domingo, 6 de novembro de 2022

Chuva de primavera

Ainda chove na primavera.

Na Bahia, em Canhotinho.

Em Divinópolis, aqui.

Ainda chove na primavera.


Quando chove, guardo o óculos de sol e observo.

As cadeiras dos bares e mesas das calçadas fecham-se por um instante e aguardam.

Aguardam o tempo mudar.


Ainda chove na primavera e eu me recolho às vezes. 

Outras, deixo que os pequenos pingos ou as tempestades passageiras me molhem também.

Combina.

Combina com essa coisa meio termo.

Combina com o meio sorriso desse meio tempo que aguarda as flores que até ontem nem pareciam querer sair.


Ainda chove na primavera e aqui em casa a chuva ajuda a aguar as plantas nos dias em que esquecemos delas.

Um aviso pra não ficarmos totalmente distraídos dessas coisas que parecem apenas complementares, mas que são fundamentais.

Ainda chove na primavera e acabei de enxugar o quintal do jardim.

Pego as cadeiras de praia e distribuo onde o sol aparece tímido, mas aparece.

Ainda chove na primaveira e convido todos a sair de casa. 

Talvez exista um dia inteiro de Sol nessa primeira manhã de chuva. 

Ou mais chuva esperando pra sair.

Ainda chove na primavera e há tanto a esperar dessa inconstância do tempo.

Estações, transformações, ah! 

Ainda chove na primavera.


quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Preciosizar


Dificilmente passo muito tempo ofendida.
Dois minutos, dois dias. Não duro mais que isso.
Sou extremamente falha como "ofendível".
Esqueço, balanceio, nunca acho que vale a pena gastar energia assim.

Tempo é algo que sempre tive a impressão que me falta.
Me falta pro futuro.
Como se - com uma navalha - o destino aguardasse algo pra mim.
Mórbida? Talvez. 
Só que é o contrário.

O contrário porque sempre fui contrária a isso.
Esperando o pior, tento viver o melhor. 
É quase como se todo o meu positivismo viesse do meu negativismo, entende?
"E se tiver pouco tempo, o que fazer com o tempo que tenho?"
É quando passo a reparar - bem mais - nas coisas que me rodeiam.
Preciosizá-las - existe essa palavra?
Claro que não, mas deveria.
Deveria porque é importante preciosizar as coisas.
Cada partícula, cada detalhe.


(Preciosizar: verbo inexistente; ato ou ação de enxergar a suntuosidade das coisas, o maravilhoso). 

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Morto ou vivo?


Vivo, tão vivo.

Mesmo que esteja morto.


É apenas uma forma de olhar, 

o lado diferente do muro.


Vivos, tão vivos.

Estamos nós?

Estão os mortos?

Uma questão de ângulo, 

de geometria interna,

espaço e tempo

local.


Aqui os relógios sinalizam os minutos. 

Percorrem com “tic e tac” o tempo que falta pra chegarmos lá.

Como será que o tempo gira do outro lado?

Será que, ao contrário, contabiliza-se o tempo de voltar? 

Mas quem é que vai?

E quem é que volta?

Talvez estejamos todos mortos-vivos,

Aqui ou lá,

Chegando, partindo.

Percorrendo as estradas que levam aos reencontros.

Ou talvez o que nem exista seja, de fato, o morrer.

As pessoas que amo estão vivas.

Não importa o que acontece com a química de seus corpos.

Em meu coração seguem, em meu coração vivem, em minhas memórias sorriem, em meus pensamentos florescem e semeiam tudo o que plantaram em mim.

Vivos!

Tão Vivos!

Estão vivos.

Como pude questionar?

Não existem mortos.