quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Praia espacial (editar)

Depois de percorrer caminhos e distâncias estelares, ela finalmente pousa em um pequeno planeta.

Após horas intermináveis de verificação de tudo que envolve sobrevivência, pisa, com cautela, no que parece uma praia.


A paisagem litorânea e abandonada, as ondas batendo nas pedras e o som incomparável do oceano, incentivam-lhe a retirar o encorpado capacete.


Seus cabelos, pesados e desacostumados a movimentos de liberdade, dançam à primeira rajada de vento.


A astronauta inspira, enche os pulmões, prepara-se. 

No peito, o primeiro ar respirável que encontrou em suas andanças pelo espaço. Permite que ele more em seu corpo, como um reforço, um suplemento, um elixir, um amparo.

Em seguida, liberta.

As ausências, as saudades, os sonhos que deixou pra trás. 

Liberta a culpa, os desalentos, os arrependimentos, o pesar. Os caminhos que não seguiu, a vida que não permitiu, os momentos que não teve. E aqueles que nunca terá. 


E a cada entrada e saída do ar no corpo, em cada movimento de respiração e inspiração, naquele ciclo natural e fisiológico, nas idas e vindas, na permissão e negação, na chegada e na partida, nos caminhos e nos desvios, ela revive sua trajetória, assimila suas escolhas, reverencia com respeito as direções que a trouxera ali, olha ao seu redor e no meio do caminho entre um pequeno sorriso e uma diminuta lágrima, compreende. 


A astronauta enxuga os olhos e caminha até o oceano. 

Retira no que parece um bolso em seu cinzento traje um objeto longilíneo que deposita no mar.

Enquanto espera, fotografa na mente a paisagem e o movimento das ondas daquela pequena praia do espaço. Com um bipe, o objeto retorna. Há uma mensagem piscando na tela:


“Potencialmente mergulhável. Pode entrar”. 

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