Parece que inventei esse jogo de minicontos. Hemingway inspirou. Exige jogadores pacientes que tenham uma paixãozinha por escrever e que gostem de desafiar possibilidades. O objetivo é simplesmente contar uma história - como quiser - em até duas linhas, uma narração completa com o mínimo de palavras possíveis. Ali deve estar tudo: no ponto final a desnecessidade de complementos. Deixa sim espaço ao leitor pra voar com a imaginação diante das elipses narrativas, mas só a título de sugestão porque cada palavra nele já deve ser suficiente. Não me parece justo ter perdedores. O ganho é notoriamente particular. Um auto desafio, bom pra jogar sozinho, bom pra jogar acompanhado - e a depender com quem se joga bem divertido. Penso em praticar bastante - perfeito pra associar minha falta de tempo com minha vontade de escrever. Patentear também.
Seguem, como maus exemplos, minhas tentativas frustradas de hoje:
O Astronauta
É que li um miniconto sobre um astronauta. Em duas linhas passava tudo. Local, sentimentos, descobertas e encerrava ao mesmo tempo com fé e desespero. Eu não me sinto hábil ao ponto de contar boas histórias em duas linhas e tenho vontades que interrompem até minhas boas histórias. Porém, eu tento. Essa tem quantas? Poderiam ser duas, transformaram-se em três e agora são quantas? Quatro? Acho que depende do formato.
A Lua
Ah, o pensamento que interrompe meus papéis e cálculos, apenas pra me fazer sonhar sobre um dia em que eu não precisei sonhar. As estrelas eram suficientes e a lua... brilhava só pra mim.
A Astronauta
A astronauta, os movimentos, sua dança, a ausência do peso na gravidade. Espectadora, tenta tocar as estrelas que assiste mesmo que pareçam fora do alcance. Mesmo ali.
A escritora
Leu o que escreveu e não desistiu. Estava viva, amava letras, pessoas, transformar o movimento do lápis em sentimentos. Isso bastava, criar. Perdão pra quem ainda costuma lê-la já que nada parece fazer sentido. Nem as histórias e nem os sentimentos.
O jogo
Virou um jogo sim. Eu consigo. Duas linhas. Apenas duas linhas. Interrompem meu sossego pela impossibilidade de não conseguirem ser apenas duas linhas. Contenha-se agora. Para. Impossível? Impossível. Me excedi outra vez.
O primeiro céu
Perseverante, mas péssima em resumir. Especialmente quando falo sobre o céu. Existe tanta coisa pra falar sobre o céu, mas vou calar. Olha hoje! Basta olhar.
O segundo céu
Olhou? O céu? Há cores e encantos que ele mostra e cores e encantos escondidas que só se pode imaginar. Perco muito tempo imaginando. Perco?
Seguem também as que, aparentemente, acertei:
A imaginação
Chegou, me fez continuar a brincadeira e terminar mais um texto. Bem-vinda, imaginação, bem-vinda.
A pontuação
Parecia que morava no ponto a eterna interrogação.
A porta
Na fresta da porta encontravam-se os segredos que nunca pensou em dividir.
O amor
Romances são mitos, parceria é amor.
O amor dele
Teu amor está na varanda, na janela, na cafeteira. Na taça de vinho esperando meu brinde na mesa.
O amor dela
Meu amor está nos detalhes que enfeitam e preenchem o lar que nos permite sonhar.
O início
Parecia tão bom quanto o primeiro pedaço de um bolo preferido.
O meio
Maduro, enxerga nos desastres oportunidades de crescimento.
O fim
Otimista ou tola, enxergava no fim um começo.
A mulher
Inspirando-se, encantando-se com detalhezinhos. Continuava assim.
O livro
E o livro aberto era um convite mudo pro seu universo.
A pergunta
Quem sabe ali não mora a lição mais preciosa sobre simplicidade?
A conclusão
Parece que encontrou um jeito das coisas andarem do seu jeito.
A esperança
Que seja como hortelã: um doce ardor.
*** Inspirado no miniconto de Ernest Hemingway : "Vende-se um par de sapato de bebês. Nunca usados".
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