quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

E se os meus sorrisos não tivessem escondido minhas lágrimas?

Mais uma vez ele chega de surpresa.

O interfone toca, não estou preparada, mas me animo, me arrumo, corro ao seu encontro.

Ele havia feito uma promessa de jamais subir no apartamento que eu morava outra vez. E ele era sério com as promessas. Então, encostava o carro numa garagem desocupada de outro alguém e me esperava no hall de entrada. Carregado de sacolas.

Geralmente havia chegado do interior. Ou ganhara ou colhera de suas próprias terras jerimuns, cocos, manga, feijão verde. Também trazia-me revistas que tinha comprado para ele (não me enganava) e achava que eu deveria ler. Superinteressante e outras que misturavam ciência, curiosidade e arte e alguns gibis (eu herdara seus gostos). Mal sabia ele que parte do dinheiro do estágio que eu ganhava, gastava assinando aquelas mesmas revistas, mas eu nunca o contava. Nunca queria estragar o momento.

Dessa vez, ele me fez outras promessas. Eram grandes promessas. De viagens pro Oriente, pra Terra Santa (ele era religioso, graduou-se em teologia). Eu sorria e acreditava. Acho que em algum ponto eu acreditava de verdade, mas sempre me perguntei que se minha imaturidade não tivesse atrapalhado, teríamos tido outra conversa:

Pai, eu não gosto de jerimuns. E nem de feijão verde. Eu já assinei essas revistas com o pouco dinheiro do estágio que eu ganho porque não posso esperar que uma vez ao ano você as traga para mim. Eu também não quero ir pra Terra Santa. Não sou religiosa, nem rezo mais. Eu queria voltar a ir pro Parque Dois Irmãos contigo. Eu queria ir pro cinema ou dá uma volta de carro. Que tal ficarmos só aqui conversando? Ou irmos comer uma pizza perto? Por que você volta tão rápido se demora tanto pra vim? Por que você demora? 

Seria um diálogo longo e provavelmente incomodativo. Talvez ficaríamos tristes, talvez discutiríamos. Então eu aceitava. Aceitava o amor que ele me dava naqueles momentos, mesmo sabendo que não era suficiente. Até que eu resolvi deixar de amá-lo de volta para não sofrer mais. 

Até que eu parei de esperar.

Até que ele parou de vim.

Até o fim ter colocado um ponto final nisso tudo.

E me fazer continuar questionando se não poderíamos ter tido mais. 

Nenhum comentário: