandonar o livro de Kant pela hq de X-men e nunca esperaria, em nenhum momento, ser avassaladoramente transformada por uma presença. Mas foi ali que te vi. Naquele exato momento.

Você tinha um olhar diferente. Não era triste, nem distante. Não estava ali, não iria notar minha presença, não iria se dirigir a mim. Nunca estaria ao meu alcance.

Te acho lindo do jeito certo e você sim, você tem os padrões de beleza dessa época e das que virão pela frente, mas nem foi por você ser alto e de tirar o fôlego. Foi por você está de preto. Completamente de preto.

(…) 

sábado, 4 de setembro de 2021

Ontem, mergulhada na escuridão da varanda, sem ninguém pra me acompanhar, deixei meu corpo repousar em silêncio.
Tinha um cálice de vinho pela metade nas mãos e ouvidos atentos aos sons da madrugada.
De longe, uma criança utilizava de seu reduzido vocabulário pra chamar alguém. Provavelmente pra protegê-la, embalá-la ou ajudá-la a voltar aos seus sonhos azuis.
Como que um alerta, olho pro visor que me mostra se estás adormecida ou acordada.
Pode chamar sempre que precisar, filhinha.
Nada é mais urgente do que um pedido teu. 
Irei sempre te ajudar a voltar pros sonhos.  


sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Da minha pequena bolsa pulsante

No silêncio encontrei as respostas

Aquelas, que sempre procurei

Da busca incenssante, do vazio

do que tenho em mim

do que nao tenho em mim


Quero girar no carrosel de emoção dos outros

Quero engolir alguns poucos sorrisos

E até nas lágrimas, me encontrar um pouco

Preenchendo minha pequena bolsa pulsante


Vendo.

Ouvindo.

Sentindo.

Sempre.

Sentindo sempre.


O que no peito tanto me cabe,

 o que na alma pouco aglomera,

o que da vida nunca ressinto,

 o que no fim ainda me espera,

o que eu quero e ainda admito, 

do calor que teima e prospera,

do que me falam e ainda acredito,

da expressão no rosto sincera

do fim, do meio, do início

do que volta, fica,

reverbera.


sábado, 28 de agosto de 2021

A música preferida

 Há algo poderoso em “Can’t help falling in love.”

Algo no que Elvis fala, mas também no que ele cala.

Transcende várias coisas que entendo como amor, apesar de ser sobre ele. Sobre a força de eventos inevitáveis, coisas destinadas a ser. 

Há algo maior que está nas entrelinhas, mesmo ele cantando sobre a entrega mais profunda, incompreendida pelos sábios, escolhida pelos tolos, sobre rio fluir pro mar.

Está no “certamente”, na falta de controle, na aceitação de estar emaranhado em uma rede que te tira de um lugar confortável, de saber que ser levado assim nao é uma escolha.

Pegue minha mão e minha vida inteira - ele fala.

O que me importa é sentir - ele cala.

O que me importa é sentir.



 


O inverno acabou.
Restam as folhas que caíram, mortas
A saudade de vê-las vivas
O verão que parece não chegar.


O retorno dos Chocolates

     Estou desempacotando todas as coisas que farão desse espaço a minha casa, mesmo distante do que sempre chamei de lar.
     Colocamos pouca coisa no lugar e tenho mil pedaços de minha outra vida espalhados nesse novo canto, esperando e aguardando para serem transformados.
     O tempo bem frio me machuca às vezes, vivo correndo atrás de pequenos pedaços de sol e me deito em cada canto que encontro eles. Você sorrindo da minha inquietaçao com o tempo, com a vida, com o mundo, sempre foi o sinal que precisei pra saber que mesmo quando tá assim, tudo espalhado desse jeito, caramelo salgado, tbm está enlouquecidamente certo. Mais até.

      Me distancio um pouco das caixas e resolvo tomar um ar na varanda. Caminho até lá, soltando os cabelos que cresceram ao ponto de quase tocarem o meu jeans e ainda desacostumada com a minha nova vista, me surpreendo contente, encontrando um ótimo lugar pra começar um jardim. 
     
 A campanhia tocou e acho que você nao escutou pq tocou mais uma vez e fui atender desinteressada. E não era pra ser surpresa, mas foi: a caixa de chocolates igualzinha, do mesmo jeito que te descrevi. Corri logo pra conferir o endereço e abri um sorriso: dessa vez tinha o meu nome. Me pertencia. Assim como as flores que iria plantar nos próximos dias. Meu jardim. 



