terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Meus textos sobre filhos são puramente sentimentais e, muito provavelmente, sem lógica.

Provavelmente, se você sabe o que é ter um filho doente, você já se pegou querendo ser médico, saber fazer ausculta, operar uma máquina de raio x e ter um laboratório enorme que te diga que tudo vai ficar bem e logo. 

Você provavelmente se deparou com os questionamentos sobre o uso de antibióticos, já se pegou querendo ver seu filho todinho por dentro, já quis ser ser a própria medicina, a penicilina, o remédio certo, um Deus.

Ou não.

Talvez seja mesmo coisa minha. A impotência de entregar a saúde do meu bem mais precioso nas mãos de outras pessoas, quando sinto que o conheço mais do que ninguém, é, para mim, assustadora, angustiante e, às vezes, dolorosa.

O fato é que, provavelmente, você moveria qualquer peça do mundo pelo seu filho. Mais uma vez, estou sendo pessoal, já que eu, certamente, moveria pela minha. Qualquer coisa necessária pra afastar o que não faz bem pra ela. Essa, de fato, é a minha vontade. Embora saiba - o mundo demonstra - que tem coisas que não estão ao meu alcance e que - mesmo querendo - não vou protegê-la de tudo. E assim é o mundo. Não vou protegê-la de tudo. Não está ao meu alcance. Não está nas minhas mãos. 

E é onde mora o problema. Aprender a lidar com isso. Com a impotência. Não poder fazer nada, quando tudo que você quer fazer é tudo.

Reconheço, de fato, que pouca coisa está nas minhas mãos. Começa com nutrir e cuidar. Com o que posso. É uma verdade dura, mais até o nutrir e o cuidar, um dia, não estarão ao meu alcance. E eu sei que mesmo sendo natural como ter mãos, terei que aprender a lidar com isso. Os nossos filhos não são nossos. Ninguém possui ninguém. Desde que a minha nasceu, contabilizo os custos do intercâmbio. Sei que separar de mim um dia vai ser essencial para ela ser ela.

E eu? 

Bem, só posso dizer o que sinto por enquanto. 

Filhos são tesouros. Pequenos pedaços refletores das coisas que você considera mais bonitas no mundo, no universo, no que tem dentro e fora, real ou fantasia, qualquer tempo, qualquer espaço. São também, por vezes, noites e noites em claro de angústia e de alguns sentimentos que talvez você entenda, talvez nem precise explicar, talvez nem tenha explicação. Filhos são a tapa na cara do egoísmo, o amor mais profundo pelo outro, a lição mais absoluta do que precisamos evoluir na gente e não apenas por a gente. Pelo outro também. É receber o que te desequilibra como ser, da mesma forma que te equilibra a ser. Claro que existem outros caminhos, mas  estou falando de mim, esse texto é meu e em mim é sempre essa vontade de estar inteira, mesmo quando nem sequer me sinto "meia". 

Às vezes tudo o que resta é esperar e confiar e você sabe disso e que no fundo tudo vai ficar bem. Mas aí você se adianta, é instintivo, é irracional: faz esse pacto com as forças do mundo pra acelerar um pouquinho o tempo pro tempo em que eles estejam e fiquem completamente bem. Então senta, espera, torce com âmago e aproveita pra pedir proteção e respira. 

Pelo menos suponho que sim.

Sigo aprendendo.

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