quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Entropia I

Em um futuro distópico, me pego contabilizando as mortes que ainda consigo contar.

Da família que nascera sobrara eu, Sebastian, e um parente distante que jamais conheci, mas que ontem - não sei como - sinalizou que ainda estava vivo.

Da família que não pude constituí havia ela, Mia. Fatalmente perdida, mas nunca, nenhum dia esquecida.

A última vez entre a gente havia sete homens armados, sete metralhadoras e um segredo que ela não teve tempo de contar. 

Muitas vezes eu paro e penso que continuar aqui é uma espécie de suicídio vagaroso e que quando corro pelas ruas de cidade destruídas me fazendo de alvo e me frustro cada vez que consigo escapar, ela pode estar por aí, viva, escapando por um triz das mesmas balas que também passou a procurar.

A carta de ontem foi inesperada, apareceu quando já havia preparado a dose de ácido líquido e estava enfeitiçado com as cores que apareciam no copo, enxergando nelas as minhas próprias coleções de dores. 

Um toque, dois, pula o três e vai pro quatro, é quando eu sei que posso abrir a porta, mesmo desacostumado a receber alguém.

O homem era magro, muito magro e tinha uma pele tão branca que me pareceu azul porque em cada lugar do corpo, as veias saltavam escandalosamente. Ele sorriu, poucos dentes, não falou nada, mas abriu a mão e me entregou um relógio. Da mesma forma que chegou, virou as costas e partiu. Me pareceu ser um daqueles que tomaram apenas a primeira dose da vacina contra o vírus que desolou tudo. Só lhe faltava voz e algum juízo. Os não vacinados estavam ainda piores. Eram míseras sombras sem vida. Calados pra sempre, sem voz, sem mente, presos em ideais e tempos autodestrutivos. 

Quando abri o relógio, desacostumado a saber as horas, o ponteiro maior marcava 10 e o menor também. O sinal da minha casa. Estranhamente senti um frio na espinha e um arrepio ao mesmo tempo familiar e inusitado por todo corpo. Era esperança. Pelo visto não havia esquecido.

domingo, 26 de dezembro de 2021

Melhor do que parar, respirar, deixar o corpo descansar, é essa correria que não cansa.
É esse dia que passa rápido, urgente, terminando antes de começar.
Sufocando intençoes, destruindo os espaços para dúvidas, começando e acabando, acabando e começando....

Melhor do que tudo que se desenhou de lá pra cá, é esse torpe presente.
Desorganizado, inconsequente, bagunçado, cansado, cantado, tocado...
sobretudo diferente e apressado,
certamente amante, vira e mexe amado
meu, teu nosso,
presente, vivente, urgente.



sábado, 25 de dezembro de 2021

Malbec, jazz e Getz

O vinho era tipo Malbec, o último na minha lista de vinhos. Eu sempre tenho boa vontade, sempre acredito que a próxima experiência vai ser boa, sempre fico ali, teimosamente, taça a taça, procurando encontrar nele o que acho que falta, sempre acredito que o melhor de toda a vivência está em notar as nuances dela. Assim, enquanto trazia a taça próxima aos lábios, ouvia a música (um jazz) e procurava, calmamente, no cheiro daquele vinho o aroma de todas as coisas que eu gostaria de provar. De olhos fechados, nota a nota daquele jazz começando a me aquecer, sentada confortavelmente em meu azul escuro sofá, me permiti um suspense antes de viver uma aventura e passei longos minutos adiando o momento do primeiro gole, já que achei que ajudaria cumprir todo o ritual que aprendi sobre degustação e girei a taça levemente buscando outros novos aromas que me apareceram e também pareceram ainda mais especiais por serem secretos e depois a elevei só um pouquinho, procurando achar nela o púrpura exato que eu queria ver. Nesse ponto, entre satisfação e antecipação, me vi preparada pra degustar o vinho daquela taça que eu, otimista, enchera mais da metade e novamente fiz como ensinaram, deixando que a língua fosse a primeira a tocar no vinho e que depois o líquido morasse por alguns segundos em minha boca para que eu pudesse senti-lo como deveria e apreciá-lo na totalidade, permitindo à minha memória palativa indicar o que aquele vinho poderia significar pra mim e até onde me levaria. E então, enquanto os detalhes, a imaginação, as nuances, transformavam o Malbec no melhor vinho que eu poderia beber, pouca luz na sala, sombras na parede, a música, aleatória,  mudando do jazz pra bossa nova, na minha mão, segunda taça, no meu corpo, um calor provocador, Getz rolando na faixa “Vivo Sonhando”, Joao Gilberto finalizando a última estrofe: “pobre de mim que só sei te amar”, me parece que ouvi teus passos e a chave girando, ansiosa, na fechadura da porta. 

Natal II

Abri o caderno e parei.
Pela primeira vez me faltaram palavras.
Ah, sentimentos não, os sentimentos estavam ali.
Na verdade, estavam até em profusão, em demasia, explodindo e engasgando e eu querendo que eles saíssem na ponta do lápis pra dizer…
o que quero dizer?