Abro a porta e vejo ali, no escuro ainda, naquele início de noite, embalado e misturado pelo som melodioso que tu sempre coloca pra tocar, o detalhe desse amor profundo que tive a sorte de encontrar um dia e que reencontro em
todos os outros. 

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

A cura

Nas trêmulas e fra(n)cas linhas daquela hora, em que por pouco ainda não estavam minhas últimas palavras, lembro do invejoso dia em que não pude sair ao relento, nem pude viver a primavera da minha juventude recém descoberta. Enquanto via tudo ao meu redor florescer, rezava que a febre não voltasse e que me deixasse pelo menos terminar algum texto. Na alvorada que me permitia a vida, descobria alguns autores que teria muito bem deixado pra depois, se a ocasião me permitisse acompanhar as entusiasmadas festinhas que me foram terminantemente proibidas. Lia bastante, começava a escrever, transformei o título de um romance da minha avó em um poema em que uma jovem pegava fogo. Encontrei minha poesia. 
Mesmo depois, me redescobrindo viva, me sentia tóxica e diferente. Tinha um medo constante de pegar fogo de novo e a sensação contínua e insistente de que algo havia pra sempre sido roubado de mim. 
Não entendia. Não entendia que algumas flores precisam desabrochar de uma forma diferente. Não entendia que nos caminhos de fogo e de algumas noites escuras estão tudo o que algumas pessoas precisam pra aprender a amar a luz. As cores. 
Mas aprendi.
No meu corpo jovem e curado morava todo ensinamento que eu precisava pra deixar meu corpo fraco e doente pra trás.

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Tá tudo bem

 Tá tudo bem, tá tudo bem, tá tudo bem...

Esse é o nosso jeito de fazer as coisas, a gente apara as arestas, ajusta, monta, desmonta, de um jeito, de outro, tá tudo bem... É apenas uma mudança, de novo, é apenas um novo jeito de viver que parece melhor mas que a gente não  conhece e sim, dá frio, dá nó, dá aperto e calafrio, mas a gente vai junto, então tá tudo bem... 

Você diz que fui eu quem escolhi e apontei a nova forma e quis mais do que você, mas sei lá, me sinto um espelho, reflexo quase perfeito do que tu sentes, eu sei tuas próximas palavras e teus mais íntimos desejos, a frase que sai, a frase que cala, eu te conheço e sei que você também não está conseguindo dormir bem essa noite, o sono não vem, a ansiedade é maior mas tá tudo bem e pro bem.

Sinto como uma continuação diferente, mas tá tudo bem sentir esse aperto, as mudanças, reviravoltas, furacões, estremecem, bagunçam, tiram um pouco as coisas do lugar, mas fica tudo bem, eu sei, pq a base é forte e não cai, amor, nem mexe e eu sei que você também sabe, apesar do sono não chegar mesmo com o cansaço, eu sei que você sabe melhor do que ninguém.

Tá tudo bem. Com o que vai e com o que vem pela frente, com esse novo ciclo repentino, que seja bem vindo e querido. As plantas são minhas e os espaços vazios serão preenchidos, te prometo amor, mais quadros, de novo. E o amor de sempre. Com cor, em trio. Tu sabe, amor, tá tudo bem. 

terça-feira, 3 de agosto de 2021

IX

Está chovendo muito, daquelas chuvas que caem fina mas molha tudo, sabe? 

Fui até a janela pela terceira vez pra ver se realmente estava fechada e ainda assim, continua parecendo que a chuva cai dentro da casa.

Tremo de frio, é o finalzinho do inverno. Vivo sonhando com os dias quentes que virão e desejando sol sem nuvem nenhuma na frente. 

Não penso em nada que não seja me esquentar e percebo que tenho que comprar mais tapetes. Ou me mudar, embora goste muito dessa casa. 

Vou peregrinando por mil desses pensamentos inúteis, postergando os que realmente deveriam estar ali. As pontas dos meus dedos estão doendo enquanto escrevo esse texto. Mais partes do meu corpo doem e eu percebi que com a idade, as coisas exteriores tendem a doer mais, mesmo que as interiores passem a doer menos. 

Estou quase desistindo desse texto, quando ouço uma música bem suave vindo da sala. Menos reflexiva e mais animada, começa a fechar o computador, lembrando que também chovia quando nos reencontramos. Na música que toca agora, eu não escuto a letra, mas sinto teu amor na melodia. É...você sempre sabe o jeito certo de me dizer que está por perto e que eu não estou sozinha. 

domingo, 11 de julho de 2021

Voltei a encontrar a insônia, dessa vez mais cedo hoje.

