sábado, 10 de junho de 2023

Amanheci lendo Ascenso (editar)

Quando a tempestade passa, ainda estou bambeada, ainda estou enjoada, ainda estou profundamente abalada, não pelos raios, mas pela minha indiferença ao quase ser tocada por eles.

As roupas, rasgadas, os farrapos que mal cobrem o corpo, aconpanham-me em um pequeno barco direcionado ao Marco Zero.

Eu respiro o ar conhecido, é noite, há fantasmas no ar, há contos de assombrações que me contaram poetas da noite.

Eu mesma, uma aparição vindo sabe-se-lá de onde, sou uma paisagem assombrada, branca como a lua, refletindo as últimas luzes quase apagadas da cidade. 

Há uma alvorada atrás de mim, eu sinto mais do que vejo. Ela empurra o barco e qualquer outro meio que me conduz. Meu próprio corpo, meus pés, dos iniciais aos últimos passos, acalorando a pele de arrepios constantes e não permitindo que o frio permaneça aqui. 

Os primeiros raios do dia, esses sim, alumiam minha visão, avermelhando, alaranjando, amarelando as construções queridas da cidade, os espaços que me abraçam mesmo quando não estou por perto, as saudades impregnadas nas paredes do tempo que passa, tão rápido, tão cortante, tão mordaz. Velozmente acelerando a vida e deixando coisas e coisas e coisas que não atingi a serem feitas, mas construindo coisas e coisas e coisas que nunca imaginei-me capaz de fazer. 


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