Me confundo, há vontade, há desejos, há votos e o que mais? 
Estou tentando, estou buscando, estou rememorando mil coisas,estou fantasiando outras mil,estou me esforçando pra escrever cada uma dessas palavras, tentando acompanhar os batimentos cardíacos acelerados, paro, me perco, tento voltar, remendo, respiro, me esforço o tempo todo e…o que quero dizer? Não consigo…

Eu acho que já falei demais pra quem não dorme bem há dias e acho que estou bem demais pra quem na verdade não está bem, mas sei que queria muito que um gole de cerveja acalmasse minha mente como acalma o meu corpo, queria muito que as risadas do dia de hoje fossem mais que um alívio e que quero, de verdade, celebrar a reunião desse dia não como um ato solene, não como uma data comemorativa, não como uma ocasião. Quero celebrá-la como o sopro de vida que sustenta tudo. 

Reli um texto em que mergulho no natal como uma época mágica. Revi nas memórias que guardo na cabeça alguém que se vestiu de papai noel apenas pra me animar e terminou animando toda uma festa.Senti nos intervalos da respiração do meu pai doente (outrora, o Noel), no momento que não me permiti pensar em alegria,um golpe no peito de espiritualidade pra continuar. Rezei ali,de olhos fechados,sem saber mais nenhuma oração,desejando da minha forma um feliz natal.

Estou engasgada, é uma mistura, mil coisas, da recepção de uma criança tocando corneta e acordando toda vizinhança, o que me faz sorrir, ao momento em que não consigo entender o que o dia de hoje significa exatamente pra mim e choro um pouquinho aqui e ali, embora esteja bem calma escrevendo esse texto.
Mas vou terminar, porque eu já sei, não é muito, é bem pouco, apenas o que posso retirar de mim hoje, bem singelo, mas sincero, com vontade e de verdade, recebe aí, como um abraço, que seja feliz. Feliz natal. 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Três da manhã

3 da manhã o relógio marca.
Me parece sintomático.

Os chás não funcionam, o remédio, o exercício, a meditação, o banho quente.
Me parece incurável.

Abro os olhos, a escuridão me confunde e demoro um pouco a perceber que realmente estou ali.

Então eu tento, antes de escrever, antes de visitar a varanda, antes de mais uma vez permitir que o silêncio me perturbe e me embarace, antes do encontro nada pacífico comigo mesma, antes de pensar nos problemas, ser invadida e tomada por eles, antes de acender o abajur pra ler um livro, preocupada que a claridade atrapalhe os sonhos de quem amo, 
eu tento voltar a dormir.
E eu quero os sonhos, quero apagar, quero deixar apenas o dia me lembrar de coisas que quero esquecer. 
Quero ter as noites pra mim.
Mas me parece sintomático.

(...)

3 da manhã, desisti, estou na décima terceira linha.
Começo a deixar os pensamentos ganharem espaços e ir pra aquele lugar que só conseguirei chegar depois do último ponto.
Na mente, essa música toca. 
Ela repete e repete o mesmo som que terminei ouvindo a semana inteira.
Me sinto impregnada de "3 o'clock blues" e se em algum momento um som contagia, acho que aconteceu na primeira vez que escutei essa música e mais recentemente quando ela voltou a tocar pra mim. Febre. 
Me parece sintomático.

Lembro da primeira e do efeito que a melodia causou no meu corpo e minha mente.
Lembro que achei a música perfeita pra fazer amor ou pra dançar sozinha e ser observada, embora a minha ousadia seja mais do tipo que prefere convidar pra dançar junto.
Lembro que também e ainda acho uma das mais perfeitas pra sentar no sofá, dividir dias, sonhos, planos e segredos.
Lembro que penso nela como a música dos encontros, mesmo que seja sobre os desencontros e como, algumas vezes faz todo sentido esse tipo de coisa sem lógica.
Lembro que é maravilhoso escutar ela no carro e torcer pra que os sinais fiquem vermelhos, querendo prolongar o momento.
Lembro de entrar logo nas favoritas e aparentemente ainda estar ali.
Lembro de um projeto novo que tenho me empenhado (pouco) sobre músicas que viram contos.
Penso que algumas músicas são tão deliciosamente perfeitas, que qualquer coisa perto delas é menos, é menor, é desinteressante. Imagina um texto meu. 

Mas são três da manha e eu também não consigo fechar os olhos e me sentir satisfeita.
Então começo, mesmo sabendo da inutilidade do resultado:

Quase três da manhã, 
estou em Golden Ground 
e poderia ser uma noite incrível.

...

(Pro início, me pareceu melhor do que esperava e começo a achar que talvez, depois do último ponto, as pálpebras cansem, o sono venha e eu consiga, enfim, dormir. 

Quanto a música, acho que vai voltar a tocar aqui por um tempo. No carro, na mente, nos momentos de dividir segredos, de dançar e de fazer amor.
Me parece incurável).

 


quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Flores secas

O sol do sertão queimava-lhe as costas. 

Olhou pro céu, olhou pro chão.

O buraco ainda quase raso, quase rente ao solo do terraço.

Insistiu, mais uma vez, arrancando outro pedaço de areia trasmutado em pedra.

O suor escorria pelo corpo regando o solo que mal conhecia água e escorria pela face ocupando até mais do que o espaço onde poderiam estar as lágrimas.

Os poucos amigos e curiosos começavam a partir.

Abandonando-o à sua empreitada e, principalmente, à sua dor.

Enquanto insitia - teimando com a física, força, natureza - seu parente, deitado na cama, escassamente iluminado pela luz fraca e lúgubre do candeeiro, 

repousava o último sono, pronto pra descansar pra sempre no solo duro do sertão.

Quem sabe assim nascem flores? 

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Não quero editar e nem sei intitular

Eu passei boa parte da minha vida tendo raiva.

Era mais fácil do que encarar meus sentimentos de amor,

cabia perfeitamente

tava ali, um impulso pra virar a página

pra conseguir ir em frente

eu passei boa patte da minha vida sem esquecer o teu olhar de decepção 

de ferido

sem esquecer que no momento em que eu mais queria estar ctg

a raiva e a necessidade me fez estar contra tu

e eu nem me lembro bem as palavras

mas eu lembro que de uma forma, bem passiva

vc se defendeu de mim

e eu nem tinha 18 anos


eu so queria te dizer que em todos os momentos em que eu estive do outro lado

eu queria estar do teu

queria que tudo fosse mais fácil e simples

e

possível 

Eu tentei agora, recentemente 

espero que vc tenha entendido

espero que vc tenha recebido

espero que vc, mesmo que vá pro outro lado amanha

saiba que eu sempre te amei

nunca deixei de te amar

pai

minhas palavras nem importam

mas

me perdoa?

vc aih, desligado, na morfina

mergulhado em sonhos psicodelicos

entre a vida

entre a morte

lutando ainda

recebe esse grito que te lanço

calada?

meu amor, pai

promete que recebe,

por favor

eu so quero que vc saiba que eu nunca tive raiva

nao de verdade

era so a forma que encontrei

pra seguir

sem vc estar perto

pra lidar

com o fato de vc nao estar perto

pra achar

que nao importava tanto

quando sempre importou

quando nunca deixou de importar

eu nunca deixei de sentir tua falta

tua presença eh aquela coisa que me da paz, sabe?

por poucos momentos, poucos instantes

eu nao fico tensa

mesmo nos piores

mesmo te vendo nessa cama que eu nao queria

mesmo que seja rapido

mesmo que seja apenas vc me trazendo revistas, jerimum e sonhos pro futuro

que nunca se realizariam

mas que eu recebia como se acreditasse de verdade

pq nos fazia felizes

naqueles 15 minutos


eu te pedi pra lutar

da ultima vez que te vi

e acreditei que adiantaria

hj te peço

por pior que me doa

pra lutar

mas pelo seu bem

e se for pra fechar os olhos pra sempre

se for pro seu bem

pai

eu te amo

nao qhero me despedir

nao agora

nunca quis

nunca vou estar suficientemente preparada

mas

eu vou entender

eu te quero feliz

e bem

se tua vontade for ficar

vc vai mover as montanhas mais uma vez

e vai conseguir

mas se tua vontade for partir

nao estamos preparados

mas, te prometo

que tentaremos entender…


nunca esquece

aqui, ali

no outro mundo

tua filha mais nova

veio

com um propósito que ainda vai descobrir 

mas

veio

e vai seguir

te amando

pra sempre

ela tem as tuas marcas

em quase tudo dela

e agora

no coração 

so sinto

o que nao sei falar

nem escrever

coloco nas lágrimas

na falta de ponto final nesse texto

na falta de ponto fibal que acredito nao existir de verdade

na esperança que nos acertemos outro dia

em outra vida

ou hj

agora

se vc estiver de alguma forma me ouvindo…


so quero conversar ctg de novo

por mais 15 minutos

quero as revistas

o jerimum

quero todos os sonhos bobos

ah

vou ter que esperar, ne?

so saiba que foram muito importantes pra mim

vc

eh

muito

importante

pra mim

tanto que nao sei me despedir

nao consigo


quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Quando vi, era Bukowski

Respirei, nem tive muito tempo de respirar de novo, corri e encontrei, na rua, enquanto dava a última volta ansiosa na chave da porta de casa, o carteiro que passava e se dirigia a mim. Notei, não sei como, o pequeno rangido na bicicleta que ele dirigia e que certamente se perderia dali a uns 15 minutos diante do barulho catastrófico da cidade acordando, o que provavelmente também aconteceria com o sorriso que me lançava e que devolvi (resistente na ida, resignado na volta e provavelmente destruído no fim).

Respondi seu “bom dia”, desejando que realmente assim o fosse e retirei da bolsa o misto-quente de pão dormido que não tive tempo de esquentar e nem saborear, porque devorei antes de sentir o gosto na boca.


Enquanto andava, passos largos, grandes, algumas primeiras janelas acendiam, porque ainda não era claro o suficiente pra ser manhã e nem escuro suficiente pra ser de noite e só a eletricidade resolvia aquele tipo de problema, compreendendo, atendendo e entendendo quase todas as faltas da cidade. As que eu não entendia, compreendia, mas atendia.

Garçom,

Ela levantou com a leveza que eu não sentia.

Enquanto saía da mesa por alguns instantes, deixei a vista caminhar sobre a paisagem e os pensamentos se perderem por territórios que nunca gostei de visitar.


Sem permissão, notei meus pés tomando o rumo e a direção da saída e rapidamente fiz com que voltassem ao lugar em que fiquei esperando por ela e torcendo pra que ninguém ao redor tivesse percebido a minha intenção de deixá-la sozinha. 


Corrigi a postura, acalmei os pés, pedi pro coração perdão, pra cabeça vontade e pra mim mesmo coragem, mas me peguei vagueando outra vez, sem rumo, sem compreender pra onde iria e sem saber dessa vez como voltar.

 

As saídas ao redor pareciam diferentes. Eram simples saídas, não envolviam dor, tua cabeça baixa e teus olhos cobertos de lágrimas. Desesperadamente, tentei mais uma vez voltar, procurei teu caminho, quis te encontrar em cada passo, cada acerto, cada lapso, cada vez que me vi consciente de mim e que deparei com outras pessoas e coisas parecidas com o amor, sabendo que jamais encontraria de novo a leveza que me deixou por pequenos instantes sentado na mesa. E que eu não soube esperar.


Um portal

Comecei antes de ontem a espalhar as luzes pelo quintal.

Coloridas.

O tempo era sóbrio, a ocasião também, mas é que simplesmente não consegui evitar a esperança que me fez querer manter as cores no dia.

Tive o cuidado de cobrir cada parte e escolher o melhor lugar para formar um arco, um portal, uma passagem.

Um convite.


terça-feira, 23 de novembro de 2021

A criança (universo de 13 filhos)

Esperou, sem entender muito bem, perto dos irmãos mais velhos.

Eles conversavam baixinho e murmuravam mil coisas, mas seu ouvido e sua pequena cabecinha, registravam apenas palavras como “pai”, “mãe”, “chegaram” e “não”.


O “não” deixava ela triste. Aparecia com muita frequência nos últimos dias. 


Os irmãos viviam atentos, de ponta de pés nas janelas, esperançosos, que os pais e a irmã mais velha voltassem pra casa. Ela não. Ela não encontrava brechas entre os irmãos pra esperar e nem alcançar aquela visão deles voltando. Ficava de costas, empurrando seu pequeno carrinho de madeira que nunca corria muito longe pelo corredor, já que não tinha forças para lançá-lo onde queria. 


Ali, lembrava bastante da irmã que sempre vinha em seu auxílio, depois de forrar com capricho todas as camas da casa, sua pequena função nos afazeres domésticos que exercia como se fosse grande. Assim como tudo que fazia.

A irmã andava quase dançando. Entrava em um quarto, saía de outro em uma mistura de ballet e alegria particular e única. Em cada entrada e saída, sorria pra ela que também sorria de volta, sem conseguir evitar. Era contagiante.

Chorou um pouquinho lembrando que, quase sempre, no meio dessa dança, a irmã abaixava, chegava pertinho e dizia: 


- Não precisa ter forças, pequena. Só precisa querer. Me dá aqui.


E assim pegava o pequeno brinquedo e o fazia viajar pelo corredor inteiro. E naquele momento, como em tantos outros, parecia ser a irmã algum tipo de mágica que com vontade e energia transformava carrinhos de pequenas rodas em foguetes espaciais. Sim Salabim e  tudo ficava gigante, maior e melhor. 


O seu coraçãozinho apertou, cheio de sentimentos que ainda estava aprendendo a compreender, quando olhou pra aquele espaço, mais escuro e mais frio do que em sua lembrança. Sem ballet, sem dança, sem mágica. Sem ela.


Depois de enxugar as lágrimas de seu rostinho, abraçou o brinquedo com a força e o amor que abraçaria a irmã se ela estivesse por perto e preparou-se pra lançá-lo com determinação, querendo, como nunca, que ele corresse pelo corredor inteiro.

Fechou os olhos quando o empurrou e sentiu dessa vez que ele andou mais um pouquinho apenas para parar mais uma vez e completamente no meio. 


Não teve tempo de se frustrar, porque sentiu a agitaçao de seus irmãos na janela e já ia levantando pra ficar com eles, quando levou um susto.


O telhado da casa tremia como se tivesse caindo, os irmãos gritavam como se estivessem machucados e o carrinho, sozinho, se lançou com uma força sobrenatural pelo corredor.


Os pais chegaram sozinhos.

Adeus no Porto

No cais do porto, ele, Elvis, enxergava as luzes sumirem no horizonte.

As mãos por dentro do bolso, único sinal de que talvez sentisse frio, denunciavam a postura de quem continha ou escondia os próprios sentimentos. 

Retirou uma das mãos e alisou o cabelo escuro, como que se arrumasse os fios que o vento teimava em tirar do lugar, conseguisse também arrumar um pouco a confusão particular que sentia. 

As luzes, pontos brilhantes cada vez menores no horizonte, tão belas quando não significam separação, levavam pra longe partes de uma história que nunca estaria suficientemente preparado a se despedir. 

Ele, Elvis, não entendeu quando uma lágrima escorreu pelo seu rosto, mas também não impediu que outras seguissem o mesmo caminho e chorou ao lado do mar de Silv’ry.

As mesma luzes que, efusivas, anunciavam chegadas, também, um dia, anunciavam partidas e enquanto ele, Elvis, chorava um adeus nesse porto, alguém, em algum lugar, abria um sorriso em outro. 


“I saw the harbor lights

They only told me we were parting

The same old harbor lights

That once brought you to me”.


***Inspirado em Harbor Lights de The Platters, versão gravada por Elvis em 1954.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Vigília - Parte II

Deixei o corpo de Franz quente na cama e o olhar que sempre indagava, mas ao mesmo tempo compreendia se eu não quisesse responder às perguntas em seus olhos.

Corri pra varanda, um pouco suada e cambaleante, ansiando que o frio da noite profunda e da madrugada acalmasse a confusão que aqueles sonhos (?) haviam deixado marcada em mim.

Olho pras minhas mãos que tremem, esperando encontrar a arma e a flor que evaporaram tão rapidamente quanto surgiram.

Sinto um vazio profundo por não ser mais quem eu era poucos minutos atrás e abraço meu corpo, querendo gostar de mim também agora.

Onde estava a saia lápis, o charme e os cabelos que achei lindos? Onde estava a juventude ou a maturidade que há pouco tempo, em sonhos, vivi? Onde estava o alívio causado pela fumaça invadindo meu corpo do cigarro que abandonei no quarto? Onde estava o encanto pela minha beleza, pela lua no céu, alta e prateada, anunciando pra noite que eu estava ali? 

 Estava?

Tenho desenvolvido vício por varandas, aceitando bem também as brechas nas janelas. À noite.

Ali, na vigília, deixo o frio e o silêncio, acalmar os pesadelos que sempre me atormentam quando tento dormir. Estou perdida no tempo, querendo ontem e amanhã, mesmo amando o agora. Lá dentro, vejo que Franz apagou a luz, me chamando do jeito dele a voltar pra cama.

As pequenas luzes da manhã começam a invadir o meu momento e expor pro mundo toda a minha confusão. Incomodada com os primeiros raios de sol, deixo pra trás a noite que amo, esperançosa e disposta a amor o dia. Também. E talvez.


segunda-feira, 15 de novembro de 2021

E agora?

Você enrolava meus cabelos com os dedos e me olhava como se visse algo a mais em mim.

No meu corpo ainda quente e marcado pelo que vivemos ainda agora, surgem novos arrepios e vontade de te ter mais perto outra vez.


Involuntariamente, dirigi minha mão pro teu rosto, delineando a surpresa e confusao que te enxerguei sentindo, antes de fechar os olhos e se deixar ficar… completamente relaxado.


Ali, nao sei se queria continuar te olhando ou se te queria colado em mim, mas torcia decidida pra que os minutos durassem pra sempre e que neles se perdessem todas as nossas vontades….


Entregue e também confusa, sentia meu corpo ir sozinho em tua direçao e o teu, sem comando, se voltar completamente pra minha.


Nossas pernas se perdiam e meus cabelos, antes enrolados nos teus dedos, agora estavam apertados e presos em uma de tuas mãos. Quentes.


À deriva, soltamos um sorriso sem graça, espantados com o golpe magnetizante que sem volta nos unia, extremamente suspresos que daquele nosso antes e durante, surgisse, inesperada e urgente, a vontade de depois. 


E agora… 



segunda-feira, 1 de novembro de 2021

(Dobrou as pernas e, com o notebook no colo, encostada na cabeceira da cama, em um feriado sem cara nenhuma de feriado, escreveu:

Por que toda vez que falo sobre desejo, sinto a necessidade, logo depois, de falar sobre amor?

Trocas intelectuais, olhares, afinidades, livros, filmes e música, o que me desperta um, desperta o outro.

Claro, existe a diferença, a doce diferença que os anos denunciam: está no meio, no momento, no exato momento em que você não quer saber de nada, quando o mundo inteiro desaba e quando você se torna desinteressante e mais triste do que gostaria. É quando o amor fica ali ou grita. E na sua companhia ou resposta desesperada está tudo o que me faz continuar escrevendo, depois do desejo, sobre o amor.)

domingo, 31 de outubro de 2021

Shot

O dia começou frio, mas nele morava a promessa de ser o mais quente.

Sentiu que deveria fazer planos, parecia tão propício, tão natural. 

Consumiu, ávida e desejosa o café da manhã, impaciente com as vontades latentes.

A intenção era que fosse tão bom, tão bom, que acordaria ainda sorrindo amanhã. 

sábado, 30 de outubro de 2021

13 filhos

(Inspirada - infelizmente - em fatos reais)


A mãe arrastava a roupa preta pela casa. Era 1958.

Seus doze filhos não conseguiam dormir. Espantados, colavam ouvidos na porta dos quartos coletivos que dormiam, conspirando, com troca de olhares, as possibilidades pra um dia melhor amanhã. 


No fundo, quase colado à garagem, um jovem alto e esguio, tentava, ocultamente, sintonizar seu rádio. Em todo o país, gritos de comemoração pela seleção que ganhara a primeira copa. Menos ali. Todo e qualquer grito e suspiro e vontade de felicidade estavam calados ali. Velados. Proibidos. 


