Ontem, fui assombrada pela incerteza.
Acordei às quatro da manhã, acolhi minha filha que havia despertado, tentei ler para voltar a dormir, abri o bloco de notas, as palavras não chegaram, deixei para hoje.
Agora, que me permito esse tempo, antes de começar a rotina diária, tento expressar essa confusão antiga, embaraçada com sentimentos que ainda não sei nomear. Tentarei com este texto.
Sempre tive a impressão de que algo me esperava na próxima esquina. Fui passando e caminhando por elas, sempre lançando-as um olhar de lado, atravessando os cruzamentos com insegurança, mas atravessando-os mesmo assim.
Recebi um exame ontem com dois marcadores preocupantes para a medicina. Ainda não sei do que se trata. Ainda não é uma doença. Não, até que um médico resolva chamá-la assim. Por enquanto, é apenas um exame fora das curvas de referência. Neste instante, só me permito pensar dessa forma. E até nove horas. De nove em diante, seguirei como se não existisse, mas marcarei os médicos, claro. Não sou tão displicente assim.
A verdade é que não me senti abalada. Compartilhei com uma amiga médica, com um amigo próximo, com meu marido antes de dormir, mas sem alardes, sem exaltação.
Se tiver que lidar com algo profundo, que batalhe com meu corpo, eu lidarei, ora. Para ganhar a batalha. Para ficar bem.
Especialmente pela minha filha e pelos meus. Mais por eles do que por mim, na verdade. Pois é.
Estou no blues de fim de mês, esse período estanque, que coloquei um nome bonito, apenas para não chamar de outro, mais grave.
Durante esse tempo, meu vazio grita mais do que de costume, sou bombardeada por sentimentos que não me fazem bem, revisito momentos dolorosos de minha vida, não consigo enxergar a luz nos dias que amanhecem e nem agradecer pelas noites que estão por vir. Fico cega. Oca. Frívola. Inadequada.
Mesmo assim, continuo chamando os marcadores do exame de "circunstância".
A mesma que sempre temi encontrar na próxima esquina?
Rogo que não, enquanto atravesso o cruzamento.