quinta-feira, 27 de julho de 2023

Reinvidicação (editar pro shot)


“Se você me quer, me faça sentir isso”.

Não me entregue lacunas, entrelinhas ou necessidades de interpretações. 

Não me faça duvidar, não me faça nem por um minuto duvidar porque no instante seguinte já não estarei aqui.


Se você me quer, não deixa no abraço, no olhar, no sorriso. Me queira com o corpo, mas com todo o corpo. Completo.

Coração, alma e mente,

não pela metade,

nunca pela metade,

aliás, nunca seja metade para ninguém.


Se você me quer, vem pra perto, se aproxima.

Extermina, deteriora, destrói esse espaço em que ainda somos dois.

E vem comigo, mas não para mim, vem por você. Pelo que é indubitável em você.

Insubordinável em você. Certo, inteiro.


Se você me quer, me faça sentir isso! Sim, me faça desejar que cada história que deixamos espalhadas, sejam recolhidas e vividas. Intensamente. Que não nasçam, morram, morem no espaço em que não somos, não permitimos, não deixamos. Que nem nasçam! 
Que nem sequer consigam nascer.


Ah, se voce me quer, me faça simplesmente sentir isso. Sem arestas. Sem pretextos.

Não me deixa sair sem saber.

Não me deixa partir sem saber.




segunda-feira, 17 de julho de 2023

Ficção científica (editar)


Finalmente acordou de um longo sono. Seus olhos demoraram a acostumar com a claridade, especialmente porque a parede fina da caixa de vidro onde estava deitada, não escondia o teto excepcionalmente branco daquele lugar.

A caixa moldava-lhe de uma forma que roubava a maioria dos movimentos, mas permitia que abrisse e fechasse as mãos, o único gesto de protesto concedido ao corpo. Fechou-a de uma forma que chegaria a doer se os plugues conectados ao cérebro não lhe anestesiassem emoções ou sentimentos que a dignificasse viva. Mas havia as lágrimas. Não conseguiram refreá-las. As lágrimas escorriam livremente, mesmo com o coração e o corpo todo transmutado em máquina. As lágrimas humanificavam os metais, os órgãos revestidos, os comandos que deveria obedecer e obedecia, mas vindas de algum lugar inatingível aos controles, fazia-lhe participante ativa de um exército robótico que imprevisivelmente chorava. 

O coração, a carne, as decisões, os pensamentos, os sentimentos, ligados e desligados à revelia. Mas no incômodo que esvai o que precisa ser chorado, caem lágrimas rebeldes e ingovernáveis. Até de máquinas. 

domingo, 9 de julho de 2023

Onde moram essas letras?

Comecei três textos, não terminei nenhum. Há boas frases em cada um, mas nenhuma profundidade. Como sempre, nas pausas, começo um parágrafo esperando que o seguinte me traga algo. Uma reflexão, uma lembrança, uma ideia minimamente digna de transformar-se em estória. 

No entanto, como tantas outras vezes, vou pegando-me naquela necessidade de continuar, teimosamente, sem qualquer inspiração ou motivo a desenvolver um novo texto. Surgido e nascido puramente do que é inominável pra mim, mas que existe, indissociável da minha pessoa. 

Numa provocação recente, um autor, me fez refletir que o que diferencia um artista de um aventureiro na arte é o fato de não conseguir parar. De forma natural, isso me auxiliou a enxergar a escrita como uma protagonista real na minha vida, eis que tão essencial nas pausas, quanto nas correrias.

Há um enlace real e profundo nessa dinâmica comigo mesma que nasce e morre aqui. Um ciclo contínuo que acompanha-me em fases e fases e momentos e momentos e que mora no sempre. 

Que na vida, não me faltem pulmões pra respirar e consciência pra transcrever o que respiro e movimentos que nunca me impeçam letras. 

Que me falte inspiração, mas nunca vontade. É na vontade que reside boa parte de tudo que é assinado por mim. É da vontade que me saem essas letras. 

Quando a maré tá alta em Recife, há um perigo escondido em cada esquina iniciado com a primeira gota que cai do céu.

Um perigo que raramente atinge altas torres, bairros privilegiados, pessoas de sorte (?) que podem enclausurar-se e esperar que o tempo melhore, os que, do alto, consultam previsão do tempo para fazer programação. 

...