quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Quando vi, era Bukowski

Respirei, nem tive muito tempo de respirar de novo, corri e encontrei, na rua, enquanto dava a última volta ansiosa na chave da porta de casa, o carteiro que passava e se dirigia a mim. Notei, não sei como, o pequeno rangido na bicicleta que ele dirigia e que certamente se perderia dali a uns 15 minutos diante do barulho catastrófico da cidade acordando, o que provavelmente também aconteceria com o sorriso que me lançava e que devolvi (resistente na ida, resignado na volta e provavelmente destruído no fim).

Respondi seu “bom dia”, desejando que realmente assim o fosse e retirei da bolsa o misto-quente de pão dormido que não tive tempo de esquentar e nem saborear, porque devorei antes de sentir o gosto na boca.


Enquanto andava, passos largos, grandes, algumas primeiras janelas acendiam, porque ainda não era claro o suficiente pra ser manhã e nem escuro suficiente pra ser de noite e só a eletricidade resolvia aquele tipo de problema, compreendendo, atendendo e entendendo quase todas as faltas da cidade. As que eu não entendia, compreendia, mas atendia.

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