sábado, 9 de janeiro de 2010

A noite

Ele a chamara com aquele gesto vago de quem sabia que ela iria, desde o início.
Embora seu coração acelerasse com a direção que seguia, manteve o impossível controle e aquele jeito de quem simplesmente chega para dizer oi.
Havia, por tanto tempo, esperado aquele dia, tanto ansiara que temia. E tudo começaria a partir dali.
Foi apresentada ao amigo da mesa e convidada para sentar-se. Disse que encontraria uma amiga e voltaria em seguida. Pernas bambas, desejo de ficar, mas conseguiu ir embora com naturalidade. Deixou no olhar que jogou pra ele, antes de ir, o que ele, certamente, já sabia: estava feliz de encontra-lo ali.
Quando viu a amiga, sorriu com a armadilha. Ela a colocara naquele caminho, apenas porque sabia do fim. Xingou com sorrisos, disse que a odiava com carinho e dirigiram-se até aquele lugar em que, se conseguisse respirar naturalmente, sobreviveria. Sentou-se ao lado dele.
Oferecida a bebida, mal teve tempo de registrar o que ele colocava em seu copo. Os gestos saíam no automatico e seus olhos nao desgrudavam mais. Ele se aproximava e a tocava como se aquele toque fosse conhecido pros dois. E cada encostar, uma faísca. A tocava como se fosse dono dela. Não se importou. Disseram tanta coisa que jamais lembraria, tantos convites sedutores à sedução, a seduzir-se, ao amor, à paixao, à febre que sentiam, àquele momento que, finalmente, viviam, à tudo aquilo...ao tudo. Outras pessoas invadiram a mesa que foi ficando maior e, de repente, estavam do outro lado, juntos, rostos colados, conversando qualquer coisa que fizesse ou nao fizesse sentido. Bocas se tocando de leve, enquanto pemaneciam ali. Palavras iam e voavam pra qualquer canto, existiam respostas mal ouvidas e perguntas mal feitas, nada registravam. Estavam ali. Simplesmente. Ele falou alguma coisa sobre o seu cheiro que exalava algo que só ele sentia. "Cada um sente de um jeito". Sim, ela sabia. Sentia por ele de uma forma diferente. "Tem a ver com instinto, é animal". Claro que seria, era mais que comum, sem dúvida...
Nao soube quem a despertou e comentou que tinha que sair dali e voltar pra casa. Nao sabe até hoje porque resistiu ao convite dele de leva-la de volta. "Fica mais, eu te levo. Eu to bebendo, mas meu amigo vai dirigindo". Nada sabia...
Existe apenas, em sua vida, o registro de que nao ficou... E até hoje nao sabe precisar o porquê...
Talvez por fugir de um local que nao fosse seguro, talvez por temer a ele, talvez por temer a si. Nao existem certezas que falem daquela noite, sobre o que sentiu, sobre o que sente.
A única coisa certa é que sabe o caminho exato que deve seguir quando quiser viver algo que tire seus pés do chao. O mais perigoso. O dele.

Nenhum comentário: