terça-feira, 12 de setembro de 2023

Descontato necessário

"Não preciso de pessoas. A maioria delas não me preenche, esvazia".

Em que pese não gostar de Bukowski, reconhecia que algumas frases tinham o efeito de, incomodamente, tatuar na mente suas impressões. 

Ela gostava de pessoas. Conhecê-las, conversar com elas. Saber das minúncias que nao sao mostradas, os detalhes, seus detalhes interiores. 

No entanto, ela precisava recarregar a bateria para socializar. 

Era bom, mas cansativo. Era intenso e sugava-lhe um pouco já que entregava tanto nos contatos, nos encontros,  que “esvaziava”.

Algumas, incomodamente, queriam saber dela mais do que desejava contar. Outras, apenas compartilhavam demais, sem que esperasse por isso. Existiam aquelas que pediam-lhe pra guardar segredos já no primeiro encontro. Muitas supunham que a conheciam bem e mal faziam perguntas. Ainda existiam as que eram metralhadoras de palavras e não paravam nem pra respirar. Tinha também as que de forma maliciosa apareciam com segundas, terceiras e quartas intenções.

Raras pessoas transmitiam o conforto da presença com o silêncio. Ou com frases pontuais. Ou com uma conversa. 

Ela gostava de pessoas, mas precisava de um tempo afastada delas. 

Não de você.

Da maioria. 

sábado, 2 de setembro de 2023

Clube dos 10%


É que ela era fenomenal de uma maneira que o fazia querer acreditar em encontros especiais de todas as formas que não faziam sentido.
O que sobrava pra uma pessoa cética quando, de repente, deparava-se com o excepcional?

- Eu espero que a chuva dê uma trégua na tarde de hoje.
- Impossível, a previsão do tempo diz que continua assim até amanhã.
- Você realmente consulta isso, não é?
- Atualmente a probabilidade de acerto é de 90%.
- O que não garante certeza.
- Porque você é do clube dos 10%.
- Sim, eu sou do clube dos 10%.

Ela era realmente do clube dos 10%. Havia tanta coisa incomum nela, como aquele diálogo, que ele nunca sabia o que esperar. Não é como se fosse, no momento seguinte, colocar-se em loucuras e enrascadas. Era mais como se estivesse desafiando de uma forma leve e cuidadosa, estigmas e convenções.

- Você já teve a sensação que não se encaixa em nenhum lugar?
- Sim, continuamente.
- Você faz ou pensa em fazer algo pra mudar isso?
- Na verdade, acho impossível que exista algo que possa mudar a sensação.
- Eu também. E não vou tentar.
- Eu também não.

Mesmo que fossem de clubes opostos, que os ângulos em que olhassem coisas ao redor divergissem no mais profundo aspecto, tentavam de forma contínua encontrar conexões e detalhes que os permitissem estar juntos.

E foi assim que funcionou. 
E é assim que funciona.