terça-feira, 20 de novembro de 2007

Quando o silêncio falou

Queria querer o mundo.
Mas havia aquela quietude, uma leve acomodação, um deitar-se em beiras de lagos e em redes de varandas e deixar-se ficar, em vez de ir...

Era manhã, o sol brilhava. Cada parte do corpo deitada na sombra, o cabelo espalhado pra trás, a roupa leve, a respiração lenta...deixava-se ficar em cima da maior pedra, no meio do nada, do mato, perto do açude, pegando a terceira árvore pela direita, ficando lá.
Desejosa de nada, receosa de nada, nao havia ambição qualquer de está em canto nenhum, senao aquele. Um vento leve, um barulho fino de canto de vento, olhos fechados, mao caída de lado, mao jogada pra cima, braços soltos, pose displicente, quase um sono, um dormir....

Sentiu quando chegava: vinha quebrando sua paz, invadindo, rasgando. O corpo se ergueu, as maos apertaram o peito, os olhos atentos pra aquilo que chegava, que vinha...

O que seria, o que era, saberia a seguir...mas vinha correndo, vinha com pressa de chegar, se aproximava mais e mais, a cada pedaço do tempo, mais e mais...

Fechou as maos no decote do vestido, pensou em esconder-se atras da árvore, observou que nada a camuflaria e que o que quer que vinha, o que quer q fosse, colocaria os olhos sobre ela, a conheceria.
A respiração funda, os lábios sendo mordidos por dentes aflitos, um palpitar de coraçao, a coisa se aproximando, o que ou quem...

E a cena foi assim: ela já tinha se erguido, de pé, fitava aflita sua chegada. Ele que nao esperou encontrar ninguem e terminou por encontra-la. Em cima da pedra, vestido leve, cabelos ao vento, olhos escuros e enormes, apreensivos, curiosos. Ele que chegou e foi até ela.

Soltou um bom dia e esperou resposta que nao veio. Aproximou-se aos poucos e sorrindo, disse seu nome e de onde vinha. Perguntou sobre ela e nada ouviu. Observou que as maos ainda apertavam o vestido, segurando firme, no decote que leva ao peito, ao coração. O que ela fazia ali era a proxima pergunta, mas o silencio veio a seguir, como antes e sempre.

A moça nao piscava, nao tirava os olhos dele. Parecia temerosa, parecia que fugiria a qualquer instante, parecia que evaporaria no proximo minuto e nada que fizesse a partir daí, a traria de volta, a colocaria diante dele.

Sentou-se querendo a moça e resolvendo nao querer. Nada mais disse, nada mais falou. Deixou-se ficar ali, do lado dela. E a moça estatica, em pé, olhando-o, desejando, receiando...

Quando o barulho de saias mudou, quando ela sentou-se, olhando-o, resolveu encara-la, perder-se em seus olhos, ficar ali. E, pensando que ela fugiria, descobriu que ia ficar.

E assim começou a conversar com a moça, que nada falava, nem ouvia, mas lançava com o silencio mil perguntas que aprendeu a responder sem palavras.

E caíram noites e mudaram dias, a historia que continuou em tempos de sol, de sombras e que nunca terminou, nunca termina.

Um comentário:

Tiago Soares disse...

locais, coisas, personagens da tua mente são lindos amor!

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