O jovem, inteligente e astuto, tentava burlar de alguma forma a nova lei que se instalara, buscando, insistente, alegria nas ondas de rádio. Ou menos tristeza. Não sei por quanto tempo insistiu e nem se conseguiu, porque em um quarto menor, duas crianças bem pequenas quase choravam. O menor, um menino, havia desaprendido a expressar suas emoções com palavras. Calara-se e na sua mudez existia o protesto de quem jamais entenderia. Do seu lado, de mãos dadas e apenas um pouquinho maior, a outra criança, loirinha, trajava uma roupa de dormir que quase lhe cobria os pés. Diziam que passava o dia desfilando pela casa, andando pelos corredores à noite, conversando entre sussurros com a mãe através do véu e do seu manto grosso de tristeza, mas não. Não era ela. 


A mais corajosa das irmãs era a que entrevia através do buraco da fechadura a hora em que a mãe se ajoelhava com uma vela. Seu nível de coragem ia descendendo à medida que, em meio aos prantos, a mãe conversava com alguém que ninguém mais via. Pra completar o terror, algo ou alguém passara, repentinamente, a chave no quarto pelo lado de fora. Sem conseguir ver nada mais o que acontecia por trás da porta, brigava com a mente para não imaginar as cenas de horror por trás dos gritos de dor que ecoavam pela casa…


A pior historia de terror não é sobre fantasmas. É sobre as despedidas que jamais entenderemos. Jamais.

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

O jardim

Encostei no vidro emperrado da janela. Na verdade, acho que encostei, mas acredito bem mais que fui levada por uma força invisível que quase me apertou naquele vidro e me fez ficar ali por horas (ou dias). Do lado de fora, à vista, o jardim parecia ainda mais abandonado. Olhando de primeira, enganava os olhos porque tudo era verde e quase brotava, mas as muitas semanas que passava ali, revelavam que jamais brotaria nada o que dele faria de fato um jardim. Os projetos, as intenções, as flores que imaginei assistir nascendo, estavam estáticos. O tempo, as pessoas, a história, nada mudava o dia em que a natureza abandonou aquele espaço da casa à sorte e ao cuidado de sabe-se-lá-o-quê. Minhas costas doíam muito e todos os ossos do meu corpo reclamavam quando, em vão, tentava me movimentar. Parecia um indício de que o quer que tivesse feito com que o tempo girasse (ou parasse) de forma diferente naquela casa, terminara me atingindo. A pressão do corpo quase inteiro colado no vidro que no próximo minuto poderia se espatifar, só me deixava espaço pra um pensamento: 


O jardim me olhava ou era eu que olhava o jardim?


Por um momento, um clarão de lucidez me mostrou flores podres e um espaço escuro e vazio. Em um misto de pânico, incerteza, medo e dor, comecei a chorar e esperei que caíssem lágrimas. Sem saber exatamente em que momento sairiam do corpo e bateriam no chão. Ou se.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Batimentos

Poucas coisas me interessam além da respiração e, das coisas físicas, tenho aprendido a valorizar mais o batimento tranquilo do coração, o correr do sangue nas veias, a lucidez de um cérebro inatingido, o perfeito funcionamento do corpo que vive ou que teima em viver.


Hoje, só quero que as veias continuem sendo estradas para oxigênio, nutrientes e tudo o mais que faz o pulso continuar quente, o coração bater cadenciado e os olhos, abertos, me olharem do jeito que eu já conheço e que não quero me despedir.


Vou repetir a fala sobre o coração, porque hoje nada é mais importante do que ele ser um combatente furioso, teimoso, insistente. O último a ficar em pé na batalha, o que na glória magica do momento, mesmo cansado de tudo que passou, se mantén firme em meio a todo o caos do próprio corpo, erguendo uma bandeira verde e fazendo, finalmente a paz com tudo o que permite que continuemos nossas conversas e que tenhamos bons longos anos pela frente pra eternizar os momentos, aqueles que fazem os encontros desse mundo valerem a pena.


E, realmente, poucas coisas me interessam além da respiração, mas, das coisas físicas, certamente, teu coração (sadio, vigoroso, resiliente, recuperado, forte, quente).

Resistente.

domingo, 24 de outubro de 2021

Era pra ser sobre amor, mas mudou no caminho

Ela achou que não importava, mas também achou decadente e triste o bar.

Nas paredes descascadas, nas fotos dos heróis mortos, na música que repetia e repetia o mesmo som, insistentemente. E na própria agonia em voltar ali sozinha. Insistentemente.

Ela só bebia água, achando que assim, a ausência  de toxinas não alteraria a lucidez que queria, que idealizava, que sonhava.

Um dia apenas, um dia. Apenas um de sossego despretensioso, de ficar olhando o vazio e deixar que as coisas acontecessem ao seu redor sem atingi-la, sem convidá-la, sem esperar que colaborasse ou de alguma forma alterasse o rumo do mundo. Um dia inteiro sem participar de nada e sem que nada, de volta, acontecesse. Um dia…

(Se fosse um roteiro, diria que suspirou profundamente enquanto levava o copo à boca, com um olhar vago e vazio, ignorando tudo o mais que acontecia ao redor e sendo também felizmente ignorada). 

