Ela achou que não importava, mas também achou decadente e triste o bar.
Nas paredes descascadas, nas fotos dos heróis mortos, na música que repetia e repetia o mesmo som, insistentemente. E na própria agonia em voltar ali sozinha. Insistentemente.
Ela só bebia água, achando que assim, a ausência de toxinas não alteraria a lucidez que queria, que idealizava, que sonhava.
Um dia apenas, um dia. Apenas um de sossego despretensioso, de ficar olhando o vazio e deixar que as coisas acontecessem ao seu redor sem atingi-la, sem convidá-la, sem esperar que colaborasse ou de alguma forma alterasse o rumo do mundo. Um dia inteiro sem participar de nada e sem que nada, de volta, acontecesse. Um dia…
(Se fosse um roteiro, diria que suspirou profundamente enquanto levava o copo à boca, com um olhar vago e vazio, ignorando tudo o mais que acontecia ao redor e sendo também felizmente ignorada).
Do gole de água pura e cristalina, invadindo o seu corpo e limpando, de alguma forma, umas semanas ruins, desejou ter a fé necessária pra agradecer aquele momento, onde as paredes descascadas e os quase heróis que lhe sorriam em fotos congeladas no tempo que se perdeu, refletiam perfeitamente o que imaginou ser sua própria alma. Começou a rezar, mas não lembrou da oração. Trocou pela música que tocava e que sempre gostou da letra. Quem sabe assim funcionaria também?
Acho que sorriu.
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