Tive uma manhã movimentada e um dia que poderia muito bem ser considerado feliz se a época o permitisse sorrir sem culpa.

Não vou desistir do son(h)o. 

VII

Abrimos a porta cambaleantes.

O quarto era lindo, mas nem conseguimos notar.

Te dei um beijo muito longo de pura felicidade.

Você me respondeu com outro, sorrindo um pouco de minha bêbada espontaneidade.

Tenho uma carreata de botões nas costas e um vestido longo e branco que te desafio a tirar agora.Você vem logo tentar.

Vou deitar com parte dele retirada e parte vestida, bagunçada de alegria, você do lado mergulhado no sono profundo da embriaguez em que eu queria estar.

Olho pra varanda e vejo as luzes do dia que começam a desafiar a madrugada. Olho pra gente e vejo o desafio que lançamos de volta pra elas, por estarmos do avesso aqui e agora, celebrando atrapalhados o nosso pacto. 

Acertando nada e acertando tudo.



quarta-feira, 7 de julho de 2021

V

Cheguei do trabalho e fui fazer o jantar cantando(?).

O curioso é que é a parte do dia que menos gosto.

A maioria das vezes, chego tão cansada que até amaldiçoo essa etapa.

Mas são 20h15 e você vai me ligar. 

Isso muda tudo. 

terça-feira, 6 de julho de 2021

III

Dessa vez, estou vestindo minhas roupas sem pressa.

Enquanto procuro abotoar o sutiã, olho pela janela e me sinto em paz com a luz azul que entra por ela.

Estou a ponto de fazer um pouco mais de barulho pra te acordar, embora cada pensamento sobre ficar me deixe mais perto de ir embora.

Ainda não sei o que fazer agora.



segunda-feira, 5 de julho de 2021

I

Notei ele sentado, quase sem se mover.

Tinha um olhar diferente, não era triste, mas distante.

Certamente não estava ali.

E muito menos ao meu alcance.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Se for pra ler algo bom, eu paro

Tenho que correr, tenho que correr. Talvez em algum momento eu pare, mas hoje tenho que correr.

Tenho aprendido a acolher o furacão, sim, medito, deixo entrar e lentamente acalmo ele aqui dentro. 

Hoje não. Tenho que correr. 

(embora consiga, talvez, esperar os dois poemas lindos de um velhinho que me prometeram ontem). 

terça-feira, 29 de junho de 2021

Talvez a lua apareça hoje

Estou aqui, com os pés apoiados na cama, mordendo o óculos de grau que guardo apenas pra esses momentos, aguardando. Fico aqui, esperando silente que algum pensamento valha a pena, embora sabia que mais uma vez irei dormir(?) com a sensaçao de que nenhum vale. Tenho quatro livros não concluídos do meu lado e um marido que aprendeu a dormir com a luz do abajur acesa quando não durmo. O cansaço bate e meu cabelo que esteve caindo sem parar faz cócegas no ombro. Tenho certeza que se eu sair pra varanda não vou ver a lua…

…mas vou tentar mesmo assim. 

sábado, 26 de junho de 2021

Estou colecionando os sorrisos que capturo no meu dia e queria muito mais ver o teu do que o meu repetidos descaradamente nessa coleção.  

Publicável

Estou anestesiada demais. Não sinto pelo menos metade dos sentimentos que deveria sentir. Ao menos o meu corpo deveria sentir algo, embalado hoje por um dia bom e pelo álcool, mas meus pés, até eles, se movimentam pesadamente, automaticamente, desconectadamente. Dois dias inteiros sem dormir e eu querendo mais o sonho do que o sono pra me recuperar. Então vem esse texto e talvez mais outro pela madrugada adentro, provavelmente impublicável. Guardo alguns textos pra mim. 

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Becoming boring

Nossa, pensei que fosse gostar das velas.

Imaginei todo o  cenário, “chiaroscuro”, diversões com sombras na parede, aquele tom de romance, as marcas atraentes que essas sombras deixam em um rosto pouco iluminado, a aventura de viver o momento diferente, o beijo surpresa no ombro, quase como um susto, por ser ainda mais inesperado…

…mas me peguei torcendo pra que a aventura terminasse antes mesmo de começar.

E me peguei reclamando, passando essa noite sentido falta do que não me permiti.

E me peguei evocando memórias de mim que nem me parecem reais, mas que combinam muito com o que quero e descombinam muito com o que devo.

E eu só queria ter gostado das velas por amar todo o entorno dela. E principalmente quem as acendeu. 

Amanhã, quem sabe? 

