Ontem, acordada, recebia os segredos que a madrugada, silenciosamente, me contava.
A lua azul invadia as frestas da escuridão, enquanto eu entoava, de forma contínua, uma velha canção.
(‘Cause you saw me standing alone) - ela dizia.
Sem um sonho no coração - persistia.
Sem esperança do son(h)o chegar - consumava.
Despertei mais uma vez suando muito.
Acredito que sonhei, embora não lembre o sonho.
Não deve ter sido bom, mesmo que tenha.
Um sonho bom é a eterna lembrança de que prefiro os sonhos. São meus pesadelos.
Conformado, sentei na cama, tateando o óculos na cabeceira. Demorei bastante, mas consegui.
Sem vontade alguma de visitar de novo os mesmos livros, caminhei até a janela.
Encostado no vidro, vendo ninguém, saudei com um meio sorriso o velho encontro que já me esperava.
Minha boa amiga madrugada,
aqui estamos de novo.
Subiu sim, porque não haveria de fazer diferente.
Sempre quis escalar, planar, ver de cima, do mais alto lugar do mundo.
Sempre quis fechar os olhos, sozinha, em um vôo solo, uma aventura própria, sentindo o vento levar o corpo pra onde a alma quisesse ir.
Nunca imaginei que seria diferente, nunca nem pensei que em algum ponto, entre aquilo que nos une e nos separa, seria de outra forma.
Daqui, bem de longe, de onde fico, consigo ver seus sorrrisos e continuo jogando com o mundo o velho jogo da boa sorte.
Que a minha seja boa.
Que a dela seja ótima.
Acabei de ler agora um livro sobre um casal bastante atraente: mente afiada, sintonia daquelas que faz até desnecessário terminar as frases. Sabe quando um sugere algo que o outro estava exatamente querendo fazer? Então, lembrei da gente.
Não apenas pq eles eram jovens, amantes e companheiros. De tudo. Pra falar a verdade, eles começaram bem diferente, pq tinha muita complicação no relacionamento deles, muitos nós pra desatar...com a gente foi diferente, né? Simples. Apenas aconteceu o que sempre sabíamos e sonhávamos que um dia aconteceria quando o outro aparecesse.
Não que na nossa história não existiam percalços, não que vivamos eternamente em lua de mel. Não é bem isso. Já passei da fase de acreditar que existe romance assim. Acho que posso falar por nós dois que a vontade de querer continuar mantendo a roda girando é o que mantém um bom relacionamento e o que rega o amor. Os momentos de silêncio em paz compartilhada, o sorriso cúmplice no meio de qualquer aglomeração, a troca que vem de milhões de conversas sem fim, o toque certo ao som das músicas que os dois querem ouvir, os quilômetros de estrada que percorremos sempre juntos (hj a três), os desafios que vieram quando nosso mundo mudou (cresceu) com uma nova chegada, as discussões vencidas pela vontade de ficar bem, os amanheceres, entardeceres, anoiteceres e as madrugadas (hj mais que antes), a certeza que nossa conversa acalma e ajuda no sono de nossa filha, diz mais sobre a gente do que qualquer sonata de amor.
Lembrei da gente pq um deles embarca na história do outro e ajuda a embalar qualquer tema. Acompanha, torce, impulsiona, vibra, mesmo que o assunto seja algo que interessa apenas no ponto que faz o outro feliz. Não somos mais inocentes em achar que somos muito parecidos. Temos mais similaridades e sintonia que muitos casais, mas o tempo vai ajudando a mostrar bem onde moram escondidas as diferenças. E que vão constantemente aparecer pq do jeito que temos sede por conhecimento, estaremos buscando sempre novos assuntos, de forma coletiva e muitas vezes individual. E amor, assim a gente aprende e ensina bastante nessa convivência intensa. Te prometo que nos meus ouvidos, embalado hoje pelo novo som que tu desenvolveu tão bem, mora sempre um cantinho carinhoso pra escutar os ritmos velhos-novos que tu descobre. E sempre a vontade de te acompanhar (mesmo sendo uma alma mais antiga que, por vezes, prefere escutar os mesmos discos) e ser convencida que pop também é bom.
Que saibamos sempre brindar tão bem às diferenças quanto sabemos brindar às semelhanças. Com vinho, amor e carinho. Ou um (damn fine) bom café, weiss, até Pitú. Esse é um texto pra dizer o que tu já sabe e, mesmo que eu não tenha dito diretamente, mora um "eu te amo" em cada frase dele. No entanto amor, te tudo.
