domingo, 19 de abril de 2015

Esqueletos

Quando acordei, demorei um pouco para saber onde estava.
Em teu quarto escuro, não encontrei qualquer identificação pra mim.
Havia, claramente, naquela falta de cor, o espelho cru de todo o erro.
Do nosso enlace tardio que não cabia em nenhum de nós. Não mais.

A verdade é que tentamos trazer um pouco pro hoje o que deixamos pra trás.
Revivemos os esqueletos de um suposto amor frustrado.
A doce dúvida do que poderíamos ser quando no dia a dia queríamos mais do que tínhamos.
O arrebatador romance que sonhamos ter. 
Não.

Querido, quando acordar se lembre que nessa fria manhã do outro dia nos revelamos um fracasso.
Que não morava em nós qualquer sucesso para desenvolver uma vida a dois, aquele amor paciente.
Teríamos, se muito, alguns momentos de paixão.
Nossos olhos escuros brilhariam de noite e se apagariam de dia. 
Teus hábitos cinzas e minha vida de cor.
Antíteses do que queríamos.

Gritos de incompreensão revelavam-se no que via adiante.
Um desrespeito que acabava com um amor já ferido.
Talvez a raiva se infiltraria entre nós e acabaríamos, enfim, com o pouco que tínhamos.
Nosso 3% de sucesso pareceu-me precioso demais pra arriscar.

Levantei silenciosamente e tateei minhas roupas.
Na cama, deixei teu corpo ainda quente e recusei-me a acender a luz.
Deixei nosso amor no escuro, pairando como uma interrogação mais bonita do que qualquer reticências que viríamos a ser.

P.

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