segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O último antigo


Um par que não bebe, nem beberica, nem se deixa levar pelo romantismo de vinhos e velas.
Uma mesa absurda, de uma situação diferente: onde já se viu prostituta reclamar de cliente?
....
O vestido é decotado e extravagante. Pintava o fundo do bar, de um vermelho fúnebro, visto que a pouca iluminação roubava o tom vivo da roupa.

A palidez dos corpos combinava com o verão que nunca chegava. E ainda tinha o tom de seus espíritos presos na voz que deveria sair a seguir: em tom lamentoso de quem se despede.

Casar-se-ia dali há dois meses. A noiva era ninfeta e rica. Mudar-se-ia pra um local tão distante, que falar de visitas era o mesmo que zombar do possível.

Guardaram as vozes, deixaram morar o silêncio. Tentaram ignorar as lágrimas que caíam em chuvarada. O soluço tímido foi o único som que se ouviu e dali em diante, seria apenas uma passagem para um mundo triste.

Tinham aquela platéia molhada de alcool, caída em torpor, debruçadas no abismo da embriaguez, caindo. E mesmo o mais bêbados dos mais bêbados botecos, chamou a consciencia, pra levantar o copo vazio e brindar à melancolia e beber ao reencontro.

Nada pronunciavam em vozes e os corpos meio afastados, tentavam se acostumar com a distância que vinha. Cabeças abaixadas, o último toque foi um ensaio de abraço. E ela segurou o queixo dele, com carinho de quem conhece o melhor toque. E ele abraçou o corpo dela, com o toque de quem conhece o melhor carinho.

Não se despediram, nada disseram. Não colocaram o amor em vozes e toques, deixaram ele solto, espalhado, pendente, voando até um dia que viria de novo. E chegaria.

E, daqui até lá, não existiria mais o carinho de quem conhece o melhor toque e nem o toque de quem conhece o melhor carinho. E os tons de roupa deixariam de parecer brilhosos e fortes porque, não há de se falar em cores vivas, daqui até lá.

Interlúdio.
Que seja breve.