sábado, 28 de agosto de 2021

A música preferida

 Há algo poderoso em “Can’t help falling in love.”

Algo no que Elvis fala, mas também no que ele cala.

Transcende várias coisas que entendo como amor, apesar de ser sobre ele. Sobre a força de eventos inevitáveis, coisas destinadas a ser. 

Há algo maior que está nas entrelinhas, mesmo ele cantando sobre a entrega mais profunda, incompreendida pelos sábios, escolhida pelos tolos, sobre rio fluir pro mar.

Está no “certamente”, na falta de controle, na aceitação de estar emaranhado em uma rede que te tira de um lugar confortável, de saber que ser levado assim nao é uma escolha.

Pegue minha mão e minha vida inteira - ele fala.

O que me importa é sentir - ele cala.

O que me importa é sentir.



 


Abro a porta e vejo ali, no escuro ainda, naquele início de noite, embalado e misturado pelo som melodioso que tu sempre coloca pra tocar, o detalhe desse amor profundo que tive a sorte de encontrar um dia e que reencontro em
todos os outros. 

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Tá tudo bem

 Tá tudo bem, tá tudo bem, tá tudo bem...

Esse é o nosso jeito de fazer as coisas, a gente apara as arestas, ajusta, monta, desmonta, de um jeito, de outro, tá tudo bem... É apenas uma mudança, de novo, é apenas um novo jeito de viver que parece melhor mas que a gente não  conhece e sim, dá frio, dá nó, dá aperto e calafrio, mas a gente vai junto, então tá tudo bem... 

Você diz que fui eu quem escolhi e apontei a nova forma e quis mais do que você, mas sei lá, me sinto um espelho, reflexo quase perfeito do que tu sentes, eu sei tuas próximas palavras e teus mais íntimos desejos, a frase que sai, a frase que cala, eu te conheço e sei que você também não está conseguindo dormir bem essa noite, o sono não vem, a ansiedade é maior mas tá tudo bem e pro bem.

Sinto como uma continuação diferente, mas tá tudo bem sentir esse aperto, as mudanças, reviravoltas, furacões, estremecem, bagunçam, tiram um pouco as coisas do lugar, mas fica tudo bem, eu sei, pq a base é forte e não cai, amor, nem mexe e eu sei que você também sabe, apesar do sono não chegar mesmo com o cansaço, eu sei que você sabe melhor do que ninguém.

Tá tudo bem. Com o que vai e com o que vem pela frente, com esse novo ciclo repentino, que seja bem vindo e querido. As plantas são minhas e os espaços vazios serão preenchidos, te prometo amor, mais quadros, de novo. E o amor de sempre. Com cor, em trio. Tu sabe, amor, tá tudo bem. 

terça-feira, 3 de agosto de 2021

IX

Está chovendo muito, daquelas chuvas que caem fina mas molha tudo, sabe? 

Fui até a janela pela terceira vez pra ver se realmente estava fechada e ainda assim, continua parecendo que a chuva cai dentro da casa.

Tremo de frio, é o finalzinho do inverno. Vivo sonhando com os dias quentes que virão e desejando sol sem nuvem nenhuma na frente. 

Não penso em nada que não seja me esquentar e percebo que tenho que comprar mais tapetes. Ou me mudar, embora goste muito dessa casa. 

Vou peregrinando por mil desses pensamentos inúteis, postergando os que realmente deveriam estar ali. As pontas dos meus dedos estão doendo enquanto escrevo esse texto. Mais partes do meu corpo doem e eu percebi que com a idade, as coisas exteriores tendem a doer mais, mesmo que as interiores passem a doer menos. 

Estou quase desistindo desse texto, quando ouço uma música bem suave vindo da sala. Menos reflexiva e mais animada, começa a fechar o computador, lembrando que também chovia quando nos reencontramos. Na música que toca agora, eu não escuto a letra, mas sinto teu amor na melodia. É...você sempre sabe o jeito certo de me dizer que está por perto e que eu não estou sozinha. 

domingo, 11 de julho de 2021

Voltei a encontrar a insônia, dessa vez mais cedo hoje.

Tive uma manhã movimentada e um dia que poderia muito bem ser considerado feliz se a época o permitisse sorrir sem culpa.

Não vou desistir do son(h)o. 

VII

Abrimos a porta cambaleantes.

O quarto era lindo, mas nem conseguimos notar.

Te dei um beijo muito longo de pura felicidade.

Você me respondeu com outro, sorrindo um pouco de minha bêbada espontaneidade.

