domingo, 5 de novembro de 2023

Uma saudade chamada xadrez (editar e melhorar o final pra sábado)


Eu me lembro daquela mesa de xadrez, naquele encontro de outra hora em que, vivo, você me ensinou os primeiros movimentos.

E eu me lembro de não ter apreendido sequer uma norma que conduz o jogo, mas de ter achado fascinante e de continuar achando fascinante mesmo agora.


E eu me lembro que era noite, uma viagem, uma cidade, Cidade das Flores, em que impensadamente você nos carregou pra conhecer.


Eu lembro da longa distância de lá até nossa casa, do medo nas curvas da Serra das Russas, do play do k7 no stereo do carro, de revezarmos Xuxa e Roberto Carlos, das cruzes depositadas nas beiras das estradas. 


Eu me lembro de ter sido embalada pela música, de cada pose pras fotos, de ter comido pizza à noite, de termos dormido todos no mesmo quarto e de um parque de nome estrangeiro, de um arquiteto holandês.


Da praça cheia de flores, dos canteiros enfeitando a avenida, das arvores altas, pinheiros tocando as nuvens, da saudade na partida e de ter torcido pra voltar.


Hoje, vivendo na cidade que me encantara e revisitando o local em que quase aprendi xadrez, não encontrei a mesa no hall de recepção da entrada.

Percorri os corretores, revivendo doces momentos fantasmas, as fotos antigas nos quadros emoldurando tempos que não voltam mais. Pisos decorados, bancos vazios, parques infantis sem gritos, janelas fechadas nas casas, um salão de jogos empoeirado no final de tudo. 

E a mesa. 

Gavetas ao redor, bispos, reis, rainhas, cavalos, torres e sorrisos fantasmas a esperar um lance. 

Desoladoramente vazia. 





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