Do gole de água pura e cristalina, invadindo o seu corpo e limpando, de alguma forma, umas semanas ruins, desejou ter a fé necessária pra agradecer aquele momento, onde as paredes descascadas e os quase heróis que lhe sorriam em fotos congeladas no tempo que se perdeu, refletiam perfeitamente o que imaginou ser sua própria alma. Começou a rezar, mas não lembrou da oração. Trocou pela música que tocava e que sempre gostou da letra. Quem sabe assim funcionaria também?

 Acho que sorriu. 






sábado, 9 de outubro de 2021

Estrela sem luz

Aqui e ali, o tempo me mostra que meu colorido é mais “chiaroscuro” do que preferiria. 

Semore gostei do jogo das sombras, brinco, medito, me faz pensar e encontrar semelhança com  meus dias, da busca constante, do constraste, da vida inteira e de agora, em que nesse momento, claro, me deito e tento dormir, ignorando as trevas, sempre à espreita, sempre sombreando os momentos que poderiam ser de pura luz, pq eu insisto na luz, vivo buscando, querendo, ansiando, tentando e tentando até o limite. Até meu limite. Sem querer que um dia, talvez, eu desista, e aceite, a preta estrela, mais parecida comigo hoje, muito mais parecida do que gostaria.

(mas as más notícias nao param de chegar) 

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

O barato do vinho com Blue Monday

Estou dançando, é quarta-feira e nem esperava sair de casa, mas estou dançando e a música daqui é ótima. Tive a impressão que repetiram “Blue Monday” umas quatro vezes, mas acredito que muito álcool ou muito tempo de música foi o que passou essa impressão.

Minha amiga se prepara pra pedir mais uma cerveja e eu digo que não quero, tentando preservar a pouca lucidez que ainda me mantém acordada.

Queria que essa ou outra banda “new wave”  continuasse tocando a noite inteira, mas resolveram trocar pra algo novo e esse outro som não me agrada em nada. Absolutamente nada.

Estou bem cansada já e termino ficando impaciente com o barulho, com as pessoas e com o ambiente. E eu sei bem, vivo esse filme, quando é a hora: recolho bolsa, corpo, calço os sapatos de novo e sem conseguir ficar, vou embora. 

De novo.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Já me sinto melhor

Eu estou gastando meu tempo de intervalo do trabalho com minha terapia. Com ela, o gosto na boca é esse que sinto com a antecipação de um novo texto e não o de lágrimas.

Fico receosa de escrever aqui algumas verdades ou boas mentiras, mas embora saiba que um dia poderei ser lida (o que duvido, ninguem se ocupa mais com blogs, muito menos comigo ou com o meu), nao consigo abandonar esse espaço em que me visito. É um bom amigo das madrugadas, aquelas em que eu nao quero estar sozinha com meus atuais pensamentos e visitar os antigos, me ajuda um pouco a encontrar algumas partes de mim totalmente esquecidas. A verdade é que eu gosto de me visitar. Gasto boa parte do meu dia sendo bombardeada com sensações boas, transmitida pelos personagens que estao ao meu redor, mas as madrugadas...

Nas madrugadas, quando eu abro os olhos, não consigo evitar: vejo um destino cruel pra grande parte das pessoas que amo cada vez mais próximo. E não estou com elas nesse momento, a distancia, a pandemia, me impede de compartilhar suas dores e isso maltrata. A impotencia maltrata. Entao, minhas madrugadas de insonia sao como obstaculos que preciso vencer de alguma forma pra acalmar meus sentimentos. Minha ansiedade. Escrever tem sido isso pra mim. Fluoxetina.

Faltam dois minutos pro intervalo acabar e eu cair no mundo do problema dos outros. E eu gosto, gosto muito de "salvar" pessoas. Sempre consigo achar soluções pra elas, sempre dou um jeitinho e se nao consigo, ah, eu tento. Tento muito. Mesmo não conseguindo ter essa disposição pra mim. 

Entendes agora pq sempre volto aqui? 



sábado, 18 de setembro de 2021

Nunca quis que parecesse propaganda de filtro solar

De onde vem a inspiração? 

Do copo fumegante de café que tomo agora?

Das manhãs de sábado em que eu consigo passar o dia inteiro com quem amo? 

Do início de um bom dia que minha filha de dois anos ainda nem sabe que mora no sorriso dela? 

Da renovação diária do amor escondida nas pequenas coisas e no primeiro beijo da manhã? 

Do silencio confortável no meio da melhor conversa? Da conversa?


De onde vem a inspiração?


De textos piegas, tranquilos, apaixonados? 

De momentos de pura tristeza, da depressao?

Dos dias totalmente cinzas em que a cor - teimosa! - nao aparece?

Das frases inocentes, das pouco prudentes, do girassol no jardim, do livro que li, do sonho, do silêncio da madrugada, do burburinho do dia, do eco dos sorrisos que acalmam minha alma, da minha alma, de mim? 

Dos momentos em que calo, querendo me fazer entender no silêncio?

Das plavras que derramo, sem lógica, na lógica, no sentido?

No teu abraço? Nos não-abraços?

De onde vem e por quê? 


