segunda-feira, 17 de julho de 2023

Ficção científica (editar)


Finalmente acordou de um longo sono. Seus olhos demoraram a acostumar com a claridade, especialmente porque a parede fina da caixa de vidro onde estava deitada, não escondia o teto excepcionalmente branco daquele lugar.

A caixa moldava-lhe de uma forma que roubava a maioria dos movimentos, mas permitia que abrisse e fechasse as mãos, o único gesto de protesto concedido ao corpo. Fechou-a de uma forma que chegaria a doer se os plugues conectados ao cérebro não lhe anestesiassem emoções ou sentimentos que a dignificasse viva. Mas havia as lágrimas. Não conseguiram refreá-las. As lágrimas escorriam livremente, mesmo com o coração e o corpo todo transmutado em máquina. As lágrimas humanificavam os metais, os órgãos revestidos, os comandos que deveria obedecer e obedecia, mas vindas de algum lugar inatingível aos controles, fazia-lhe participante ativa de um exército robótico que imprevisivelmente chorava. 

O coração, a carne, as decisões, os pensamentos, os sentimentos, ligados e desligados à revelia. Mas no incômodo que esvai o que precisa ser chorado, caem lágrimas rebeldes e ingovernáveis. Até de máquinas. 

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