domingo, 24 de janeiro de 2021

O primeiro desejo

Era um prédio enorme, cheio de andares e muitos blocos. A menina(?), com seus 13 anos quase feitos, sentava-se no batente, tentando retirar - sem jeito - o seu par de patins bem velho e muito usado. Assustou-se quando uma sombra se aproximou.

- Oi, posso te dá uma dica?

Ela olhou pra cima e viu, meio tonta e envergonhada, que na frente dela se encontrava um menino(?) de uns 16 anos que nunca tinha visto antes, meio loiro, bem bonito, com um sorriso ao mesmo tempo confiante e gentil. Ela ajeitou como podia a forma em que estava sentada e disse com insegurança um sim quase inaudível. Ele se abaixou e ficou na altura dela.

- Primeiro, você precisa de um par novo - falou sorrindo e ela sorriu também - Segundo, acho que você deveria tentar descalçar eles em pé. A gravidade pode ajudar. E pode segurar em mim pra não cair enquanto faz isso. 

-Quem é você? - ela reuniu coragem pra dizer.

- Henrique - ele sempre sorria quando terminava uma frase - Me mudei faz pouco tempo pro bloco C. Eu, minha mãe e meus três irmãos. Já já você deve conhecer eles. Também estão explorando as redondezas. E você?

- Carla - falou enquanto se apoiava nele, bastante tímida e tentava retirar um dos patins do pé, sem sucesso - Acho que vou subir e tentar cortar eles, Henrique. Não parece que vão sair de outra forma.

- Então deixa eu tentar te ajudar de outra forma. Senta de novo que eu puxo.

-Não, não precisa - ela já estava mortificada e só queria se esconder. Sabia que aquele menino(?) era interessante demais pra que a primeira conversa deles fosse daquele jeito.

-Vamos tentar antes de você "assassiná-los"? Você poderia querer doar eles pra alguém depois.

Com aquele argumento, Henrique deixou a menina sem ter o que falar de volta e pareceu muito mais maduro do que aparentava. Ela falou um "ok" e sentou no batente, mais impressionada do que envergonhada dessa vez.

Ele se abaixou, ficou de novo na altura dela e olhou pro par de patins com determinação. Enquanto a ajudava a esticar a perna e segurava a bota, olhou pra ela. Dessa vez não disse nada e nem sorriu. 


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