quinta-feira, 6 de abril de 2023

Querida Justiça, (editar)

Temos algumas coisas para conversar.

Demandas, questões, esclarecimentos.

Passei ontem por você, carregada de documentos para protocolar. Casos novos, casos velhos, pastas, catálogos, tudo que estava na minha mesa e até alguns dos arquivados.

Cega, você não me viu. 

Tudo o que eu queria era legitimar as minhas peças, saber o peso que tinham na tua balança. Nela deposito tanta esperança… tudo que me pleiteiam, que eu vasculho até encontrar uma saída, uma solução. No direito esse é um tipo de pensamento sagaz e necessário, mas inocente ao ponto de ignorar as variáveis que não deveriam interferir no teu julgamento. 

Na verdade, figurativamente, você representa o julgador. E o julgador traz com ele as próprias váriaveis e o poder do martelo.

E quando, na história, poder, necessariamente, faz um homem justo?

Querida, Justiça, estou exagerando.

Já me deparei com bons julgadores e sei que perder faz parte do mundo da advocacia. Do mundo, aliás.

O gosto da derrota deve ser palatável, mesmo que difícil de digerir. É necessário para virar a página e correr com a mesma energia atrás do recurso. É necessário conhecer a derrota para valorizar ainda mais a vitória. E tudo o que vem com ela. É o que faz do advogado um batalhador. É o que reforça nosso arcabouço de luta. 

Querida, temos muitas pautas pra discutir. E outras em formação, pela frente. 

Tenho colhido muita felicidade na nossa relação, crescimento. Estou, certamente, na fase em que experimento frutos bons da tua árvore. Recolho, cheiro, devolvo a quem é de direito. Sigo. Quero aproveitar, mas não me iludo, querida. Não me iludo achando que todos os sabores serão doces. Nada na vida é invariavelmente assim. 

Que no nosso caminho, intrínseco e inevitalmente conectado, possamos continuar esse diálogo que nem sempre é bom, mas  que a tua existência me dá a possibilidade de trazer à tona. De colocar na mesa. De lutar por ele. 

Você é um símbolo, querida. Um depósito de esperança que eu preciso acreditar. 

E se não fizer sentido, o que faz? 

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