segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Era o verde, era.

A árvore cresceu com ela, com a moça.
Cada vez, ela voltava pra fazenda e observava: tinha algo a mais ali e nela.
Algo que faltava nela e não faltava ali.
Alguém com quem até brincou um dia, carregava um filho na barriga e tinha um outro pegando pelos mãos.
A menina casara-se com o vizinho mais próximo e o amara desde então. Os filhos chegavam, todos de sorrisos tímidos, como o dela. Mas sorrisos de quem não carrega culpa, nem peso. Sorrisos leves.
Acordar e viver de um jeito simples. Sem querer a mais ou querer a mais o que não estava tão longe.
E sempre poder correr de pés descalços nos mesmos espaços em que crescera, a menina. Em que alguém, aquela moça, brincara com ela, até que partia. E sempre partia. Partidas que no começo não eram nada mais que curtas. Partidas que cresciam, assim como as árvores e as plantas e o vira lata com quem brincavam.
E o tempo o envelhecia.
Um dia ele morre e a moça nem volta pra jogar um último beijo no montinho onde o enterraram.
E tampouco volta pra saber se o seu cavalo branco, mais companheiro, ainda vivia.
Ou ela, a menina.
Sorriu pra moça, aquele sorriso de antes.
Lembrou que brincavam de escola e ela era a professora.
Aprendeu o alfabeto com ela e achou incrível. Era como uma mágica que algúem carregava e fosse derramar por perto, de tempos em tempos: de mês que passou a ser ano e passou a não ser mais tempo algum.
Apertou forte a mão do filho que ainda não estava na idade de aprender aquelas letras, a mulher.
Chegaria o dia em que contaria pro filho o que aprendeu com a moça. E ele aprenderia a ler.
A moça nunca saberia de tudo isso, porque não voltaria mais, ou porque não esperava que tivesse sido tão importante, enquanto simplesmente brincava.
Só viu que ela sorriu de volta, um sorriso triste, de quem quer além de tudo. A moça olhava em volta, saudosa dos dias em que viveu e não quis muito mais que nada. Admirou a vida que não teria diante de si, aquele sorriso tímido e leve, retratos de uma satisfação que nunca alcançaria na vida. Porque deixou de amar o simples e o simples tinha ido embora: estava enterrado fundo em cada coisa que, sem ao menos dizer adeus, ignorara.
Triste moça.

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