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Caminhando

Eu melhorei, sério, eu melhorei. Não como pretendia, fato. Continuo tendo esses delírios, sonhos acordada e vez ou outra vontade de sumir que se transforma em pânico de sumir de verdade. A corda no pescoço aperta... esses tempos me encaram de uma forma tão sombria, tão sombria que eu, que antes detestava escuro, me pego sentindo mais a vontade nele.... mas eu melhorei. Talvez muito pouco, mas o suficiente pra começar a enxergar minha sorte, embora continue me achando pouco merecedora dela. Ah, mas veja, eu tenho essa mistura não-legal de me amar muito em um minuto e me detestar no seguinte. Eu não superei isso, é tão enraizado que acho que não é adquirido, é realmente quem sou. Meio aqui e meio lá, um pouco de luz, um pouco de sombra, um dia sorrindo em piqueniques e no outro dia, me levantando pra escrever sozinha pela madrugada... mas eu melhorei. De verdade. Consigo enxergar o universo que habita os olhos dos que amo, a sorte de coexistir com eles e, mesmo quando a noite me parece escura demais, tenho procurado as estrelas... ou os vagalumes que imitam elas. 

sábado, 22 de maio de 2021

Vou aproveitar meu jardim

 Eu estou tão bipolar, acordando hoje otimista... esse sobe e desce de emoçoes deve estar sendo insuportável pros que estão ao meu redor, porque já está insuportável até pra mim....

... mas está tocando “Chão de giz” e tem um ranger de balanço que ecoa por toda a casa que faz o café que tomo agora ficar mais gostoso. Ah, o sol apareceu hoje e apenas o simples ato de pendurar os casacos me deixou mais feliz.

O sol anuncia as coisas que mais gosto e, bem, eles estão brincando no tapete e sei que me esperam pra dançar alguma música da gente.

Pensando nisso, não consigo parar de sorrir. 


sábado, 15 de maio de 2021

O amor é paciente, persistente, valente.

E a tudo enfrenta.


sábado, 27 de março de 2021

Mais um dia na pandemia

Uma página em branco, um sorriso no rosto, um dia de chuva.

Respiros...

São pequenos sorrisos mágicos, irradiados por um pequeno ser com menos de 2 anos.

Respiros...

Alguém que satisfaz teus pequenos desejos como se fossem grandes sonhos.

Suspiros...

...no meio do furacão. 







segunda-feira, 15 de março de 2021

Quando eu quase morri com 16 anos, achei que estava destinada a uma história trágica.

O tempo passou e as coisas que se desenhavam ao meu redor eram, por vezes difíceis, mas quase sempre superáveis e a maioria das vezes bem bonitas. Sempre me achei com mais sorte do que merecedora das coisas boas que aconteceram comigo e, uau, não paro de me surpreender quando o caminho é florido. É que esse frio na barriga, essa quase visita da morte que por muito pouco me deixou por aqui, me acompanha sem cansaço. Fresta os cantos escuros de minha mente e me faz aproveitar menos os dias de sol do que eu realmente gostaria. Um amigo viciado em signos me dizia que é essa minha ascendência escorpiana que me atrai pro que é profundo, misterioso e transcendental e embora eu visitasse e sonhasse com caminhos nebulosos, é o meu lado terreno e o bom signo de touro que me guia pelas estradas que eu trilhei e trilharei. Mais uma vez, conto com a minha sorte pra me salvar(?) de mim mesma ou daquilo que me sinto continuamente destinada. 

Veja (coloco na pessoa do singular pq duvido que muitas pessoas além de mim lerão esse texto), é que tenho tido madrugadas inteiras e insones pra pensar demais e permitir que esse tempo assombroso invada meus sentimentos de alegria. 

E apenas para me fazer entender pelos personagens que clareiam os meus dias, eu não quero mais e nem nada além do que possuo. Não, não, não. Vocês são a vida me sorrindo e me impedindo de cair. As plantas, a água, o ar, meu ar. Esse texto não nasce da falta, nasce do excesso. Excesso de vontade de renovação, de encerrar um ciclo frequente de sombras. Nasce da vontade de respirar tranquila o cheiro de grama, de acordar e dormir aguardando bons sonhos, de refletir os sorrisos que me brindam e de aceitar com serenidade os meus dias de sol.

domingo, 24 de janeiro de 2021

O primeiro desejo

Era um prédio enorme, cheio de andares e muitos blocos. A menina(?), com seus 13 anos quase feitos, sentava-se no batente, tentando retirar - sem jeito - o seu par de patins bem velho e muito usado. Assustou-se quando uma sombra se aproximou.

- Oi, posso te dá uma dica?

