Nas trêmulas e fra(n)cas linhas daquela hora, em que por pouco ainda não estavam minhas últimas palavras, lembro do invejoso dia em que não pude sair ao relento, nem pude viver a primavera da minha juventude recém descoberta. Enquanto via tudo ao meu redor florescer, rezava que a febre não voltasse e que me deixasse pelo menos terminar algum texto. Na alvorada que me permitia a vida, descobria alguns autores que teria muito bem deixado pra depois, se a ocasião me permitisse acompanhar as entusiasmadas festinhas que me foram terminantemente proibidas. Lia bastante, começava a escrever, transformei o título de um romance da minha avó em um poema em que uma jovem pegava fogo. Encontrei minha poesia.
Mesmo depois, me redescobrindo viva, me sentia tóxica e diferente. Tinha um medo constante de pegar fogo de novo e a sensação contínua e insistente de que algo havia pra sempre sido roubado de mim.
Não entendia. Não entendia que algumas flores precisam desabrochar de uma forma diferente. Não entendia que nos caminhos de fogo e de algumas noites escuras estão tudo o que algumas pessoas precisam pra aprender a amar a luz. As cores.
Mas aprendi.
No meu corpo jovem e curado morava todo ensinamento que eu precisava pra deixar meu corpo fraco e doente pra trás.
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