quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

É noite noir.

"Quase sempre nos meus sonhos, eu me vejo assassinado".

Não é problema, calma. Dentro do meu próprio sonho fico satisfeito por estar sonhando um thriller

Retiro o casaco - que não serve pra nada quando se vive nos trópicos e, com ums mistura de costume e deferência que sempre guardo pra esses momentos, me aproximo da cena onde, também, sou o personagem principal. 

Olhando pra mim mesmo, de perto, vejo que meus olhos fechados me caem um pouquinho melhor do que abertos e que, a despeito do buraco no corpo por onde o sangue continua jorrando (talvez quem me assassinou ainda esteja por perto), sinto uma tranquilidade contraditória enquanto questiono o meu ensandecido autocontrole, minha consciência me pedindo pra gritar e chorar, porque obviamente é o que deveria estar sendo feito. De costume, não faço o que deveria estar sendo feito. 

Viro as costas pro meu corpo morto e me aproximo da janela, onde todo o meu pensamento se direciona pra chuva fina que acabou de começar e que não dá indícios algum de término ou mudança de tempo. Ou de temporal. A chuva dos meus sonhos. 

Assim, continua. Lavando a rua, a noite, trazendo a falsa impressão de diminuição no calor, fazendo com que os pessimistas procurem abrigo, enquanto os otimistas, longe disso, continuam circulando, achando que logo vai passar. Meio vivo, meio morto, nem um e nem outro, nunca penso no que vai acontecer a seguir. Continuo observando os pingos que batem na janela, as pequenas poças que se formam no chão das ruas, o esvaziamento do tráfego de pessoas (pessimistas? existencialistas?), satisfeito por ter trazido o chapéu e vestido o casaco. Me ajudarão a enfrentar o tempo.


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