Tenho uma carreata de botões nas costas e um vestido longo e branco que te desafio a tirar agora.Você vem logo tentar.

Vou deitar com parte dele retirada e parte vestida, bagunçada de alegria, você do lado mergulhado no sono profundo da embriaguez em que eu queria estar.

Olho pra varanda e vejo as luzes do dia que começam a desafiar a madrugada. Olho pra gente e vejo o desafio que lançamos de volta pra elas, por estarmos do avesso aqui e agora, celebrando atrapalhados o nosso pacto. 

Acertando nada e acertando tudo.



quarta-feira, 7 de julho de 2021

V

Cheguei do trabalho e fui fazer o jantar cantando(?).

O curioso é que é a parte do dia que menos gosto.

A maioria das vezes, chego tão cansada que até amaldiçoo essa etapa.

Mas são 20h15 e você vai me ligar. 

Isso muda tudo. 

terça-feira, 6 de julho de 2021

III

Dessa vez, estou vestindo minhas roupas sem pressa.

Enquanto procuro abotoar o sutiã, olho pela janela e me sinto em paz com a luz azul que entra por ela.

Estou a ponto de fazer um pouco mais de barulho pra te acordar, embora cada pensamento sobre ficar me deixe mais perto de ir embora.

Ainda não sei o que fazer agora.



segunda-feira, 5 de julho de 2021

I

Notei ele sentado, quase sem se mover.

Tinha um olhar diferente, não era triste, mas distante.

Certamente não estava ali.

E muito menos ao meu alcance.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Se for pra ler algo bom, eu paro

Tenho que correr, tenho que correr. Talvez em algum momento eu pare, mas hoje tenho que correr.

Tenho aprendido a acolher o furacão, sim, medito, deixo entrar e lentamente acalmo ele aqui dentro. 

Hoje não. Tenho que correr. 

(embora consiga, talvez, esperar os dois poemas lindos de um velhinho que me prometeram ontem). 

terça-feira, 29 de junho de 2021

Talvez a lua apareça hoje

Estou aqui, com os pés apoiados na cama, mordendo o óculos de grau que guardo apenas pra esses momentos, aguardando. Fico aqui, esperando silente que algum pensamento valha a pena, embora sabia que mais uma vez irei dormir(?) com a sensaçao de que nenhum vale. Tenho quatro livros não concluídos do meu lado e um marido que aprendeu a dormir com a luz do abajur acesa quando não durmo. O cansaço bate e meu cabelo que esteve caindo sem parar faz cócegas no ombro. Tenho certeza que se eu sair pra varanda não vou ver a lua…

…mas vou tentar mesmo assim. 

sábado, 26 de junho de 2021

Estou colecionando os sorrisos que capturo no meu dia e queria muito mais ver o teu do que o meu repetidos descaradamente nessa coleção.  

Publicável

Estou anestesiada demais. Não sinto pelo menos metade dos sentimentos que deveria sentir. Ao menos o meu corpo deveria sentir algo, embalado hoje por um dia bom e pelo álcool, mas meus pés, até eles, se movimentam pesadamente, automaticamente, desconectadamente. Dois dias inteiros sem dormir e eu querendo mais o sonho do que o sono pra me recuperar. Então vem esse texto e talvez mais outro pela madrugada adentro, provavelmente impublicável. Guardo alguns textos pra mim. 

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Becoming boring

Nossa, pensei que fosse gostar das velas.

Imaginei todo o  cenário, “chiaroscuro”, diversões com sombras na parede, aquele tom de romance, as marcas atraentes que essas sombras deixam em um rosto pouco iluminado, a aventura de viver o momento diferente, o beijo surpresa no ombro, quase como um susto, por ser ainda mais inesperado…

…mas me peguei torcendo pra que a aventura terminasse antes mesmo de começar.

E me peguei reclamando, passando essa noite sentido falta do que não me permiti.

E me peguei evocando memórias de mim que nem me parecem reais, mas que combinam muito com o que quero e descombinam muito com o que devo.

E eu só queria ter gostado das velas por amar todo o entorno dela. E principalmente quem as acendeu. 

Amanhã, quem sabe? 