Ela olhou pra cima e viu, meio tonta e envergonhada, que na frente dela se encontrava um menino(?) de uns 16 anos que nunca tinha visto antes, meio loiro, bem bonito, com um sorriso ao mesmo tempo confiante e gentil. Ela ajeitou como podia a forma em que estava sentada e disse com insegurança um sim quase inaudível. Ele se abaixou e ficou na altura dela.

- Primeiro, você precisa de um par novo - falou sorrindo e ela sorriu também - Segundo, acho que você deveria tentar descalçar eles em pé. A gravidade pode ajudar. E pode segurar em mim pra não cair enquanto faz isso. 

-Quem é você? - ela reuniu coragem pra dizer.

- Henrique - ele sempre sorria quando terminava uma frase - Me mudei faz pouco tempo pro bloco C. Eu, minha mãe e meus três irmãos. Já já você deve conhecer eles. Também estão explorando as redondezas. E você?

- Carla - falou enquanto se apoiava nele, bastante tímida e tentava retirar um dos patins do pé, sem sucesso - Acho que vou subir e tentar cortar eles, Henrique. Não parece que vão sair de outra forma.

- Então deixa eu tentar te ajudar de outra forma. Senta de novo que eu puxo.

-Não, não precisa - ela já estava mortificada e só queria se esconder. Sabia que aquele menino(?) era interessante demais pra que a primeira conversa deles fosse daquele jeito.

-Vamos tentar antes de você "assassiná-los"? Você poderia querer doar eles pra alguém depois.

Com aquele argumento, Henrique deixou a menina sem ter o que falar de volta e pareceu muito mais maduro do que aparentava. Ela falou um "ok" e sentou no batente, mais impressionada do que envergonhada dessa vez.

Ele se abaixou, ficou de novo na altura dela e olhou pro par de patins com determinação. Enquanto a ajudava a esticar a perna e segurava a bota, olhou pra ela. Dessa vez não disse nada e nem sorriu. 


segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Mas se nunca se queimou: arda.

O seguinte, com o tempo cada vez menor: 

Olhando pra tudo, vejo que há uma emoção surpreendente no sossego. Uma brisa morna, um arrepio quentinho na espinha, um calor que apenas abrasa. Se for pra imaginar, digo que é daqueles momentos em que se está deitada, deixado o sol bater... mas não queimar. 

Intruso

Mais um rápido porque o tempo me permitiu essa licença.

Não, não estou bem e nem estou mal. Estou apenas apaixonada e isso sempre me incomodou.

O que me tira de mim e não me deixa seguir tranquilamente em tédio, traz momentos de reflexão agoniante sobre coisas sem lógica como o amor. E ´tá bom de amor. 


domingo, 3 de janeiro de 2021

On the road

Estamos pegando a estrada, enquanto toca baixinho um blues de Janis Joplin.

Nossa filha dorme e, como tudo que ela faz tem minha torcida incondicional, fico aqui desejando pra ela os melhores sonhos.

Da praia pro campo, das férias pro lar. Estamos vivenciando um período estranho onde também é estranho abraçar quem amamos e o normal é passar longos períodos sem os ver.

Sinto algo aqui, como um anúncio de uma alvorada, mas é essa pssagem de ano que inflama um pouquinho a chama fraca da esperança. 

Tenho muito medo de que continuemos passando ainda muito tempo assim. É cansativo demais gastar tanta energia na ponderaçao de decisoes que deveriam ser simples. Nos conflitos que nem deveriam surgir. Damn...

Quilometros de estrada pela frente separam a família que nos criou da família que criamos. Fico aqui pensando que é gostoso inaginar que já já estaremos em casa e vou poder “tocar” o meu presente de natal depois que colocar nossa filhinha no berço. E talvez até acompanhar o meu marido percussivo. E também vou adorar ver nossa filha revendo o cantinho dela com o temperozinho da saudade. E assistir alguma série ou filme com a companhia que mais me acompanha em tudo. Ou ainda ler os livros que deixamos reservados no criado mudo para depois. Queria apenas ter podido abraçar sem culpa quem deixei distante. Na verdade, to acumulando esses abraços que eu queria dá. Isso tiraria todo o peso que eu preciso pra viver de novo em paz. Tenho sufocado de vontade.

Mas fiquemos aqui, no momento. O sol está lindo e o dia agradável. A vontade é de abraços nao dados, mas também é de lar e de recomeço. 2021 chegou agora. E na minha história, os anos ímpares, mesmo sendo os mais desafidores, sempre foram também os das melhores mudanças. Que venha e que seja.