sábado, 21 de julho de 2007

Drama XX - (por ele)

Ele jogou o cigarro na calçada.
Olhou a praia, sentiu o vento, observou o quão deserto aquilo poderia ser e era.
Procurou.
Procurou como quem nao procura nada e com a urgência de querer achar como nunca.
Procurou-a.

E como a acharia?
Dez anos haviam se passado.
Deveria contar, se sua matemática falida nao o enganasse e se a ficha que possuia dela fosse verdadeira, trinta e dois anos. Como reconhecer um rosto de vinte e dois em uma mulher de trinta e poucos? Como achar sua menina, se procurava uma mulher?

Desabotou três botões de sua camisa branca, dobrou as mangas, descalçou os sapatos e começou a andar na areia.
Seu rosto continuava sereno e bonito mas, seu sorriso que antes desfilava por onde ia, surgia, agora, apenas quando o carregava de sarcasmo e ironia.
Poucos motivos pra sorrir em um continente como a Europa. Muito trabalho, pouca alegria e nenhum romance parisiense ou uma paixão espanhola arrebatadora.
Belas mulheres que comandava, mas nao se envolvia.
Belas festas que dava mas nao participava.
Envelhecera.

Uma cena distante passeiou pelos seus olhos:

- Muito trabalho ou ausência de amor, seu velho? - perguntou Helena, escalando sua cama em direção a ele, que estava perdido em pensamentos e não havia notado quando entrara no quarto.

- Sua grega hostil - sorriu com sarcasmo, enquanto segurava seu cabelo - já chega me xingando.
- Meu amor - disse ela, enquanto abria sua camisa - nao gosto de vê-lo vestido na cama.
- Tentando me seduzir, Helena? - falou, enquanto descia a alça do vestido preto elegante, que ela usava.
- Gostou do meu vestido? Comprei pra vc...
- ...tirar?
- Tudo. Desde que você nao fuja de mim, como há pouco tempo.
- An? - nao a acompanhava mais. Estava ocupado, contornando seu decote com os dedos.
- Você. Foge o tempo todo em pensamento. Me sinto só. - fez beicinho.
- Eu 'to aqui, agora, sua grega reclamona. - Calou sua amante.


Tirou a camisa, enquanto olhava o mar.
"Lugar bonito" - pensou, observando um dos poucos lugares do seu estado que parecia desabitado.
"Por isso que é bonito", concluiu com sua filosofia de vida chinfrim.
Pensar em Helena parecia macular aquele lugar.

Lembrou-se do que o havia feito chegar ali.
Lembrou-se dela.
Paz.

Há oito anos Tony fixara residência na Itália. Há dez anos não pisava no Brasil.
Há seis dias havia recebido o telefonema de Tomé, informando que a tinha encontrado.
Há seis dias sofria com o desejo de reecontrá-la.
Seis dias?
Porque nao reconhecer que aquele desejo obsessivo já contava dez anos?

- Achei - dissera Tomé. - Deu trabalho, Tony. Desde que abandonou a faculdade, poucos sabiam sobre ela.
- Vc...conseguiu? - perguntou, temendo a resposta. Achar aquela mulher poderia significar tudo e nada.
- Sim. Ela casou, Tony. Logo depois que largou o trabalho com você e a faculdade. Parece que ela e o marido possuem uma vida bastante pacata. Nao achei registros de viagens nesse tempo e nada que denunciasse que existem.
- Casada?
- Sim. Mas nao têm filhos. Quer saber onde ela 'tá?


A resposta foi demorada. Tomé esperou alguns minutos antes que decidisse consigo mesmo, embora já soubesse que nao conseguiria mais fugir daquilo.
A resposta tava ali: um homem, sem sapatos, longe do local onde ele morava e trabalhava, pés na areia, em busca da casa 3057 de uma praia quase deserta.
A resposta tava em sua loucura.
Em sua obsessão.
Algo que o fez parar de sorrir, de se interessar por outras mulheres, de se empolgar com suas conquistas.
A resposta residia na casa 3057. E uma resposta absurda. Como poderia existir uma casa de número 3057 em uma praia que contava com, nao mais, que 100 casas espalhadas, escondidas, como se nao existissem?

A casa 3057 ficava mais próxima a cada passo que dava. Vento, areia, mar. Tudo fora do lugar, tudo distante do papel que escolhera viver. Tudo incomum.

Um comentário:

Piu. disse...

ele deveria ter voltado antes..