As despedidas são tristes e a astronauta prefere evitá-las. Após vestir-se de branco e ajustar algumas partes de sua vestimenta, olha apenas de relance para trás. Mal se vira, deixa apenas um dos olhos viajar rapidamente pelas coisas e pessoas que abandona e não se despede. Ela não consegue.
Entrando, determinada, na nave que seria - talvez pra sempre - a sua nova morada, toca os objetos que lhe farão companhia em sua jornada. Apresenta-se mentalmente pra si mesma: "aqui estou, presente!". Sente que já está enlouquecendo. Premedita que enlouquecerá.
Ingressa no sonho sabendo que em partes dele também moram os pesadelos. Sorri nervosa com a recém adquirida lição de sabedoria, mas não tem tempo para arrependimentos: as turbinas já começaram a cantar as primeiras canções de despedida que as levarão pro espaço.
A astronauta fecha os olhos, uma lágrima escapa. Começa a calcular o tempo que falta pra descobrir a verdadeira cor do universo, é tudo tão rápido, supernovas, cometas e pessoas desfilam em sua mente, alegrias, descobertas, tristezas, saudades. Caminhos que talvez jamais se cruzem de novo, flores que não colocará em túmulos, flores que não receberá, vidas que não terá tempo de compartilhar e conhecer, perguntas que deixou sem respostas pra responder as próprias perguntas que talvez não consiga nunca responder.
A astronauta abre os olhos e diante dela, como que pra tranquilizar a combustão de sentimentos, revela-se, incontestável, a primeira resposta…
…as estrelas…
…elas valem a pena.
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