sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Fim

- Você tem certeza disso?
- Tenho...pra nao desgastar a amizade, ou acabar com o sentimento bom que a gente tem um pelo outro...
- Sei, sei.. já levei foras antes.
-An?
-Nao precisa discursar. Acabou, nao é? No fundo nao é isso?
- É, mas nao significa que eu nao goste de vc, nem nada...
- Clara.
- Sim.
- Não precisa disso. Eu já entendi.


Foi embora. Odiava aquela espécie de discussão. Resolveu ir sem olhar pra trás. Que fosse o que tivesse que ser, a partir de agora. Nao ia negar o sentimento. E nem ocultar a mágoa. Simplemente iria em frente, a despeito de tudo. E a dor... a dor serviria pra lembrá-lo que estava vivo.

Na primeira semana, resolveu ficar em casa. Tinha que vivenciar aquilo.
Só.
Trancou-se no quarto, estudou um pouco, leu alguns jornais atrasados e releu suas hq's favoritas.
Edições de colecionadores funcionavam como bálsamo na fossa.
Alugou alguns dvds, evitou os romances. Nem toda a aventura na tv conseguira despertar sua atençao. E o pensamento viajava pra momentos felizes, em que sorriram juntos.. Eles. Eles que agora seriam ele e ela. Separados assim.
Procurou a edição especial de Fantasma.

Na primeira semana, foi pro shopping com as amigas. Nao podia viver aquilo sozinha. O modo como ele saíra de sua casa a angustiava. Será que ele tava bem? A vontade de ligar era grande e o coração dava pulos quando algum homem parecido passava por perto. A melhor amiga nao ajudava. Ficava falando o quanto eles eram um casal perfeito e que nao entendia sua decisão...

- Mas eu te apoio! Nao entendo, mas apoio. Agora, entao, é bola pra frente. Reintegrar a comunidade solteira, nao é?
- Ai, Amanda. To desacostumada... Cinco anos... acho estranho andar livre. Sem alguem do lado, pra dar a mão, sabe?
-A h! Mas essa decisão foi sua, né? Entao, bola pra frente! Compras?
- 'Tô lisa, Amanda.
- Cartão de crédito, amor! Bora! Compras!
- Tá...mas só um pouquinho...

Na segunda semana voltou a rotina: faculdade, estágio e casa. O que mais incomodou foram os amigos que não estavam sabendo de nada. Durante toda a semana perguntaram-no sobre ela.
Dizer que tinha acabado ainda incomodava. Alguns o tratavam com pena, o que era pior. Mas aos poucos ficou assim: as amigas davam tapinha nas costas, os amigos chamavam pra beber, as colegas ofereciam companhia "desinteressada", os colegas falavam da boate do momento...

- Agora é farra, Lu! Quero ver, viu? Sexta!
- Vou ver, Fabão... Nao curto muito boates...
- Nao curtia! Agora que tá solteiro 'cê vai curtir!
- Ahaha... pensando assim...
- Sexta, viu? Quero desculpas nao! Já te dei meu celular?
- Já sim...
- Pronto! A gente combina! Vai ser legal sair com o mais novo sr. solteiro. Tenho umas amigas, cara...
- Ahahaha! Vai lá, Fabão.

Na segunda semana, chorou bastante. Ia pra faculdade e as tardes livres, em casa, eram sufocantes. Ligou bastante pra Amanda. Pensou bastante em ligar pra Lucas.
Nao ligou.
Se dedicou a monografia, leu alguns atores que falavam sobre o tema e outros que a vontade pedia.
Na sexta, Amanda chegara de 15h. Animada, com uma mochila cheia de roupas pra escolher a que usaria, pela noite. Iam sair.

- Você acha que eu engordei tanto assim?
- Clara, nao vou mentir. Você não 'tá gorda. Mas nao 'tá com o corpo de antes. Namorar engorda.
- Nao, o que engorda é anticoncepcional e domingos de pizza e vídeo em casa...
- É, domingos, no começo. Quando o relacionamento tá morrendo passam a ser domingos e sábados e sextas de pizza também...
- Tem razão...O meu tava assim...
- Eu sei! Vcs nem saíam de casa! Sabe há quanto tempo a gente nao se via? Uns 5 meses, por aí! Desde o meu aniversário que você só foi, porque eu te obriguei a ir e ainda assim saiu mais cedo poque Lucas tava de saco cheio...
- Ah, Amanda. Nao fala dele...
- Ô, amiga. Desculpa. Vamos ver qual é a roupa de hoje à noite? Tem que 'tá "arrasante"!
- Ahahaha! Vai lá, Amanda.

Sexta feira, noite:

Os dois colocaram sua melhor roupa, olharam-se no espelho gostando do que viam e disseram a si mesmo pra ir em frente. Um momento, porém ele se perguntou porque aquilo tudo estava acontecendo e ela se perguntou porque fizera aquilo tudo acontecer. Ele pegou o celular pra ligar pra ela e ela mais uma vez ignorou a vontade de falar com ele. Ninguem ligou.
Ambos saíram com os amigos solteiros pra boate da moda, sabendo que aquilo nao os animaria e nao preencheria o vazio que estavam sentindo.
Ela escutava a música e pedia um martini. Ele conhecia as muitas amigas de Fabão, "simpáticas e atraentes".
Ela ficara irritada com a insistência de um desconhecido em agarrá-la.
Ele ficara entediado com a futilidade da conversa das amigas de Fabão e pediu licença.

Ela procurou Amanda, sem sucesso, e foi pro balcão da boate pedir outro martini, interiorizando inúmeros palavrões pra dizer à amiga, enquanto nao a achava.
Ele foi pegar outra cerveja e pensar numa desculpa pra ir pra casa.
Boate, som, luzes, pessoas, balcão...

Ele a viu.
Ela o viu.

Os corações bateram mais forte e eles gelaram.
Quer dizer, ele e ela.

Um comentário:

dimitri disse...

hm, até o fim desse post eram Ele e Ela. só que depois do tédio que os outros causaram... bem, vamos ver o que seria depois, senhorita?

=)

Mais um capítulo da minha história tá no ar.

;*