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Caminhando

Eu melhorei, sério, eu melhorei. Não como pretendia, fato. Continuo tendo esses delírios, sonhos acordada e vez ou outra vontade de sumir que se transforma em pânico de sumir de verdade. A corda no pescoço aperta... esses tempos me encaram de uma forma tão sombria, tão sombria que eu, que antes detestava escuro, me pego sentindo mais a vontade nele.... mas eu melhorei. Talvez muito pouco, mas o suficiente pra começar a enxergar minha sorte, embora continue me achando pouco merecedora dela. Ah, mas veja, eu tenho essa mistura não-legal de me amar muito em um minuto e me detestar no seguinte. Eu não superei isso, é tão enraizado que acho que não é adquirido, é realmente quem sou. Meio aqui e meio lá, um pouco de luz, um pouco de sombra, um dia sorrindo em piqueniques e no outro dia, me levantando pra escrever sozinha pela madrugada... mas eu melhorei. De verdade. Consigo enxergar o universo que habita os olhos dos que amo, a sorte de coexistir com eles e, mesmo quando a noite me parece escura demais, tenho procurado as estrelas... ou os vagalumes que imitam elas. 

sábado, 22 de maio de 2021

Vou aproveitar meu jardim

 Eu estou tão bipolar, acordando hoje otimista... esse sobe e desce de emoçoes deve estar sendo insuportável pros que estão ao meu redor, porque já está insuportável até pra mim....

... mas está tocando “Chão de giz” e tem um ranger de balanço que ecoa por toda a casa que faz o café que tomo agora ficar mais gostoso. Ah, o sol apareceu hoje e apenas o simples ato de pendurar os casacos me deixou mais feliz.

O sol anuncia as coisas que mais gosto e, bem, eles estão brincando no tapete e sei que me esperam pra dançar alguma música da gente.

Pensando nisso, não consigo parar de sorrir. 


sábado, 15 de maio de 2021

O amor é paciente, persistente, valente.

E a tudo enfrenta.


sábado, 27 de março de 2021

Mais um dia na pandemia

Uma página em branco, um sorriso no rosto, um dia de chuva.

Respiros...

São pequenos sorrisos mágicos, irradiados por um pequeno ser com menos de 2 anos.

Respiros...

Alguém que satisfaz teus pequenos desejos como se fossem grandes sonhos.

Suspiros...

...no meio do furacão. 







segunda-feira, 15 de março de 2021

Quando eu quase morri com 16 anos, achei que estava destinada a uma história trágica.

O tempo passou e as coisas que se desenhavam ao meu redor eram, por vezes difíceis, mas quase sempre superáveis e a maioria das vezes bem bonitas. Sempre me achei com mais sorte do que merecedora das coisas boas que aconteceram comigo e, uau, não paro de me surpreender quando o caminho é florido. É que esse frio na barriga, essa quase visita da morte que por muito pouco me deixou por aqui, me acompanha sem cansaço. Fresta os cantos escuros de minha mente e me faz aproveitar menos os dias de sol do que eu realmente gostaria. Um amigo viciado em signos me dizia que é essa minha ascendência escorpiana que me atrai pro que é profundo, misterioso e transcendental e embora eu visitasse e sonhasse com caminhos nebulosos, é o meu lado terreno e o bom signo de touro que me guia pelas estradas que eu trilhei e trilharei. Mais uma vez, conto com a minha sorte pra me salvar(?) de mim mesma ou daquilo que me sinto continuamente destinada. 

Veja (coloco na pessoa do singular pq duvido que muitas pessoas além de mim lerão esse texto), é que tenho tido madrugadas inteiras e insones pra pensar demais e permitir que esse tempo assombroso invada meus sentimentos de alegria. 

E apenas para me fazer entender pelos personagens que clareiam os meus dias, eu não quero mais e nem nada além do que possuo. Não, não, não. Vocês são a vida me sorrindo e me impedindo de cair. As plantas, a água, o ar, meu ar. Esse texto não nasce da falta, nasce do excesso. Excesso de vontade de renovação, de encerrar um ciclo frequente de sombras. Nasce da vontade de respirar tranquila o cheiro de grama, de acordar e dormir aguardando bons sonhos, de refletir os sorrisos que me brindam e de aceitar com serenidade os meus dias de sol.

domingo, 24 de janeiro de 2021

O primeiro desejo

Era um prédio enorme, cheio de andares e muitos blocos. A menina(?), com seus 13 anos quase feitos, sentava-se no batente, tentando retirar - sem jeito - o seu par de patins bem velho e muito usado. Assustou-se quando uma sombra se aproximou.

- Oi, posso te dá uma dica?

