Temos algumas coisas para conversar.
Demandas, questões, esclarecimentos.
Passei ontem por você, carregada de documentos para protocolar. Casos novos, casos velhos, pastas, catálogos, tudo que estava na minha mesa e até alguns dos arquivados.
Cega, você não me viu.
Tudo o que eu queria era legitimar as minhas peças, saber o peso que tinham na tua balança. Nela deposito tanta esperança… tudo que me pleiteiam, que eu vasculho até encontrar uma saída, uma solução. No direito esse é um tipo de pensamento sagaz e necessário, mas inocente ao ponto de ignorar as variáveis que não deveriam interferir no teu julgamento.
Na verdade, figurativamente, você representa o julgador. E o julgador traz com ele as próprias váriaveis e o poder do martelo.
E quando, na história, poder, necessariamente, faz um homem justo?
Querida, Justiça, estou exagerando.
Já me deparei com bons julgadores e sei que perder faz parte do mundo da advocacia. Do mundo, aliás.
O gosto da derrota deve ser palatável, mesmo que difícil de digerir. É necessário para virar a página e correr com a mesma energia atrás do recurso. É necessário conhecer a derrota para valorizar ainda mais a vitória. E tudo o que vem com ela. É o que faz do advogado um batalhador. É o que reforça nosso arcabouço de luta.
Querida, temos muitas pautas pra discutir. E outras em formação, pela frente.
Tenho colhido muita felicidade na nossa relação, crescimento. Estou, certamente, na fase em que experimento frutos bons da tua árvore. Recolho, cheiro, devolvo a quem é de direito. Sigo. Quero aproveitar, mas não me iludo, querida. Não me iludo achando que todos os sabores serão doces. Nada na vida é invariavelmente assim.
Que no nosso caminho, intrínseco e inevitalmente conectado, possamos continuar esse diálogo que nem sempre é bom, mas que a tua existência me dá a possibilidade de trazer à tona. De colocar na mesa. De lutar por ele.
Você é um símbolo, querida. Um depósito de esperança que eu preciso acreditar.
E se não fizer sentido, o que faz?
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