(Tenho deixado pequenos pedaços de mim em cada linha que escrevo. Recebo de volta, transformação. No abstrato que mora na necessidade de começar e terminar um novo texto, nem sempre consigo enxergar todas as coisas ao meu redor que o tornariam belo. Nem quero. Que me perdoem, mas nunca foi pros outros, sempre foi pra mim.)


Às vezes, vem da troca constante das lentes que me permitem enxergar as mesmas coisas com novos olhos; outras, nos dias em que enxergo embaçado tudo o que está ao meu redor. 

Agora, bem agora, está na ponta dos meus sapatos.

No claro, no escuro, no contraste que tenho aprendido a amar em mim. 


Nos melhores dias. 

E nos piores também.


terça-feira, 14 de setembro de 2021

Clavícula

Estou encostada na parede e essa é a posição em que eu mais gosto de ser beijada, no entanto, estou sozinha e não te vejo em lugar algum…
Faz tempo, muito tempo que te procuro, me encostando assim em lugares que talvez receba, de surpresa, não o teu gosto, mas tua presença, esperando e esperando, ignorando tudo o mais e o resto, dormindo as mesmas noites desejosas e solitárias, não do teu gosto, mas do resto, do silêncio confortável depois de tudo, da forma que meu rosto encaixa perfeitamente perto do teu pescoço, como se chama? Clavícula. De todas as formas que adormeci e sonhei encostada na tua clavícula e acordei de alguns sonhos bons… e de outros, sem importar(!) porque o cheiro, o teu cheiro e o resto, me dá nova vontade de morrer e de viver de novo, mas fazer amor outra vez parece sempre ser a melhor ideia (pro momento) e tanto ali quanto aqui, eu não te digo, mas você sabe e você sente. Você sempre sabe e sente. E é por isso, mais por isso, que estou encostada na parede agora. 


(Tenta ler em um gole só, como quem vira cachaça, parece funcionar melhor assim). 

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Estou acordada, amor

Vim de sonhos tranquilos dessa vez,

especiais


Ainda é bem cedo, mas queria compartilhar algum contigo… 

E te escutar falando de volta até sobre os sonhos que já esqueceu.

sábado, 11 de setembro de 2021

Laguna

Seu cheiro era cítrico e refrescante, perfeito pra dias de primavera. 

Estava consciente de todo o resto, dos gestos, do timbre da voz, de cada assunto que iniciava. Achava tudo interessante, queria estar ali, queria estar mais um pouco ali. 

Quem dera conseguisse continuar querendo. 

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

2000 e (muito) poucos ou Crepúsculo

 (…)

Não sou feia, nem bonita, mas tenho 20 anos e vivo em uma época em que os padrões de beleza ainda estão nas revistas e não em explosões de câmeras digitais, por isso me preocupo pouco  com meus quilinhos a mais/a menos sem intenção de me matar por isso. Ainda não. 

Me penso perdidamenre apaixonada por um “punk” paulista de cabelo moicano com quem converso pela internet e que me apresentou Will Eisner. Se eu o amar durante a vida inteira vai ser por isso. Exclusivamente por isso.

Estou fazendo amizades pela faculdade e ja me sento em um banco que logo mais estará cheio de pessoas que sigo adorando conhecer. Tinha acabado de abandonar o livro de Kant pela hq de X-men e nunca esperaria, em nenhum momento, ser avassaladoramente transformada por uma presença. Mas foi ali que te vi. Naquele exato momento.

Você tinha um olhar diferente. Não era triste, nem distante. Não estava ali, não iria notar minha presença, não iria se dirigir a mim. Nunca estaria ao meu alcance.

Te acho lindo do jeito certo e você sim, você tem os padrões de beleza dessa época e das que virão pela frente, mas nem foi por você ser alto e de tirar o fôlego. Foi por você está de preto. Completamente de preto.

(…) 

sábado, 4 de setembro de 2021

Ontem, mergulhada na escuridão da varanda, sem ninguém pra me acompanhar, deixei meu corpo repousar em silêncio.
Tinha um cálice de vinho pela metade nas mãos e ouvidos atentos aos sons da madrugada.
De longe, uma criança utilizava de seu reduzido vocabulário pra chamar alguém. Provavelmente pra protegê-la, embalá-la ou ajudá-la a voltar aos seus sonhos azuis.
Como que um alerta, olho pro visor que me mostra se estás adormecida ou acordada.
Pode chamar sempre que precisar, filhinha.
Nada é mais urgente do que um pedido teu. 
Irei sempre te ajudar a voltar pros sonhos.  


sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Da minha pequena bolsa pulsante

No silêncio encontrei as respostas

Aquelas, que sempre procurei

Da busca incenssante, do vazio

do que tenho em mim

do que nao tenho em mim


Quero girar no carrosel de emoção dos outros

Quero engolir alguns poucos sorrisos

E até nas lágrimas, me encontrar um pouco

Preenchendo minha pequena bolsa pulsante


Vendo.

Ouvindo.

Sentindo.

Sempre.

Sentindo sempre.


O que no peito tanto me cabe,

 o que na alma pouco aglomera,

o que da vida nunca ressinto,

 o que no fim ainda me espera,

o que eu quero e ainda admito, 

do calor que teima e prospera,

do que me falam e ainda acredito,

da expressão no rosto sincera

do fim, do meio, do início

do que volta, fica,

reverbera.