terça-feira, 17 de maio de 2022

O que brilha mais que esmeralda?

Francesca dispensou a auxiliar e, diante do espelho, iniciou um ritual próprio e particular. 

Assim, soltou primeiramente os cabelos que estavam presos na faixa e deixou que eles caíssem livres e soltos pelas costas, pelos ombros, pelo busto. Sorriu. Tinha muito cabelo.

Depois, ainda com um meio sorriso no rosto, começou a desabotoar os botões do corpete nas costas. Tentou, inutilmente, desempenhar a tarefa com charme e graça. Sorriu de novo. Impossível. O corpete, frouxo, foi retirado por cima da cabeça ao som de novas risadas.

Em seguida, teve a inconsequente ideia de despir a longa saia, a meia de cetim e a delicada peça íntima de uma vez. Cambaleou algumas vezes, quase caiu, resolveu que deveria se sentar e rendeu-se ao riso novamente, ao mesmo tempo em que as três peças desciam até o ponto em que descansassem completamente aos seus pés, emaranhadas e juntas, libertando-a quase totalmente de suas vestimentas. Quase. 

Ainda com a sombra do último sorriso no rosto, voltou ao espelho. Restava o brinco. Uma peça linda, de esmeralda, um presente amoroso que brilhava e cintilava, mesmo que a baixa luminosidade das poucas velas que preferia acender à noite tornassem o feitio duvidoso, o que a fez quase acreditar que o ilusionista havia enfeitiçado não o objeto, mas seus olhos. 

Não tirou o brinco. 

Mergulhada em seu próprio encanto, Francesca se dirigiu à janela e abriu as portinholas. Recebeu o frio da noite em cada recanto do seu corpo e sussurrou contente: "obrigada". 

(No canto, se a vissem, saberiam que uma jóia não causa esse efeito; saberiam se fossem sábios). 


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