Ela olhou pra cima e viu, meio tonta e envergonhada, que na frente dela se encontrava um menino(?) de uns 16 anos que nunca tinha visto antes, meio loiro, bem bonito, com um sorriso ao mesmo tempo confiante e gentil. Ela ajeitou como podia a forma em que estava sentada e disse com insegurança um sim quase inaudível. Ele se abaixou e ficou na altura dela.

- Primeiro, você precisa de um par novo - falou sorrindo e ela sorriu também - Segundo, acho que você deveria tentar descalçar eles em pé. A gravidade pode ajudar. E pode segurar em mim pra não cair enquanto faz isso. 

-Quem é você? - ela reuniu coragem pra dizer.

- Henrique - ele sempre sorria quando terminava uma frase - Me mudei faz pouco tempo pro bloco C. Eu, minha mãe e meus três irmãos. Já já você deve conhecer eles. Também estão explorando as redondezas. E você?

- Carla - falou enquanto se apoiava nele, bastante tímida e tentava retirar um dos patins do pé, sem sucesso - Acho que vou subir e tentar cortar eles, Henrique. Não parece que vão sair de outra forma.

- Então deixa eu tentar te ajudar de outra forma. Senta de novo que eu puxo.

-Não, não precisa - ela já estava mortificada e só queria se esconder. Sabia que aquele menino(?) era interessante demais pra que a primeira conversa deles fosse daquele jeito.

-Vamos tentar antes de você "assassiná-los"? Você poderia querer doar eles pra alguém depois.

Com aquele argumento, Henrique deixou a menina sem ter o que falar de volta e pareceu muito mais maduro do que aparentava. Ela falou um "ok" e sentou no batente, mais impressionada do que envergonhada dessa vez.

Ele se abaixou, ficou de novo na altura dela e olhou pro par de patins com determinação. Enquanto a ajudava a esticar a perna e segurava a bota, olhou pra ela. Dessa vez não disse nada e nem sorriu. 


segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Mas se nunca se queimou: arda.

O seguinte, com o tempo cada vez menor: 

Olhando pra tudo, vejo que há uma emoção surpreendente no sossego. Uma brisa morna, um arrepio quentinho na espinha, um calor que apenas abrasa. Se for pra imaginar, digo que é daqueles momentos em que se está deitada, deixado o sol bater... mas não queimar. 

Intruso

Mais um rápido porque o tempo me permitiu essa licença.

Não, não estou bem e nem estou mal. Estou apenas apaixonada e isso sempre me incomodou.

O que me tira de mim e não me deixa seguir tranquilamente em tédio, traz momentos de reflexão agoniante sobre coisas sem lógica como o amor. E ´tá bom de amor. 


domingo, 3 de janeiro de 2021

On the road

Estamos pegando a estrada, enquanto toca baixinho um blues de Janis Joplin.

Nossa filha dorme e, como tudo que ela faz tem minha torcida incondicional, fico aqui desejando pra ela os melhores sonhos.

Da praia pro campo, das férias pro lar. Estamos vivenciando um período estranho onde também é estranho abraçar quem amamos e o normal é passar longos períodos sem os ver.

Sinto algo aqui, como um anúncio de uma alvorada, mas é essa pssagem de ano que inflama um pouquinho a chama fraca da esperança. 

Tenho muito medo de que continuemos passando ainda muito tempo assim. É cansativo demais gastar tanta energia na ponderaçao de decisoes que deveriam ser simples. Nos conflitos que nem deveriam surgir. Damn...

Quilometros de estrada pela frente separam a família que nos criou da família que criamos. Fico aqui pensando que é gostoso inaginar que já já estaremos em casa e vou poder “tocar” o meu presente de natal depois que colocar nossa filhinha no berço. E talvez até acompanhar o meu marido percussivo. E também vou adorar ver nossa filha revendo o cantinho dela com o temperozinho da saudade. E assistir alguma série ou filme com a companhia que mais me acompanha em tudo. Ou ainda ler os livros que deixamos reservados no criado mudo para depois. Queria apenas ter podido abraçar sem culpa quem deixei distante. Na verdade, to acumulando esses abraços que eu queria dá. Isso tiraria todo o peso que eu preciso pra viver de novo em paz. Tenho sufocado de vontade.

Mas fiquemos aqui, no momento. O sol está lindo e o dia agradável. A vontade é de abraços nao dados, mas também é de lar e de recomeço. 2021 chegou agora. E na minha história, os anos ímpares, mesmo sendo os mais desafidores, sempre foram também os das melhores mudanças. Que venha e que seja.