segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Um romântico?

-As coisas mudaram um pouco, nao é mesmo?

O local era aquele que costumavam ir. A parte mais alta da cidade pequena. Onde um vento certo batia, fazendo cabelos balançarem soltos e roupas colarem aos corpos. O ideal pra quem carrega amor, em vez de paixao. Aquela paz...

- É. Mas nao tem nada a ver com a paisagem...
- Nao. Nós que somos a parte intrusa de tudo isso.
- O que o tempo nao faz? Nós que nos dizíamos parte disso...
- Parece que ele carregou a parte da gente que combinava...
-É...

Aquilo soando sério. O vento, antes, confortável, batia frio, incomodava. Ela queria prender os cabelos, ele segurava a blusa pra que nao voasse muito. Eles que nem se olhavam, mal sorriam, mal falavam, eles que nao perteciam mais àquele lugar...

- O q vc..
-tem feito? - falaram juntos.
-Ahahaha! Isso continua!
-É! Parece que continuamos combinando as palavras em pensamento...
-e falando na mesma hora. Como antes!
- Como antes.
-É...

E as lembranças corriam soltas. Nao falavam...As vezes, deixavam os olhos se perderem na paisagem ou se encontrarem acidentalmente, gerando uns sorrisos desengonçados. Sabiam que estavam compartilhando o tempo deles. O tempo que tiveram juntos.

Alguém que se deitava no colo de outro e nao precisava sentir mais nada. Um dos dois que chegava atrasado e como desculpa, trazia um sorvete que dividiam. Maos que tiravam os cabelos dos olhos, do rosto, para que pudessem se despedir da tarde com um beijo. E a noite que caía e precisavam ir pra casa. E as mãos dadas descendo ladeiras que podiam nao terminar nunca. E a saia dela voando que ele reclamava, brincando de ciúme fingido. E as sandálias dela que ele carregara tantas vezes na mao, quando ela preferia ficar descalça. E quando ela brincava correndo, dizendo que ele nao a alcançaria. E todos os abraços fortes que terminavam sendo o fim da brincadeira. As explosões de paixao, no meio do caminho, atras da igreja. E os olhos marejados por sentirem o que nao entendiam. E cada brincadeira que inventavam pra passar o tempo, esperando que a noite chegasse. Juntos...

(...

- Eu nao queria que você tivesse ido...
- Eu nunca quis que você ficasse.
- Você nunca me pediu pra ir junto...
- Você nao teria ido comigo.
- Nunca imaginei que fosse vê-lo, outra vez.
- Nao era pra ter vindo. Mas eu precisava vê-la.
- Porque você voltou?
- Vou embora daqui há 2 dias. Tinha que te ver.
- Vai me abandonar de novo...
- Deus, você continua tao linda quanto antes!
- Queria que pegasse minha mao e me levasse pra longe.
- Queria beijá-la e que me pedisse pra ficar.

...)

Mas nada disseram. Os olharem contiuavam perdidos e o vento frio, ficava cada vez mais forte. A noite caía, as luzes se acendiam, a paisagem ficava mais bela. Era a hora de se despedir da noite com um beijo. Mas o silêncio continuava e os olhares nao se cruzavam mais. Os corpos elétricos e sufocados, perdendo o momento de se unirem, de conversarem sobre o que tavam sentindo, de fincarem unhas e maos em corpos, de se agarrarem, concordando silenciosamente, que nao queriam sair dali.

- Bem, acho que é hora de dizer adeus.
- Previsível, ran? Cai a noite e vamos embora. Como antes.
- É. Como antes, iremos embora.
- Tão igual e diferente...
- É...
- Foi ótimo te ver, espero que você seja feliz na vida.
- Eu...também foi otimo te ver. Felicidades também.
- Até.
- Adeus... vim a trabalho, vou embora daqui há dois dias.
-Certo, mas eu prefiro até.

E ela começou a descer a ladeira sozinha. E ele ainda ficou uns momentos ali, observando-a. O vento frio, ferindo, cortando, levando a lágrima solitária que caía, pra longe, embora.

Perderam o momento de dizer "eu te amo".
Dizem que quando isso acontece é como se cada estrela do universo entrasse em acordo de que aquele amor nao deveria continuar existindo mais.

É quando a paisagem, entao, muda pra sempre e nenhuma vírgula sequer, consegue voltar a ser como antes.
É quando acaba.
Enfim.
















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