Estava diferente, sentia diferente.
Nos filmes, quando apertavam o abdômen, não encharcavam a mão de sangue.
Nos filmes, geralmente existe um grito no estampido, uma agonia no som do bala rasgando a pele e outros tecidos do corpo e não essa surpresa muda de ser baleado praticamente no meio da rua e só perceber tarde demais.
Nos filmes, eles caem lentamente encostando-se na parede e deixando um rastro parecido com pintura registrado.
Nos filmes, eles parecem reviver no curto espaço que separa a vida da morte, histórias que valeram a pena, alguma conformidade, mas dor na despedida e não aquele branco desesperador de quem simplesmente vai.
Sim, parecia diferente de tudo nos filmes: minha morte iminente, o pouco caso da multidão que preferiu continuar o protesto a conferir o corpo no chão e a gargalhada que soltei cheia de sarcasmo, fazendo mau uso do que parecia ser o meu último fôlego e que, aparentemente, a atraiu e fez correr em minha direção.
Sim, tudo diferente dos filmes, tudo, menos ela.
Fiz um esforço incrível pra não fechar os olhos quando ela chegou.
A sua imagem...coisa de cinema.
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