quinta-feira, 21 de março de 2024

Shěnxùn

Quando faltam-lhe palavras, Murilo sente a estranheza de não conseguir indagar-se enquanto pessoa.

Por muito tempo acreditou que escrevia para encontrar respostas, até que observou que eram as dúvidas que lhe movimentavam.

Nas questões, residiam as razões de continuar senão a escrever, buscar vãs tentativas de compreender a sua própria existência. 

Nas perguntas que formulava, argumentava com a vida sobre cada ponto que não compreendia. 

Na falta de palavras, Murilo, vazio, teve dificuldade de concluir até esse texto.

Faltavam-lhe dúvidas, fartava-lhe a vida, as vivências, os acontecimentos consumiam-no por inteiro, não havia o que objetar.

O debate interno, tão natural, tão intrinsecamente conectado à própria natureza de Murilo, resignara-se ao silêncio.

Emudecido por dentro, parou de escrever. 

Embevecido por fora, parou de questionar.

Me deixou uma mensagem antes de sumir completamente.

Um copo cheio, transbordando em minha mesa e um copo vazio, sem nenhuma gota, pairando como uma resposta sem resposta plenamente satisfatória.


"Eu não procuro saber as respostas, procuro compreender as perguntas". (Confúncio).


segunda-feira, 11 de março de 2024

As cores do quadro são vivas e retratam a espada e a balança.
No entorno, flores e cajus preenchem a tela, onde uma mulher cega, no centro, de boca fechada, finge que os instrumentos que carrega na mão, poderiam fazer justiça.